Quantcast
Channel: doutrina profunda – Vozes Mórmons
Viewing all 183 articles
Browse latest View live

RESSUSCITA-ME

$
0
0

Novamente, hoje a maioria dos brasileiros estão em casa descansando, viajando, jongando futebol, etc…. Estão, de alguma forma, usufruindo de mais um feriado no País “campeão universal dos feriados” (rsrs), gerando um prejuízo em 2013 estimado em R$ 42,2 bilhões ao setor industrial!

Neste dia, no feriado de Corpus Christi, o mundo católico comemora o corpo e sangue de Cristo por nós ofertado. E dois meses atrás, houve a comemoração da Páscoa.

Falando da Páscoa então, ainda posso recordar de nossa comemoração no Domingo de Páscoa, e a consequente degustação de chocolates, em suas mais variadas formas… (rsrs)

Ovo de Páscoa de Chocolate

Ovo de Páscoa de Chocolate

chocolate, por si só, já traz sensações muitíssimo agradáveis e, quando consumido moderamente, outros benefícios igualmente, tais como “[fazer] bem à saúde do coração, do sangue e até da cabeça, (…) prevenir o envelhecimento, reduzir o colesterol ruim e a melhorar o bom humor (…), [e também] estimular o cérebro a produzir a serotonina, (…)  molécula responsável pela sensação de bem-estar e felicidade”; no entanto, percebemos que, unidos em família, um sentimento de Real Felicidade, muito maior e um tanto mais complexo de descrever (Gálatas 5:22-23), começou a inundar nossos sentidos, a partir do momento que iniciamos uma saudável discussão sobre a essência da profunda mensagem trazida pela verdadeira Páscoa, a Ceia do Senhor e a Mensagem revigorante da Expiação e da subsequente Ressurreição de Cristo e de toda a humanidade.

Assim, a “comemoração” do corpo e sangue de Cristo, lembrando seu sacrifício, e da Ressurreição Dele na Páscoa, estão intrinsecamente ligados.

DISTORÇÃO DA MENSAGEM

Infelizmente, qualquer indivíduo em sã consciência, já deve ter notado a triste realidade de muitos adultos já terem se esquecido do importante propósito desta comemoração, e diversas crianças nem ao menos aprenderam. Todos estes, conscientes ou não, anestesiados pela força da mídia, que mascara através do consumismo desenfreado, materialismo e gula, a sensível e necessária mensagem principal do Cristianismo. Na troca de presentes, é comum, distanciarmo-nos do verdadeiro sentimento que deveria reinar nestes sagrados momentos na Páscoa, por vezes, desperdiçados.

Daí, a reconhecida distorção doutrinária de que uma festa seria mais importante que a retidão para renovar-se no sacramento (I Coríntios 11:27), e de que se esbaldar em chocolates, é mais importante que Conhecer a Cristo e a virtude da sua ressurreição! (Filipenses 3:10)

INTRODUÇÃO

Pretendo neste breve e modesto ensaio, dissertar sobre a Páscoa e sobre o Sacramento, mais precisamente a mensagem da Ressurreição, e a consequente esperança renovada que ganhamos quando compreendemos e vivemos estas verdades. “Nosso testemunho dessa verdade gloriosa pode afastar a dor da perda de um familiar ou amigo querido e substituí-la por uma alegre expectativa e uma firme determinação. (…) [por conta de nosso futuro] reencontro com nosso entes queridos santificados e ressuscitados.” (Henry B. Eyring - A Liahona ABR/2013)

Baseado nesta verdade consoladora, o líder SUD Joseph Smith comenta: “Que grande consolo para os que choram ao ter que separar-se de um marido, esposa, pai, mãe, filho ou parente querido é saber que, embora o tabernáculo terreno seja sepultado e dissolvido, eles ressuscitarão para habitar no brilho eterno da glória imortal, e que nunca mais haverão de entristecer-se, sofrer ou morrer, mas serão herdeiros de Deus e coerdeiros de Jesus Cristo.” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, pag. 56)

A medida que continuamente avançamos no entendimento da verdadeira Páscoa, proporcionalmente fardos difíceis de carregar conquistam o tão esperado alívio, na esperança da total aniquilação de dores intermináveis, de doenças que frequentemente nos assolam e de diversas outras fragilidades e limitações do nosso corpo físico mortal; ademais, um consolo ímpar nos invade o peito, amenizando o vazio que saudosos entes queridos deixaram.

Roubados pela Morte, eu e muitos outros que por hora também já não convivem com muitos de seus amados familiares e amigos, nos consolamos na mensagem esperançosa de um futuro reencontro com estes. Tal mensagem nos chega como um bálsamo para a Alma, que cura a dor incessante da aparentemente infindável dor e saudade. Meu Pai (de criação)  falesceu enquanto eu proclamava o evangelho do Cristo Ressurreto no norte do País, pouco tempo depois que retornei desta honrosa missão, discurssei no funeral de meu primo (amigo de infância), que possivelmente depressivo, tirou a própria vida. No ano seguinte,  sepultei meu pai (de sangue) no meu aniversário, sem imaginar que meses mais tarde, no mesmo ano, na véspera do meu primeiro aniversário de casamento, seria igualmente pego de surpresa ao sepultar minha filha com poucos dias de vida. Como se não bastasse, no início do mês passado, minha grande amiga da adolescência foi vítima de assassino[s] brutais, tendo precocemente sua vida mortal interrompida, deixando pra trás um desolado marido e duas pequeníssimas crianças. O conhecimento consolador da Ressurreição torna-se particularmente necessária e ansiada, e ganha centuplicada intensidade, se permitirmos, diante das mais diversas e complexas situações, e igualmente nos prepara, pois, mais cêdo ou mais tarde, confrontaremos a dor, a doença ou morte, em nós ou nos que nos cercam, como parte da provação mortal.

O líder SUD John Taylor então nos lembra : “Que consolo para os que sofrem a perda dos amigos [e familiares] queridos que morreram é saber que voltaremos a ter sua companhia! Para todos os que vivem de acordo com os princípios revelados da verdade, talvez ainda mais para os que já estão no fim da vida, que já sofreram muito e perseveraram, como é bom saber que logo romperemos a barreira do túmulo e surgiremos vivos e imortais para gozar da companhia dos amigos [e familiares] fiéis em quem confiamos, sem ser perturbados pela morte  (…).” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: John Taylor, pag. 50-51)

Sim, “Nada há mais agradável do que estar nessa condição e ter nossa esposa e nossos filhos e amigos conosco.” (Lorenzo Snow,  Conf. Geral OUT/1900)

ENTENDENDO AS COMEMORAÇÕES (PÁSCOA E CORPUS CHRISTI)

O Cordeiro de Deus

O Cordeiro de Deus

Para entendermos melhor a importância da Ceia do Senhor e da Páscoa, comecemos explorando sua origem e breve significado.

feriado católico  comemorado hoje “[celebra] o Sacramento do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, um dos sacramentos da Eucaristia. A comemoração ocorre após a Festa da Santíssima Trindade, sempre em uma quinta-feira, em alusão à Quinta-feira Santa, quando se deu a instituição deste sacramento. A data também pode ser calculada pelo domingo de Páscoa, já que é realizada 60 dias depois. A celebração do Corpus Christi teve origem no século 13, mais precisamente em 1243, em Liège, na Bélgica, quando a freira Juliana de Cornion teria tido visões de Jesus Cristo que apontava não haver festas para honrar esse sacramento. A Bíblia diz que durante a última ceia de Jesus com seus apóstolos, ele teria mandado que celebrassem sua lembrança comendo o pão e bebendo o vinho, que se transformariam em seu corpo e em seu sangue. “Através da Santíssima Eucaristia, Jesus nos mostra que está presente ao nosso lado, e se faz alimento para nos dar força para continuar. Jesus nos comunica seu amor e se entrega por nós”, lembra Dom Orani João Tempesta, arcebispo metropolitano do Rio de Janeiro, em comunicado oficial da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil aos fiéis. E foi a partir da visão e da cobrança de Jesus, que a freira belga lutou para que houvesse um reconhecimento da data, que mais tarde ficou conhecida como Corpus Christi, quando, em 1264, o papa Urbano 4º consagrou a festa para toda a Igreja a partir da Bula Papal “Trasnsiturus de hoc mundo”.

Com o devido respeito à interpretação católica quanto ao convite de Cristo de “celebrarmos” o corpo e o sangue Dele, a doutrina mórmom entendem que esta “comemoração” não se dá numa festa, mas sim na grata comunhão no seu dia santificado participando dos emblemas do sacramento. (Atos 20:7) No entanto, partilhamos do mesmo entendimento de que participar da Ceia do Senhor, e também nos lembrar da Ressurreição de Cristo, “nos dá força para continuar” e seguir adiante, rumo ao progresso contínuo, e igualmente a cura de muitas feridas emocionais e espirituais!

Ademais, pensamos também diferente quanto a dita doutrina católica da transubstanciação, que interpreta literalmente João 6:53-57, e declara, segundo o Concílio de Trento,  que: “Por ter Cristo, nosso Redentor, dito que aquilo que oferecia sob a espécie do pão era verdadeiramente seu Corpo, sempre se teve na Igreja esta convicção, que o santo Concílio declara novamente: pela consagração do pão e do vinho opera-se a mudança de toda a substância do pão na substância do Corpo de Cristo Nosso Senhor e de toda a substância do vinho na substância do seu Sangue; esta mudança, a Igreja Católica denominou-a com acerto e exatidão Transubstanciação.” Nós, entendemos, como a maioria dos demais grupos religiosos, que a Ceia do Senhor é um memorial ao corpo e sangue de Cristo (Lucas 22:19; I Coríntios 11:24-25), não o verdadeiro ato de consumir Seu corpo físico e sangue.

Quanto a Páscoa, lemos a pedagoga Jussara de Barros, da Equipe Brasil Escola, explicar que “é uma festividade de data móvel, pois foi criada seguindo o calendário judeu, que por sua vez era baseado nas fases da Lua.  (…) Sempre acontece entre os dias 22/MAR e 25/ABR.”

“A festa da páscoa judaica foi instituída para ajudar os filhos de Israel a se lembrarem da época em que o anjo destruidor passou por suas casas sem levar seus filhos e libertou-os dos egípcios (Êx. 12:21–28; 13:14–15). Os cordeiros sem mancha, cujo sangue foi usado como sinal para salvar a Israel antiga, eram um símbolo de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, cujo sacrifício redimiu toda a humanidade. (…) [Tornou-se] nossa páscoa, que é Cristo, que já foi sacrificado por nós (I Cor. 5:7).” (GEE Páscoa) “A Páscoa é um feriado cristão que comemora a Ressurreição de Jesus Cristo. Depois que Cristo morreu na cruz, Seu corpo foi colocado em um sepulcro, onde permaneceu separado [por três dias] de Seu espírito até Sua Ressurreição, quando Seu espírito e Seu corpo foram reunidos. Os santos dos últimos dias afirmam e testificam que Jesus Cristo ressuscitou e vive hoje com um corpo glorificado e aperfeiçoado de carne e ossos.” (Encyclopedia of Mormonism [1992], 2:433)

A importância da Expiação de Jesus Cristo foi resumida por Joseph Smith: “Os princípios fundamentais de nossa religião são o testemunho dos Apóstolos e Profetas a respeito de Jesus Cristo, que Ele morreu, foi sepultado, ressuscitou no terceiro dia e ascendeu ao céu; todas as outras coisas de nossa religião são meros apêndices disso.” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, pag. 52-53)

Diante disto, é certo que devemos criar tradições de Páscoa centradas em Cristo (A Liahona MAR/2013) a cada ano, daí, “algumas famílias SUD incluem ovos e coelhos de Páscoa em sua festa para a alegria das crianças. Essas tradições não são desencorajadas oficialmente”, no entanto, “a Expiação de Jesus Cristo, que inclui a Ressurreição, é a própria essência da Páscoa. A criação de tradições centradas em Cristo nos ajudará a concentrar-nos nessas dádivas de nosso Salvador.”

Igualmente devemos nos preparar a cada semana para o Dia Santo, no Sacramento ou Ceia do Senhor, através de uma vida cada vez mais reta, otimizada pela renovação dos votos que conhecemos como convênios, pois “ao partilharmos do sacramento e guardarmos nossos convênios, podemos ser perdoados de nossos pecados (Mateus 26:24). Devemos (…) partilhar do sacramento com o coração puro.”

ALGUMAS EVIDÊNCIAS DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO

Falamos bastante da semana da Páscoa, tanto da quinta-feira na Ceia do Senhor, quanto do domingo seguinte na Ressurreição de Cristo, que foi o ápice da verdadeira páscoa que tornou o dia santificado (O Sabbath Cristão) e coroou a Expiação. Nos atentaremos agora especialmente na Ressurreição…

O apóstolo Paulo ousadamente afirma: “E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé. (…) Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos (…)”! (I Coríntios 15:13-14,20)

O Doutor James E. Talmage, professor, geólogo, engenheiro, cientista e Líder SUD, referiu-se à ressurreição de Cristo como “o maior milagre e o mais glorioso fato da história”. (Jesus, o Cristo – pag. 676)

Embora eu entenda que o conhecimento da Ressurreição seja mais uma questão espiritual (uma experiência mística pessoal), algumas evidências e inteligentes comentários podem e são discorridos, e ajudam muito na elucidação do tema, pois o “argumento racional não cria crença, mas ele mantém um ambiente em que a fé possa florescer.” (Austin Farrer em C. S. Lewis)

Gerd Lüdemann (estudioso Alemão nomeado 1983 para a presidência em Estudos do Novo Testamento na Faculdade de Teologia da Universidade de Göttingen)

Gerd Lüdemann (estudioso Alemão nomeado 1983 para a presidência em estudos do Novo Testamento na Faculdade de Teologia da Universidade de Göttingen) [What Really Happened to Jesus?, trans. John Bowden (Louisville, Kent.: Westminster John Knox Press, 1995), p. 8.]

Alguns críticos apontam o contrário, e tentam deturpar a veracidade da ressurreição, porém nós todos sabemos que “quando um velho e renomado cientista afirma que alguma coisa é possível, ele está quase sempre correto. Quando afirma que algo é impossível, ele está quase sempre errado.” (Arthur C. Clarke [Escritor e Inventor Britânico] - Revista Súper Interessante OUT/1996) Muitos dos críticos apenas procuram algo pra contrariar, mas ”quem alega e não prova não alegou, alegação sem prova transforma-se em uma denúncia vazia.” (Paulo Henrique Teixeira – Publicado no DOU-20/07/2004), embora esta mesma afirmativa possa ser usada contra nós que defendemos a ressurreição, noutro extremo, também pode ser argumentado que “ausência de prova não é prova de ausência.” (Hugh Nibley)

Vejamos então alguns dizeres interessantes de advogados, médicos, eruditos, estudiosos e historiadores, que reforçam a possibilidade e a consequente realidade da marcante e milagrosa Ressurreição de Cristo.

Wilbur Smith, notável erudito e mestre, observa: “O significado da ressurreição é um assunto teológico, mas o fato da ressurreição é um assunto histórico; a natureza da ressurreição do corpo de Cristo pode ser um mistério, mas o fato de que o corpo desapareceu do túmulo é um assunto para ser decidido sobre uma evidência histórica. O lugar possui uma definição geográfica, o homem a quem pertencia o túmulo era um homem que vivia na primeira metade do século primeiro; o túmulo era feito de pedra e ficava ao lado de uma colina próximo a Jerusalém. Não era nenhum invento diferente envolto numa atmosfera mitológica decorado com tecidos finos, mas era algo que tinha significância geográfica. Os guardas colocados diante do túmulo não eram seres fictícios do Monte Olimpo; o Sinédrio era um corpo de homens que se encontravam freqüentemente em Jerusalém. Como uma vasta literatura nos fala, esta pessoa, Jesus, era uma pessoa vivente, um homem entre outros homens, e os discípulos que saíram para pregar o Senhor ressuscitado eram homens entre homens, homens que se alimentaram, beberam, dormiram, sofreram, trabalharam e morreram. Que tem isto de doutrina? Este é um problema histórico.” (Smith, Wilbur M. Therefore Stand: Christian Apologetics. Grand Rapids: Baker Book House, 1965 – pag. 386)

Ele também diz: “A ressurreição de Cristo é exatamente a fortaleza da fé Cristã. Esta é a doutrina que virou o mundo de cabeça para baixo no primeiro século, que ascendeu o Cristianismo sobre o Judaísmo e sobre as religiões pagãs do mundo mediterrâneo. Se isto se perder, então tudo o mais que é vital e singular no Evangelho do Senhor Jesus Cristo se perderá: ‘E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé’ (I Cor. 15:17).”

O teólogo R. C. Sproul colocou isso nos seguintes termos: “A veracidade da ressurreição é vital para o Cristianismo.  Se Cristo foi erguido dos mortos por Deus, então Ele detém as credenciais e a certificação que nenhum outro líder religioso possui. Buda está morto. Maomé está morto. Moisés está morto. Confúcio está morto. Mas, de acordo com… o Cristianismo, Cristo vive.” (R. C. Sproul, Reason to Believe [Grand Rapids, MI: Lamplighter, 1982], 44)

O professor Thomas Amold, apontado como candidato para o lugar de presidente da cadeira de História Moderna de Oxford e que estava bem a par do valor da evidência para determinar fatos históricos, disse: “Eu estou acostumado a estudar as histórias de outros tempos durante muitos anos, e a examinar e avaliar a evidência dos que têm escrito acerca delas, e não conheço nenhum fato da História humana que seja comprovado por melhor e mais completa evidência do que o grande sinal que Deus nos deu de que Cristo morreu e ressuscitou dos mortos.”

O escritor romano não-cristão Flegon (nasc. 80 d.C.) escreveu em suas Crônicas: “Jesus, enquanto vivo, não foi de qualquer ajuda para si mesmo, mas, quando ressuscitou depois da morte, exibiu as marcas de sua punição, e mostrou de que maneira suas mãos foram perfuradas pelos pregos.” (Quoted in J. P. Moreland interview, Lee Strobel, The Case for Christ [Grand Rapids, MI: Zondervan, 1998], 246)

Brooke Foss Westcott, pensador inglês, falou: “Juntando toda a evidência, não é demais dizer que não há fato histórico melhor e mais extensamente apoiado do que a Ressurreição de Cristo. Nada, a não ser uma pressuposição de que a Ressurreição tem de ser falsa, podia ter sugerido a idéia de deficiência na sua comprovação.”

Josh McDowell, apologista e escritor, fez a seguinte declaração a respeito da importância da ressurreição: “Cheguei à conclusão de que, de duas uma, ou a ressurreição de Jesus é um dos embustes mais mal-intencionado, cruel e desumano jamais impostos às mentes humanas OU é o fato mais fantástico da história.” (Josh McDowell, The New Evidence That Demands a Verdict [San Bernardino, CA: Here’s Life, 1999], 203)

O historiador judeu Flávio Josefo escreveu sobre Jesus e Sua Ressurreição (“Antiguidades Judaicas” – 18,3,3 parágrafos 63 e 64, Aprox. ano 95 dC), existem, porém, duas versões sobre o mesmo trecho, conhecida também como Testimonium Flavianum, uma mais antiga, em língua grega, que testemunha a messianidade de Jesus, e uma tradução árabe que omite tal afirmativa, no entanto, ambas as versões nos são válidas como embasamento.
Texto Grego: “Naquela época vivia Jesus, homem sábio, se é que o podemos chamar de homem. Ele realizava obras extraordinárias, ensinava aqueles que recebiam a verdade com alegria e fez-se seguir por muitos judeus e gregos. Ele era o Cristo. E quando Pilatos o condenou à cruz, por denúncia dos maiorais da nossa nação, aqueles que o amaram antes continuaram a manter a afeição por ele. Assim, ao terceiro dia, ele apareceu novamente vivo para eles, conforme fora anunciado pelos divinos profetas e, a seu respeito, muitas coisas maravilhosas aconteceram. Até a presente data subsiste o grupo dos cristãos, assim denominado por causa dele.”
Texto Árabe: “Naquela época vivia Jesus, homem sábio, de excelente conduta e virtude reconhecida. Muitos judeus e homens de outras nações converteram-se em seus discípulos. Pilatos ordenou que fosse crucificado e morto, mas aqueles que foram seus discípulos não voltaram atrás e afirmaram que ele lhes havia aparecido três dias após sua crucificação: estava vivo. Talvez ele fosse o Messias sobre o qual os profetas anunciaram coisas maravilhosas.”

O Dr. Paul L. Maier, professor de História Antiga na Universidade de Western Michigan, conclui: “Se toda a evidência é verificada cuidadosamente e com justiça, é realmente justificável, de acordo com os padrões da pesquisa histórica, conclui que o túmulo no qual Jesus foi sepultado estava realmente vazio na manhã da primeira Páscoa. E nenhum sinal de evidência apareceu ainda, nas fontes literárias, epigrafia ou arqueologia, que pudesse negar esta afirmação.”

O erudito bíblico britânico Michael Green comentou: “As aparições de Jesus são tão autenticadas como qualquer evento da antiguidade. … Não há nenhuma dúvida razoável de que elas ocorreram.” (Michael Green, The Empty Cross of Jesus [Downers Grove, IL: InterVarsity, 1984], 97, quoted in John Ankerberg and John Weldon, Knowing the Truth about the Resurrection [Eugene, OR: Harvest House] 22)

A respeito da abnegada dedicação dos Apóstolos, Setentas e dos demais comprometidos Missionários e Conversos da Igreja Primitiva, seguem também alguns comentários que são de muita valia:

N. T. Wright, um eminente estudioso britânico, cita a real motivação destes homens e mulheres fiéis: “Esta é a razão porque, como um historiador, eu não consigo explicar o surgimento do cristianismo primitivo a não ser por Jesus ressuscitando, deixando uma tumba vazia para trás.” (N. T. Wright, “The New Unimproved Jesus”, Christianity Today [September 13, 1993], pag. 26.)

Pinchas Lapide, que foi um teólogo, escritor judeu e historiador, disse: “Eu entendo [com base em minhas pesquisas] que a Ressurreição não foi uma invenção da comunidade de discípulos, mas um evento real. (…) Quando que um bando de temerosos Apóstolos poderia repentinamente se transformar numa só noite numa confidente sociedade missionária? (…) Nenhuma visão ou alucinação poderia explicar uma transformação tão revolucionária.” 

O jornalista inglês Dr. Frank Morison pensou inicialmente que a ressurreição era um mito ou um embuste, e iniciou a sua pesquisa para escrever um livro que a refutasse, porém, teve que reconhecer: “Quem quer que pense neste assunto acabará por confrontar-se com um fato que não pode ter explicação fácil. … Esse fato é que… uma profunda convicção atingiu esse pequeno grupo de pessoas—uma alteração que atesta o fato de Jesus ter-Se levantado do túmulo.” (Frank Morison, Who Moved the Stone? (Grand Rapids, MI: Lamplighter, 1958), 104)

J. N. D. Anderson, acadêmico especializado na língua e cultura árabe, escreveu: “Pense no absurdo psicológico de imaginar um pequeno bando de covardes derrotados, num sótão, em um dia e, poucos dias depois, transformados numa companhia que nenhuma perseguição podia silenciar—e depois tente atribuir essa mudança dramática a uma mera farsa elaborada nada convincente.  … Isso não faz nenhum sentido.” (J. N. D. Anderson, “The Resurrection of Jesus Christ,” Christianity Today, 12. April, 1968)

Simon Greenleaf, um professor de Direito na Universidade de Harvard, escreveu: “As grandes verdades que os apóstolos declararam eram que Cristo tinha ressuscitado dos mortos, e que só através do arrependimento do pecado, e fé em Jesus, os homens poderiam obter a salvação. Esta é a doutrina que eles afirmavam com uma só voz, em todos os lugares, não apenas sob condições de desalento, mas ante os mais assustadores erros que se podem apresentar à mente do homem. O Mestre desses homens acabava de morrer como um malfeitor, pela sentença de um tribunal público. Sua religião procurava derrotar as religiões do mundo inteiro. As leis de cada país estavam contra os ensinamentos de Seus discípulos. Os interesses e as paixões de todos os governantes e grandes homens no mundo estavam contra eles. O costume do mundo estava contra eles. Propagando esta nova fé, mesmo que da maneira mais inofensiva e pacífica, eles não podiam esperar coisa alguma a não ser desprezo, oposição, insultos, perseguições amargas, açoites, aprisionamentos, tormentas e mortes cruéis. Ainda assim, eles propagaram zelosamente a fé que tinham, suportaram firmes todas estas misérias e, não somente isto, eles o fizeram com júbilo. Foram expostos a mortes miseráveis um após o outro, contudo os sobreviventes prosseguiram a obra com maior vigor e determinação. Poucas vezes os anais de combates militares fornecem tal exemplo de persistência heróica, paciência e indescritível coragem [e comprometimento (grifo meu)]. Eles tinham todas as razões possíveis para reverem cuidadosamente os fundamentos da fé que professavam e as evidências dos grandes fatos e verdades que afirmavam; e estas razões os oprimiam com tristeza e freqüência terrível. Por isso era impossível que eles persistissem em afirmar as verdades que narravam, se Jesus não tivesse realmente ressuscitado dos mortos. Sem sombra de dúvida eles sabiam o que tinha acontecido.” (Greenleaf, Simon. Testimony of the Evangelists, Examined by the Rules of Evidence Administered in Courts of Justice. Grand Rapids: Baker Book House, 1965 (reprinted from 1847 edition)

Ele também diz: “Se existe um número suficiente de pessoas vivas quando as informações sobre um evento são publicadas e tais pessoas ou são testemunhas de um evento ou participaram dele, certamente pode-se estabelecer com bastante precisão a validade deste evento secular.”

O Corpo de Jesus

Jesus teria fugido vivo? Seu corpo teria sido roubado? Para ambas perguntas, a resposta é um sonoro NÃO!

Divulgada por Venturini há vários séculos e bastante mencionada nos dias de hoje, existe uma teoria que diz que Jesus, na realidade, não teria morrido, ele teria simplesmente desmaiado devido ao cansaço e à perda de sangue. Todos teriam julgado equivocadamente que Ele estava morto e, quando reanimado, os discípulos pensaram que tinha ressuscitado. O cético David Friedrich Strauss, teólogo alemão e escritor, não crendo ele próprio na ressurreição, eliminou qualquer pensamento de que Jesus se tenha reanimado de uma morte aparente: “É impossível que um ser humano, roubado meio morto de um sepulcro, que se arrastava fraco e doente, necessitado de tratamento médico, de ligaduras, apoio, ajuda, e que por fim cedeu aos seus sofrimentos, pudesse ter dado aos seus discípulos a impressão de que era um Conquistador sobre a morte, o Príncipe da vida; impressão que permanece na base do seu futuro ministério. Tal reanimação, só poderia ter enfraquecido a impressão que Ele lhes tinha provocado tanto em vida, como na morte. No máximo, só lhes poderia ter dado uma voz saudosa, mas não poderia ter transformado a sua tristeza em entusiasmo, nem a sua reverência em adoração”.

Com certeza Jesus morreu crucificado, como também alega o médico William D. Edwards: “É inegável que o peso das provas históricas e médicas indicam que Jesus morreu. … A lança, atravessada entre as Suas costelas do lado direito, perfuraram provavelmente não apenas o pulmão direito, como também o pericárdio e o coração, assegurando a Sua morte.” (William D. Edwards, M.D., et al., “On the Physical Death of Jesus Christ,” Journal of the American Medical Association 255:11, March 21, 1986.)

Sobre a possibilidade de roubo do corpo de Jesus por parte dos Apóstolos, J. N. D. Anderson, já citado e que também tem sido o Deão da Faculdade de Direito da Universidade de Londres, Presidente do Departamento de Direito Oriental na Escola de Estudos Orientais e Africanos e Diretor do Instituto dos Estudos Legais Avançados, na Universidade de Londres, comentando sobre o propósito dos discípulos terem roubado o corpo de Cristo, afirma: “Isto iria totalmente contra tudo aquilo que sabemos sobre eles; os seus ensinamentos éticos, a qualidade das suas vidas, sua atitude perante o sofrimento e a perseguição. Nem isto explicaria a dramática transformação de desprezados e desanimados fugitivos em testemunhas a quem nenhuma oposição podia calar.”

O Dr. John Warwick Montgomery, um advogado, professor e teólogo luterano, explica: “No ano 56 d.C. [o apóstolo Paulo escreveu que mais de 500 pessoas viram Jesus ressuscitado, e que a maioria deles ainda vivia naquele tempo (1 Coríntios 15:6 em diante). Ultrapassa os limites do bom senso que os primitivos Cristãos pudessem ter fabricado tamanha história e depois a pregado entre aqueles que facilmente a refutariam, simplesmente encenando o corpo de Jesus.” (John W. Montgomery, History and Christianity ] Downers Grove, ILL: InterVarsity Press, 1971\78)

Tom Anderson, ex-presidente da Associação de Advogados da Califórnia, resume a força desse argumento: “Com um evento tão difundido, não seria razoável que um historiador, uma testemunha ou um antagonista tivessem registrado para todos os tempos que tinham visto o corpo de Cristo? … O silêncio da história é ensurdecedor quando alguém tenta testemunhar contra a ressurreição.” (Quoted in Josh McDowell, The Resurrection Factor [San Bernardino, CA: Here’s Life, 1981], 66)

Josh McDowell, um apologista americano e escritor cristão evangélico, argumenta: “O silêncio dos Judeus fala mais alto do que a voz dos Cristãos.”

Cristo e Maria Madalena

Cristo e Maria Madalena

O fato de Cristo ter aparecido primeiro ás mulheres, tem muitos significados interessantes, e um deles bem explica o Dr. William Lane Craig, teólogo e filósofo americano: “Quando se entende o papel da mulher na sociedade judaica do primeiro século, o que é realmente extraordinário é que a história do túmulo vazio retratou mulheres como as primeiras descobridoras do túmulo vazio. As mulheres estavam muito abaixo na escada social da Palestina do primeiro século. Há provérbios rabínicos antigos que dizem: ‘Que as palavras da Lei sejam queimadas antes de serem entregues às mulheres’ e ‘feliz é aquele cujos filhos são homens, mas desgraça daquele cujos filhos são mulheres’. O testemunho de mulheres era considerado tão sem valor que não podiam nem servir como testemunhas legais em uma corte judicial judaica. Levando isso em consideração, é absolutamente impressionante que as principais testemunhas do túmulo vazio fossem essas mulheres…. Qualquer registro legendário mais recente com certeza teria retratado discípulos masculinos como os descobridores do túmulo – Pedro ou João, por exemplo. O fato de que mulheres foram as primeiras testemunhas do túmulo vazio é mais bem explicado pela realidade de que – goste ou não – elas foram as descobridoras do túmulo vazio! Isso mostra que os autores dos Evangelhos gravaram fielmente o que aconteceu, apesar de ser embaraçoso. Isso evidencia a historicidade dessa tradição ao invés de sua posição social legendária.” (Dr. William Lane Craig, citado por Lee Strobel, The Case For Christ, Grand Rapids: Zondervan, 1998, p. 293)

Muito mais evidências são largamente encontradas em simples pesquisas, por isto, acredito, que as citadas acima já nos são válidas, por hora, para o objetivo deste artigo.

APRENDENDO COM TOMÉ

Gordon B. Hinckley disse: “Já ouvistes outros falarem como Tomé? ‘Dá-nos’, dizem eles, ‘uma evidência prática. Provai diante dos nossos olhos, nossos ouvidos e nossas mãos, do contrário não creremos’. Esta é a linguagem da época em que vivemos. Tomé, o duvidoso, tornou-se o exemplo de homens em todas as eras que se recusam a aceitar qualquer coisa que não possam provar e explicar fisicamente — como se pudessem provar amor, fé ou qualquer outro fenômeno físico, como a eletricidade. (…) A todos que me ouvem, e que ainda têm dúvidas, eu repito as palavras ditas a Tomé, ao sentir as mãos feridas do Salvador: ‘Não sejas incrédulo, mas crente’”. (A Liahona, outubro de 1978, p. 101.)

Gordon B. Hinckley disse: “Já ouvistes outros falarem como Tomé? ‘Dá-nos’, dizem eles, ‘uma evidência prática. Provai diante dos nossos olhos, nossos ouvidos e nossas mãos, do contrário não creremos’. Esta é a linguagem da época em que vivemos. Tomé, o duvidoso, tornou-se o exemplo de homens em todas as eras que se recusam a aceitar qualquer coisa que não possam provar e explicar fisicamente — como se pudessem provar amor, fé ou qualquer outro fenômeno físico, como a eletricidade. (…) A todos que me ouvem, e que ainda têm dúvidas, eu repito as palavras ditas a Tomé, ao sentir as mãos feridas do Salvador: ‘Não sejas incrédulo, mas crente’”. (A Liahona, outubro de 1978, p. 101.)

Agora comentemos sobre nossa similaridade com Tomé, conhecido por personificar a frase “Ver pra Crer”, pode se assemelhar a muitos de nós ao buscarmos tantas provas para “acreditar” em algo, que pra questões espirituais, a matemática é um tanto diferente, ou seja, é preciso “Crer pra Ver”, “porque não recebeis testemunho senão depois da prova de vossa fé”! (Éter 12:6)

Um editorial da revista Cética intitulado “O que é um cético?”, apresentou a seguinte definição: “Ceticismo é… a prevalência da razão sobre qualquer ideia, sem exceção à regra. Em outras palavras… os céticos não entram em uma investigação quando não há nenhuma possibilidade de que o fenômeno seja real e de que a crença seja verdadeira. Quando alegamos que somos “céticos”, queremos dizer que queremos ver evidência convincente antes de acreditarmos.” ([“What Is a Skeptic?” editorial in Skeptic, vol 11, no. 2] 5)

E garanto, a melhor evidência é a espiritual!

Como disse o Doutor Carlos E. Asay, Líder SUD, ao ensinar que a ressurreição de Cristo se trata de conhecimento espiritual: “‘Evidências infalíveis’ de assuntos espirituais, como as da ressurreição de Cristo, não são feitas pela mão; são sentidas no coração. Não são vistas a olho nu; são vistas pelos “olhos da fé”. (Éter 12:19.) Tampouco são estabelecidas pelo toque de um dedo. A realidade dos assuntos espirituais é confirmada por sentimentos despertados pelas palavras de Deus, faladas ou escritas. (Ver 1 Néfi 17:45.) Digo isso porque “o Espírito fala a verdade e não mente. Portanto, fala das coisas como realmente são e como realmente serão”. (Jacó 4:13.) O Espírito Santo lida com a realidade, não com acontecimentos fantasiosos. Lembrai-vos de que os dois discípulos que caminharam e conversaram com Cristo na estrada para Emaús não o reconheceram a princípio. Mais tarde, porém, “abriram-se-lhes então os olhos, e o conheceram”, quando refletiram: “Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as escrituras?” (Lucas 24:31-32.) Lembrai-vos também de que Jesus disse a Tomé: “Não sejas incrédulo, mas crente ( . . . ) Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram”. (João 20:27, 29.) Nossos “olhos da fé” serão também abertos e saberemos com certeza que Ele vive e que viveremos com Ele novamente, se crermos e aceitarmos o convite divino: “Anda comigo” (Ver Moisés 6:34.).” (Conferência Geral ABR/1994)

Então, por trata-se de um conhecimento espiritual em recompensa a fé, por ainda ser um tanto inexplicável ao entendimento humano, daí o nome de milagre. O líder SUD David O. Mckay assim ensinou sobre o milagroso fato da Ressurreição: “Se um milagre é um acontecimento sobrenatural cujas causas transcendem a sabedoria finita do homem, então a ressurreição de Jesus Cristo é o milagre mais espantoso de todos os tempos. Nele se revelam a onipotência de Deus e a imortalidade do homem. A ressurreição é um milagre. Contudo, é um milagre apenas no sentido de que está além da compreensão e do entendimento humanos. A todos os que a aceitam como fato, ela é apenas a manifestação de uma lei uniforme da vida. Como o homem não compreende a lei, chama-a de milagre.” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: David O. Mckay)

Com a devida sensibilidade espiritual, que não nega ou desmerece o pensamento racional, mas deve suplantá-lo, devemos considerar e consequentemente acreditar, pelo dom da fé nos testificadores (D&C 46:14), tanto antigos quanto modernos. Tendo esta verdade em mente, “Quem pode questionar as evidências desses fatos?”, questionou Gordon B. Hinckley, que continua: “Não existe registro de qualquer negação do testemunho das pessoas que tiveram essas experiências. Existem provas abundantes de que prestaram testemunho desses acontecimentos durante toda a vida, chegando a dar a própria vida para afirmar a veracidade das coisas que tinham visto. Suas palavras são claras e seu testemunho fiel. Milhões de homens e mulheres ao longo dos séculos aceitaram esse testemunho. Um número incontável de pessoas viveu e morreu afirmando sua veracidade, com a certeza que lhe fora concedida pelo poder do Espírito Santo e que não podia negar. Sem dúvida, nenhum outro acontecimento da história da humanidade foi tão amplamente testado quanto à sua veracidade. (…) De todas as vitórias na história humana, nenhuma é tão grande, nenhuma é tão universal em seus efeitos, nenhuma é tão duradoura em suas conseqüências como a vitória do Senhor crucificado, que surgiu na ressurreição naquela manhã de páscoa”. (Gordon B. Hinckley, Stand a Little Taller, Eagle Gate: 2001, p. 140).

Por exemplo, Pedro, umas dessas muitas testemunhas, explicou a uma multidão em Cesareia a razão de ele e os outros discípulos estarem tão convictos de que Jesus estava vivo: “E nós somos testemunhas de tudo o que ele fez na terra dos judeus e em Jerusalém, onde o mataram, suspendendo-o num madeiro. Deus, porém, o ressuscitou no terceiro dia e fez que ele fosse visto, não por todo o povo, mas por testemunhas que designara de antemão, por nós que comemos e bebemos com ele depois que ressuscitou dos mortos.” (Atos 10:39-41)

Podemos fazer como fez Thomas S. Monson, somando também a nós  o seu testemunho: “Li o testemunho daqueles que sentiram a angústia da crucificação de Cristo e a alegria de Sua Ressurreição, e acredito no depoimento deles. Li o testemunho das pessoas do Novo Mundo que foram visitadas pelo mesmo Senhor ressuscitado, e acredito nesse relato. (…) “Cristo é já ressuscitado” (…) Como uma das Suas testemunhas especiais na terra hoje, neste glorioso Domingo de páscoa, eu declaro que isto é verdadeiro, em seu sagrado nome, mesmo o nome de Jesus Cristo, nosso Salvador, amém.” (Conferência Geral – ABR/2010)

IMORTALIDADE UNIVERSAL

Por esta razão, seguramente afirmo “a realidade da ressurreição universal e liberal de toda a humanidade”, tal como David A. Bednar ensinou (Conf. Geral ABR/2013), independentemente das escolhas na mortalidade, tanto boas quanto más, todos ressuscitarão; no entanto, a condição glorificada desta ressurreição, é proporcional ás suas obras. “Como Jesus Cristo rompeu as cadeias da morte, todos os filhos do Pai Celestial que nasceram no mundo ressuscitarão com um corpo que jamais morrerá. (…) O Senhor ofertou a todos nós o dom da ressurreição, por meio do qual nosso espírito será colocado em um corpo livre de imperfeições físicas.” (Henry B. Eyring – A Liahona ABR/2013)

Tentarei explicar melhor nas próximas linhas…

Dando continuidade aos extraordinários ensinamentos de Paulo,  lemos: “Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo. (I Coríntios 15:21-22)” No “todos” citado por paulo, entendemos todos e tudo, ou seja, que não só as pessoas serão ressuscitadas, mas os animais e toda a natureza, na verdade a Terra toda! Explica o Doutor James E. Talmage: “Todo objeto criado que alcança ou realiza o objetivo de sua criação avançará pela escada do progresso, seja um átomo ou um mundo, seja um animalículo ou um homem (…).” (Regras de Fé, pag. 334)

Amuleque confirma em riqueza de detalhes o que Paulo ensinou e acrescenta que Cristo “[desatou] as ligaduras dessa morte física, para que todos se levantem dessa morte física. (…) Esta restauração acontecerá com todos, tanto velhos como jovens, tanto escravos como livres, tanto homens como mulheres, tanto iníquos como justos; e não se perderá um único cabelo de sua cabeça, mas tudo será restaurado em sua estrutura natural, como se encontra agora, ou seja, no corpo. (…) O espírito e o corpo serão reunidos em sua perfeita forma; os membros e juntas serão reconstituídos em sua estrutura natural, tal como nos achamos neste momento; e seremos levados a apresentar-nos perante Deus, sabendo o que sabemos agora e tendo uma viva lembrança de toda a nossa culpa. (Alma 11:44-44)” Onde entendemos que um corpo ressurreto torna-se perfeito, tendo todas as suas imperfeições reparadas.

Sobre esta “viva lembrança”, ensina Néfi: “(…) O corpo e o espírito dos homens serão restituídos um ao outro; e é pelo poder da ressurreição do Santo de Israel. Oh! Quão grande é o plano de nosso Deus! Porque, por outro lado, o paraíso de Deus deverá libertar os espíritos dos justos, e a sepultura, libertar os corpos dos justos; e o espírito e o corpo serão reunidos novamente e todos os homens tornar-se-ão incorruptíveis e imortais e serão almas viventes, tendo um perfeito conhecimento, como nós na carne, com a diferença de que o nosso conhecimento será perfeito.” (2 Néfi 9:13-14) A “viva lembrança” e o “conhecimento perfeito” citados acima, nos remete a verdade de que o ser ressurreto lembra-se não apenas de vida mortal que tivera, mas que também rompe-se-lhe o véu do esquecimento, e consequentemente, lembra-se também de sua vida anterior ao nascimento na carne, ou seja, da pré-existência mortal.

Diante da magnífica aula acima do trio Paulo, Amuleque e Néfi, a Ressurreição de Cristo trouxe a mesma benção a todos. O líder SUD Joseph F. Smith assim continua falando sobre às propriedades de um corpo ressurreto: “O corpo será ressuscitado com a mesma aparência que tinha quando faleceu, pois não há crescimento ou desenvolvimento no túmulo. Assim como foi sepultado, do mesmo modo ressurgirá, e as alterações para a perfeição lhe serão conferidas de acordo com a lei de restituição”. Mais especificamente, ele afirmou que “cada órgão, cada membro que foi mutilado, cada deformidade causada por acidentes ou qualquer outra forma, será restaurado… Uma pessoa não ficara para sempre marcada por cicatrizes, feridas, deformidades, defeitos ou enfermidades”, ele esclareceu, “estas serão removidas em seu curso, em seu devido tempo, de acordo com a misericordiosa providência de Deus. As deformidade serão removidos; os defeitos serão eliminados, e os homens e mulheres alcançarão a perfeição de seus espíritos.” (Joseph F. Smith, Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph F. Smith, Salt Lake City: Intellectual Reserve, 1998, p. 91-92).

“E as criancinhas?”, alguns podem sinceramente indagar se referindo àqueles que morrem na infância, a estes, Joseph Smith responde: “Nós sabemos que nossos filhos não serão obrigados a permanecer com a estatura de uma criança para sempre”, acrescentou, “pois foi revelado por Deus, a fonte da verdade … que na ressurreição, as criança que morreram e foram enterradas em sua infância irão ressurgir na forma de uma criança, assim como previsto, então começaram a se desenvolver. Desde o dia da ressurreição, o corpo vai se desenvolver até atingir a plena medida da estatura de seu espírito, seja ele homem ou mulher.”  (Smith, Ensinamentos dos Presidentes da Igreja, p. 130).

Ademais, segundo Douglas L. Callister, “o corpo ressuscitado será adequado às condições e glória a que a pessoa é atribuída no dia do julgamento. “Alguns moram em maior glória do que os outros” (TPJS, p. 367). Doutrina e Convênios ensina que “a sua glória será a glória pela qual vosso corpo é vivificado” (D & C 88:28), e três glórias são designados (D&C 76). Paulo (1 Coríntios 15:40) também mencionou três glórias de corpos ressuscitados: uma como o sol (Celeste), outra como a lua (Terrestre), e a terceira como as estrelas. Em uma revelação a Joseph Smith, a glória das estrelas foi identificada como Telestial (D&C 76). As luzes destas glórias são diferentes, assim como o sol, a lua e as estrelas como percebidas a partir de terra. “Assim também é a ressurreição dos mortos” (1 Coríntios. 15:40-42).” (Enciclopédia do Mormonismo – Ressurreição)

Lázazo Reviveu

Reviveram e não Ressuscitaram: Lázazo, o Homem que tocou nos ossos de Elizeu, a Filha de Jairo e o Filho da Viúva de Naim.

De acordo com o teólogo e arcebispo Peter Carnley, a ressurreição de Jesus é bem diferente da ressurreição de Lázaro pois “no caso de Lázaro, a pedra foi rolada para que ele pudesse sair… o Cristo ressuscitado não precisou que lhe rolassem a pedra, pois ele foi transformado e pode parecer onde quiser, quando quiser.”  (National Interest – Archbishop Peter Carnley) O corpo ressurreto tem o poder de tornar-se invisível e atravessar objetos sólidos, quando e se necessários, como foi o caso de Cristo, mas não de Lázaro, por que Cristo foi o primeiro a ressuscitar tornando-se “as primícias dos que dormem” (I Coríntios 15:20); por isso, na verdade, Lázaro, reviveu, e não ressuscitou, ou seja, o Homem que tocou nos ossos de Elizeu (II Reis 13:21), a Filha de Jairo (Lucas 8:40-56) [Talita Cume é uma expressão semítica: “Donzela, digo-te: Levanta-te!”] e o filho da viúva de Naim (Lucas 7:11-16), todos esses, reviveram e não ressuscitaram nesta ocasião, portanto, como não foram ressuscitados antes de Cristo, que foi Quem quebrou as cadeias da morte ao ressuscitar, mais tarde, certamente passaram pela morte; por exemplo, segundo uma das tradições, Lázaro, posteriormente foi martirizado.

Cristo foi as primícias da ressurreição, que abriu as portas para muitos outros ressuscitarem após ele segundo a vontade divina (Ex: Mateus 27:52-53)

Existem aqueles também que não foram revividos nem ressuscitados, mas transladados (Ex: Moisés, Elias, João Batista, Três Nefitas, etc…),  estes “(…) servem como anjos ministradores em muitos planetas” (Ens. Joseph Smith pag. 166) ou missões futuras (Ens. Joseph Smith pag. 186).

O corpo ressurreto de Cristo e de todos nós, quando igualmente ressuscitarmos, é “vivente com órgãos corporais internos tanto quanto externos”, segundo o Dr. James E. Talmage (Jesus O Cristo, pag. 666), que também acrescenta comentando sobre a saída de Cristo da tumba: “Não era necessário abrir o portal para preparar uma saída para o Cristo ressurreto. Em Seu estado imortalizado, Ele aparecia e desaparecia de aposentos fechados. Um corpo ressuscitado, embora de substância tangível, e possuidor de todos os órgãos de um tabernáculo mortal, não está preso à Terra pela gravidade, nem pode ser impedido em seus movimento por barreiras materiais. Para nós, que só concebemos o movimento nas direções relacionadas coma as três dimensões do espaço, a passagem de um sólido como um corpo vivo de carne e ossos, através de paredes de pedra, é forçosamente incompreensível. Mas o fato de que os seres ressuscitados se movem de acordo com leis que tornam possível tal passagem e até natural para eles, é evidenciado não só pelos incidentes relacionados com o Cristo ressurreto, mas também pelos movimentos de outros personagens ressuscitados (como a visita de anjo Morôni ao quarto de Joseph e este manuseando as placas de outro sagradas das quais posteriormente foi traduzido o Livro de Mórmom). De igual maneira, os seres ressuscitados possuem o poder de tornarem-se invisíveis à visão física dos mortais.” (Jesus O Cristo,  pag. 675)

O líder SUD Lorenzo Snow comenta: “Na vida futura teremos nosso corpo glorificado e livre de doenças e morte.” (Conf. Geral – OUT/1900)

O professor Dale B. Martin, professor de estudos religiosos da Universidade de Yale e membro da Academia Americana de Artes e Ciência, disse que “Paulo acreditava que o corpo recém-ressuscitado seria também um corpo celestial, imortal, glorificado, [e] poderoso, bem diferente do corpo terreno, que é mortal, desonrado, fraco e psíquico (em grego: psyche).” (Dale B. Martin, The Corinthian Body, Yale University Press, 1999)

Ficou mais que claro que um corpo ressurreto não é um espírito, mas um corpo de carne e ossos (Lucas 24:39 e D&C 130:22) glorificado (I Coríntios 15:40 e D&C 88:28), que se alimenta (Lucas 24:42), e tem órgãos,  que continua a crescer até a estatura perfeita do espírito, que não envelhece ou adoece, que não tem defeitos físicos, pois foram reparados, e não mais corre sangue em suas veias, mas é vivificado pelo espírito (Ens. Joseph Smith pag. 195, 359)! Sim, um corpo ressurreto é imortal e perfeito!

RESSUSCITA-ME

A palavra ressuscitar, pode ser aplicada tanto a transformação do corpo mortal em imortal, como extensamente foi discutido neste artigo, quanto a um novo nascimento, uma renovação espiritual, um despertar pra verdades eternas, um ressurgimento de bons compromissos assumidos que por um tempo foram descartados, e também a transformação do homem velho em homem novo!

Ao meu ver, Aline Barros foi muito feliz em sua bela música, que igualmente inspirou o título deste artigo, e que ela canta e encanta com a profundidade de sua mensagem, nos muitos trechos, a música também diz:

Mestre eu preciso de um milagre
Transforma minha vida, o meu estado
Faz tempo que não vejo a luz do dia
Estão tentando sepultar minha alegria
Tentando ver meus sonhos cancelados

(…)

Remove minha pedra
Me chama pelo nome
Muda minha história
Ressuscita os meus sonhos
Transforma minha vida
Me faz um milagre
Me toca nessa hora
Me chama para fora
Ressuscita-me
Que possamos despertar e sermos mais caridosos e amorosos, que valorizemos mais o Sacramento, e igualmente pensemos mais na Ressurreição de Cristo, que tanto precisamos pra curar nossas almas e alimentar nossas esperanças.

Douglas L. Callister concluiu: “A esperança de uma gloriosa ressurreição fortalece o brilho que caracterizou a fé dos santos do Novo Testamento, bem como aqueles que têm mantido a fé viva no mundo, incluindo os santos dos últimos dias.” Como disse Joseph Smith: “A esperança de ver meus amigos [e familiares] na manhã da ressurreição dá ânimo a minha alma, permite-me suportar as tribulações da vida. É como se eles tivessem empreendido uma longa viagem, e, ao voltar, os recebêssemos com grande alegria.” (Ens. Joseph Smith pag. 287)

Seguramente, Cristo é minha e nossa Páscoa, e Nele deposito minha esperança, fé e confiança! SEI QUE ELE VIVE!


Filed under: Acadêmicos, Cultura Mórmon, Filosofando, História, Mórmon, Mormon, Notícias Mórmons, SUD, Vida Mórmon, Vozes Mórmons Tagged: ABEM, Associação Brasileira de Estudos Mórmons, autoridades gerais, Chocolate, Conferência Geral, Corpus Christi, David Marques, Doutrina, doutrina mórmon, doutrina profunda, Espiritualidade, Evangelho, Fazei Isto Em Memoria de Mim, feriado, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Igreja Mórmon, Jesus Cristo, Joseph Smith, Ovos de Páscoa, páscoa, Revelação, SUD, transubstanciação, Vinho no Sacramento, Vozes Mórmons

Os 9 Apóstolos

$
0
0

Os 9 Apóstolos

The SupremesHoje, a Suprema Corte dos Estados Unidos novamente estragou os planos dos Apóstolos e Profetas d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Em decisão história, a Corte invalidou o plebiscito de 2008 no estado da Califórnia que proibiria o reconhecimento pelo estado de casamentos homossexuais.

A Igreja investiu pesadamente nesta campanha homofóbica em 2008, incluindo solicitando (em muitos casos, coagindo) doações de dezenas de milhões de dólares e centenas de milhões de horas em trabalho “voluntário” e diversas mensagens do, e reuniões com, o alto escalão (até a Primeira Presidência) da Igreja, programas de metas de contribuições para Bispos e Presidentes de Estaca, etc. (além de multa para a Igreja por tentativa de ocultação de gastos). Ademais, a força da influência Mórmon durante a campanha pelo projeto-de-lei fora tão notório e fundamental que as reações contra a lei também respingaram, intensamente, contra a Igreja — alterando e suavizando sua postura, que vinha agressiva desde 1993.

Esta não foi a primeira vez que a Suprema Corte dos Estados Unidos interfere com os ensinamentos dos Apóstolos e Profetas Mórmons.

Em 1878, a Suprema Corte manteve que a Igreja não tinha recurso por cláusula religiosa contra a lei anti-bigamia de 1862 (assinada por Abraham Lincoln), o que resultou no fim de quaisquer recursos legais para a prática da poligamia. A Igreja continuou praticando poligamia (de maneira ilegal) publicamente até 1890 e secretamente até 1904, mas uma série longa de represálias legais, baseadas nas leis anti-poligamia e na decisão de 1878, acabou forçando a Igreja a abandonar a prática terminantemente.

Não se pode, atualmente, negar que a Igreja tenha abandonado a prática da poligamia. Tanto que durante o século XX, a Igreja ajudou policiais a espionar e prender aqueles Mórmons que se recusavam a abandonar um preceito que os Apóstolos e Profetas haviam considerado essencial! Além disso, e não sem ironia, hoje a Igreja defende unha-e-dentes o casamento entre um homem e uma mulher!

Mas também é igualmente inegável que essa mudança jamais teria ocorrido caso a decisão da Suprema Corte em 1878 tivesse lhe respaldada, permitindo a Igreja o refúgio legal para prosseguir com a poligamia.

Indiretamente, a Suprema Corte também afetou outra prática cultural Mórmon.

Em 1967, a Suprema Corte julgou como inconstitucional leis anti-miscigenação, ou seja, que a corte era contra leis que proibíssem Negros a se casarem com Brancos. Junto com outros julgamentos históricos da Suprema Corte e outras leis contra discriminação raciais entre os anos 1950 e 1960, a Igreja passou a novamente encontrar-se do outro lado da moral e da ética como vistas pelo quorum judicial máximo dos Estados Unidos. A Igreja continuou praticando segregação racial até 1978, quando finalmente uma pessoa Negra e uma pessoa Branca poderiam se casar num Templo Mórmon.

Não se pode, atualmente, negar que a Igreja tenha abandonado a prática da segregação racial. Infelizmente, contudo, alguns resquícios aparecem aqui e acolá, mas no geral trata-se de equívoco do passado. Tampouco se pode negar que tais leis e tais sentenças judiciais em muito influenciaram o meio sócio-cultural que favoreceu a Igreja, com algumas décadas de atraso, também abandonasse suas práticas de segregação racial.

Com a visão voltada para o passado histórico, é inconteste que as resoluções da Suprema Corte Americana tenham influenciado, direta ou indiretamente, as posições oficiais da Igreja sobre questões sociais e culturais (e familiares). As maiores e mais dramáticas mudanças no Mormonismo desde a consolidação da liderança da Brigham Young envolveram intensamente esta corte judicial. O que, naturalmente, torna a decisão de hoje importante e histórica.

A Igreja respondeu prontamente em pronunciamento oficial queixando-se de problemas com a “democracia e [o] sistema judicial”. Ironicamente, a Igreja atualmente não se queixa (como já se queixou) que a “democracia” e o “sistema judicial” a forçaram direta e indiretamente a abandonar a prática poligamia e segregação racial. Pelo contrário, quase unanimamente, a liderança da Igreja SUD abraça monogamia e integração racial como uma postura ética e moral óbvia.

Assim sendo, a pergunta óbvia paira no ar, ansiosa mas confiante num futuro melhor: Quando tempo tardará para a Igreja SUD abraçar integração e aceitação de famílias LGBT como uma postura ética e moral óbvia?


Filed under: Cultura Mórmon, Estudos Mórmons, Filosofando, Mórmon, Mormon, Notícias Mórmons, SUD, Templo, Vida Mórmon, Vozes Mórmons Tagged: Associação Brasileira de Estudos Mórmons, autoridades gerais, Brigham Young, casais gays, Casamento plural, cultura mórmon, doutrina profunda, estudos mórmons, Gays, História mórmon, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Igreja Mórmon, Mórmons, Mormonismo, Poligamia, Poligamia mórmon, Revelação

Progresso entre reinos – parte I

$
0
0

Haverá progressão entre os graus e reinos? O mormonismo ensina que Deus tem um plano de progresso eterno para seus filhos. Fazem parte desse plano três diferentes reinos de glória – telestial, terrestrial e celestial -, cada um possuindo em si diferentes graus, os quais serão herdados de acordo com nossa obediência ao plano. 

Uma das lacunas na atual doutrina sud é a possibilidade ou não de progresso de uma grau a outro no mesmo reino ou de um reino a outro. Alguém que herdou a glória terrestrial poderia, ao longo das eras, subir a uma esfera celestial?
 
As respostas que ouviríamos hoje na Igreja podem variar de um sincero “não sei” a um categórico “não!”. A literatura oficial da Igreja hoje parece não abordar tal tema, preferindo enfatizar que o progresso eterno será apenas acessível aos que forem exaltados. Mesmo assim, o progresso eterno parece ser relativizado por algumas afirmações de que Deus não está progredindo porque já progrediu plenamente. Nesse sentido, o progresso eterno não seria em termos de conhecimento ou retidão pessoal, mas seria o progresso dos seus filhos.
 
brigham-1851Brigham Young defendeu o conceito de que não poderia haver um limite para o progresso de um ser, pois ele seria condenado a um retrocesso:

O trabalho de Deus é ver que todos se tornem celestiais assim como ele. Depois das pessoas terem sido designadas a diferentes graus de glória, não é o fim do seu progresso. Elas continuarão a avançar acima, até que todos dobrem os joelhos e se tornem seres celestiais. Se o progresso cessasse em algum lugar na eternidade, em quaisquer dos reinos, elas seriam imediatamente jogadas para o caminho de retrocesso. (Journal of Discourses 1:350)

James_Edward_TalmageNa primeira edição do livro Regras de Fé, de 1899, o apóstolo James E. Talmage fala sobre a possibilidade de avanço entre graus e reinos:

É razoável acreditar, na ausência de revelação direta pela qual conhecimento absoluto do assunto pudesse ser adquirido, que, de acordo com o plano Deus de progresso eterno, avanço de um grau a outro dentro de qualquer reino, e de reino a reino será provido. Mas se os que recebem uma glória menor serão capazes de avançar, certamente as inteligências de um nível maior não serão impedidas em seu progresso; e assim podemos concluir que graus e níveis sempre irão caracterizar os reinos de nosso Deus. A eternidade é progressiva; a perfeição é relativa (…) (Talmage, Articles of faith (Regras de Fé), 1899), páginas 420-421)

Ainda que Talmage diga não haver uma revelação específica sobre o tema, ele afirma estar de acordo com a doutrina revelada acreditar na progressão entre reinos, além de apontar para o fato que que não há uma perfeição absoluta, mas sim relativa. O parágrafo acima foi retirado de edições subsequentes do seu livro.


Arquivo em:Acadêmicos, Cultura Mórmon, Estudos Mórmons, Filosofando, História, Mórmon, Mormon, SUD, Vozes Mórmons Tagged: autoridades gerais, Brigham Young, Debates, Doutrina, doutrina mórmon, doutrina profunda, especulação, estudos mórmons, exaltação, graus de glória, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, James E. Talmage, Mórmons, Mormonismo, plano de felicidade, Plano de salvação

Fubecagem

$
0
0
Vista Calças Pra SacramentalTexto de Graciela Bravo

Escutei essa palavra pela primeira vez ao passar na frente de uma igreja onde ocorria um casamento. A menina ao meu lado desaprovou as roupas das convidadas por estarem de ombros aparecendo e as chamou de fubecas.

O interessante é que essas mulheres não eram Mórmons e, mesmo se fossem, será que um ombro de fora é motivo para tal classificação? Achei contraditório a existência dessa palavra que revela preconceito, o que nada tem a ver com o Evangelho.

Nunca havia escutado e, curiosa, questionei sobre a origem. Ela me disse que tinha inventado. Não duvidei, mas posteriormente ouvi outras vezes de outros membros, então o sininho tocou. A menina, provavelmente, teve vergonha de dizer que esse era um termo geralmente utilizado por membros da Igreja.

Fubecagem significa não ter uma postura correta. O mesmo que participar da reunião sacramental quando bem entendermos, fazer somente o que tivermos vontade, usar as roupas que alguns pensam não serem adequadas, entre outras coisas. Eu mesma recebo uns olhares tortos, acredito, por usar calças.

Sabemos que os termos fubeca e fubecagem conhecidos pelos SUDs têm uma conotação negativa. As palavras têm a força, negatividade ou positividade que conferimos a elas, mas algumas continuam sendo pejorativas. Elas são apenas amenizadas pelo contexto, a entonação e o tom de brincadeira.

Ousaria dizer que é praticamente natural do ser humano rotular as pessoas. A primeira experiência com essas classificações ocorre na escola através dos apelidos que as crianças atribuem umas as outras, quase inevitavelmente. É comum volta e meia ouvirmos – Fulana, aquela magrinha ou gordinha, ruivinha, sardentinha…

Por que não trocar o magrinha por aquela que é sempre pontual, ou aquela que desempenha tal ou tal função? Acho que é porque tem que pensar um pouquinho mais.

Já todo momento fazemos julgamentos, por menores que sejam, mesmo aqueles que não são expressos e que permanecem no pensamento. Muitas vezes, temos certezas que são incertas.

Você teria alguma estória relacionada ao tema para compartilhar?

__________
Relacionado
twelveoxen_bwPermanecer em Lugares Santos: Nós e Outros para SUDs
ColegialMachismo no Mormismo
js_portraitCaridade por Joseph Smith
Aparência É Tudo!Jesus Não Poderia Ir A FSY?

 

 

 

 

 

 


Arquivado em:Cultura Mórmon, Filosofando, Mórmon, Mormon, Mulher, SUD, Vida Mórmon, Vozes Mórmons Tagged: Associação Brasileira de Estudos Mórmons, Brasil, cultura mórmon, doutrina mórmon, doutrina profunda, Espiritualidade, fubeca, fubecagem, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Igreja Mórmon, Julgamento, Mórmon, Mórmons, Membros, Mormonismo, Mulheres, Profeta, SUD, Vozes Mórmons

Igreja Mórmon vs. Justiça Inglesa

$
0
0

A Igreja Mórmon* continua sua saga com conflitos legais na Grã-Bretanha.

Keep Calm and Carry On?

Keep Calm and Carry On?

Além do Profeta Mórmon Thomas Monson receber, recentemente, uma intimação para depor (em menos de 10 dias) num inquérito criminoso por uma juíza inglesa, a Igreja acaba de receber um julgamento desfavorável a um processo de apelação a uma decisão judicial de 2005 do governo bretão contra a Igreja.

Qual a possibilidade deste julgamento desfavorável influenciar o que inquérito esta prestes a começar? E seria possível que este influenciasse as estratégias legais do exército de advogados da Igreja se preparando para defender Thomas Monson? Caso seja relevante, como?

Em 2005, o governo inglês determinou que o Templo de Preston não poderia ser isento de IPTU (impostos territoriais) porque a Igreja é uma organização religiosa registrada legalmente como uma corporação privada. Ademais, diferente das capelas SUD que são abertas ao público, os Templos SUD são fechados ao público (e à parcela não-dizimista dos membros) e não podem ser descritos como “locais de adoração pública”.

Como era de se esperar, a Igreja não aceitou tal decisão e apelou legalmente. Como era de seu direito. A Igreja argumentou que estava sofrendo discriminação (e perseguição) religiosa, e lançou apelos judiciais à Suprema Corte Inglesa. Quando esta julgou a defesa Mórmon como improcedente, apelou-se à Corte Européia de Direitos Humanos em Estrasburgo, França. A Corte de Estrasburgo acabou de concordar com a Suprema Corte Inglesa e julgou, em unanimidade, a queixa de discriminação (e perseguição) religiosa como “improcedente” e “sem fundamentos”.

A decisão apresenta argumentos legais muito relevantes ao caso criminal por fraude contra Thomas Monson.

Em primeiro lugar, é importante notar que a Igreja é constantemente julgada e avaliada como entidade corporativa. A Igreja, nos EUA e na GB, assim escolheu se estruturar legalmente de modo a ser financeiramente mais enxuta. Contudo, a justiça inglesa (e, aparentemente, também a européia) entende tal estruturação legal expõe a Igreja a escrutínio judicial adicional além daquele dedicado exclusivamente a entidades religiosas. Sendo assim, a Igreja no Reino Unido não é apenas uma igreja, mas sim uma corporação aos olhos da lei.

Esta observação é relevante porque Phillips, em seu processo criminoso contra Monson, alega que a Corporação Única se beneficia monetariamente da ingenuidade e ignorância de seus membros. Em outras palavras, trata-se de uma corporação “abusando” de seus “consumidores”, e não uma igreja ou religião “abusando” de seus “fiéis”.

Em segundo lugar, as justiças inglesas e européias não enxergam como violação de direitos humanos ou de direitos religiosos as consequências judiciais (e tributárias) de regras estabelecidas internamente. Em outras palavras, se a Igreja decide obstruir acesso ao público (e a muitos membros) ao Templo e agir “em segredo”, ela perde o direito de isenção fiscal religiosa (neste parâmetro específico).

Esta observação é relevante porque Phillips, em seu processo criminoso contra Monson, alega que a Corporação Única fomenta ingenuidade e ignorância de seus membros, da qual se beneficia, através da manutenção de “segredos” sobre fatos conhecidos (e.g., pelo braço educacional da Corporação, como a BYU) de seu passado histórico e outros conceitos científicos básicos.

Finalmente, a justiça inglesa demonstra claramente que o critério mais relevante é o interesse público. A justiça interpreta que a lei de arrecadação de impostos estava sendo abusada pela Igreja porque ela não oferecia, em troca pelo subsídio governamental (oferecido por meio da isenção fiscal), um serviço ou bem público em retorno.

Esta observação é relevante porque Phillips, em seu processo criminoso contra Monson, alega que a Corporação Única se beneficia financeiramente através da manutenção de “segredos” sobre fatos conhecidos e através da isenção fiscal sobre tais contribuições. Como funciona isso? Porque a Grã-Bretanha goza de uma religião estatal, ela (por motivos de igualdade legal) oferece em torno de 25% às igrejas que recebem contribuições declaradas. Em outras palavras, para cada 100 libras doadas à Igreja SUD, o governo bretão paga mais 25 libras à Igreja SUD. Com dinheiro dos cofres públicos, é dever do Estado inspecionar como tais contribuições são coletadas. A própria Igreja SUD oferece impressos a seus membros e ajuda online para buscarem tal benefício do governo para ela.

Certamente, os advogados da Igreja imaginam defender Monson da queixa-crime de fraude (é importante notar que o processo não é cível, e portanto não busca restituições monetárias) com base nas proteções constitucionais aos direitos de crença e religião. Independentemente da absurdidade científica e racional das crenças em Adão e Eva no Jardim do Édem há 6.000 anos, ou dos ameríndios serem descendentes de algumas famílias israelenses há 2.614 anos, é direito inegável de qualquer pessoa ou grupo de pessoas crer nelas. Contudo, resta saber se a justiça inglesa aceitará tal caso como sendo sobre crenças religiosas ou se ela a enxergará do prisma do litigante: a de uma corporação que recebe subsídio estatal por doações adquiridas em consequência da prática de manter segredos comprováveis do seu público-alvo.

O consolo, hoje, para a Igreja é que ela manterá aproximadamente 80% em descontos no IPTU oferecidos para organizações de “caridade”. Apenas o tempo dirá se haverá consolo para a Igreja no inquérito que esta programado para se iniciar em 10 dias.

____________

Em outras notícias, e falando em “caridade”, um painel investigativo das Organizações das Nações Unidas levantou, entre outras coisas, os custos em doações humanitárias globais da Igreja SUD para o ano de 2013: USD 84 milhões.

Este valor é, certamente, muito melhor que a média anual entre 1985 e 2010 (USD 46 milhões), mas que não deixa de representar apenas 1% da renda anual estimada de dízimos e muito, muito, muito menos que 1% de toda renda anual estimada dos investimentos corporativos da Igreja.

Não obstante, estas contribuições caridosas — e a publicidade subsequente — são notórias, e certamente facilitam uma aceitação e penetração global. A argumentação legal nos processos supra-citados, mesmo em julgamento contrário a Igreja, sempre levou em consideração tais doações de caridade. A caridade pode até falhar 99% das vezes, mas 1% basta para colher dividendos políticos e legais.

____________

* A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias baseada em Salt Lake City, Utah, apesar de uma das muitas igrejas Mórmons, é a maior e mais famosa destas e, portanto, facilmente assim epinomada.

__________
Relacionado
thomas-monson-2Profeta Mórmon Processado
download (1)Dentro do Império Mórmon
Jesus Healing BeggerMórmons Dão Esmola?
.

Arquivado em:Cultura Mórmon, Estatísticas, História, Mórmon, Mormon, Notícias Mórmons, Política, SUD, Templo, Vida Mórmon, Vozes Mórmons Tagged: Associação Brasileira de Estudos Mórmons, autoridades gerais, Caridade, cultura mórmon, doutrina mórmon, doutrina profunda, História mórmon, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Igreja Mórmon, Mãos que ajudam, Mórmon, Mórmons, Mórmons na política, Mormonismo, processo contra profeta, processo contra Thomas S. Monson, Profeta, SUD, templo, thomas monson, Thomas S. Monson, Vozes Mórmons

Prova dos Noves: Apóstolos e Profetas

$
0
0

bibliaDécadas atrás, era comum no ensino da aritmética no ensino fundamental o uso de um truque matemático: A prova dos noves, ou mais popularmente, os noves-fora.

O truque consiste em somar os dígitos individuais de um número em uma operação aritmética simples (i.e., soma, subtração, multiplicação, e divisão), subtraindo 9 e adicionando os remanescentes dígitos. Compara-se, então, todos os números da operação com o resultado da operação, e caso coincidam, confirma-se o resultado.

Por si só, a prova dos noves não serve para resolver nenhum problema aritmético. Contudo, o seu valor reside em checar, ou confirmar, se o seu trabalho matemático (i.e., a sua conta) está correta. Hoje, com calculadoras em qualquer celular ou computador, ninguém mais sente a necessidade de um truque que, em outra época, já serviu a muita gente.

Não obstante, resulta-nos o legado da expressão “prova dos noves” ou “noves-fora” para qualquer ferramenta que cheque ou confirme a validade de uma idéia, ou hipótese, ou instinto, ou teoria. Serve também para uma ferramenta que teste a validade de uma ensinamento religioso, uma doutrina de fé, uma crença, ou qualquer escrito por apóstolos ou profetas.

Resta, então, a indagação: Existe uma “prova dos noves” para escritos de apóstolos ou ensinamentos de profetas?

Sim, existe.

Como a idéia me foi sugerida por um comentarista neste site, cita-lo-ei diretamente.

Em um artigo meu sobre a influência das decisões judiciais da Suprema Corte dos Estados Unidos sobre as políticas e ensinamentos da Igreja SUD (e especificamente, com relação à presente cruzada Mórmon anti-gay), um comentário me chamou a atenção por sua mediocridade intelectual:

Que tristeza… [v]er homossexuais ou simpatizantes tão inteligentes e conhecedores das ciências do mundo, das leis, filosofias, interações sociológicas e infelizmente tão leigos a respeito dos mandamentos e leis de Deus.

Apesar de me sentir envaidecido com o elogio (“inteligente e conhecedor das ciências”? Quem me dera!), eu respondi ilustrando a ignorância fundamental e o erro de raciocínio desta construção (i)lógica:

…tais “mandamentos e leis” foram, todos e sem exceção, frutos diretos e indiretos dos contextos históricos e dos preconceitos dos homens que os ditaram ou escreveram. Dentre esses “mandamentos e leis de Deus” estão ordens para assassinar mulheres e crianças, permitir o estupro de mulheres virgens, permitir a escravidão de outros seres humanos, coagir mulheres a serem esposas plurais e concubinas, coagir adolescentes a se casarem secretamente com profetas, proibir dessegregação racial de espaços e ordenanças sagradas, etc. Estes “mandamentos e leis de Deus” vem mudando com o passar do tempo e da história, com a tendência de evoluir de posições mais preconceituosas e menos éticas para posições menos preconceituosas e mais éticas.

E este é fato histórico inegável. Apenas pessoas completamente ignorantes da história de sua própria fé (ou apologistas simplesmente desonestas) não compreendem que não há “lei” ou “mandamento” que não tenha mudado ou evoluído com o passar do tempo, da aquisição de conhecimentos científicos, ou da evolução intelectual e moral da sociedade autóctone.

Quantos Cristãos se sentiriam a vontade com mandamentos divinos que demandem a matança indiscriminada de mulheres e crianças de outras religiões? Ou a escravidão de mulheres virgens para coerção sexual/matrimonial? Ou que obriguem uma mulher vítima de estupro a casar-se com seu estuprador? Ou que exijam que escravos sejam submissos a seus mestres Cristãos? Ou que permitam a escravidão humana em geral? Ou que permitem que não-Cristãos sejam torturados durante 5 meses sem mata-los por sua descrença? Ou que proibam mulheres de falar em público, ou de chefiar ou liderar homens em quaisquer capacidades? Ou que obriguem mulheres a serem completamente submissas e obedientes a seus maridos, mesmo aos que sequer sejam bons Cristãos?

Eu imagino (ou melhor, espero) que nenhum. Cristãos, em seu maioria, sabem (consciente ou instintivamente) que tais “leis” ou “mandamentos” não se aplicam mais a eles, apesar de suas posições no cânone oficial, pois o universo Cristão tem mudado e evoluído com o passar do tempo, da aquisição de conhecimentos científicos, e da evolução intelectual e moral da sociedade Cristã e não-Cristã.

Esse conhecimento assusta os fiéis, especialmente aqueles com maiores limitações intelectuais (i.e., os que não conseguem enxergar o mundo ou a realidade além do simplista preto-e-branco, nós-contra-eles) ou com maiores benefícios sociais (i.e., os que derivam status social elevado devido à sua religiosidade). Por que? Porque isso significa que qualquer “lei” ou “mandamento” na atualidade pode ser submetido ao escrutínio do julgamento de gerações futuras mais iluminadas que a nossa, e julgados como imorais ou anti-éticos, ou simplesmente como simplistas ou supersticiosos.

Sendo isso a (óbvia) verdade, a questão que se forma na cabeça de todo fiel pensante e preocupado é: Como saberei quais “leis” e “mandamentos” são “eternos” e relevantes e quais são frutos dos preconceitos e da ignorância humana dentro do meu próprio contexto sócio-cultural? Em outras palavras, qual seria a proverbial “prova dos noves”? Qual seria os “noves-fora” para determinarmos qual “lei” ou “mandamento”, qual escrita apostólica ou discurso profético merece consideração absoluta? E, consequentemente, qual poderíamos simplesmente relegar ao nosso próprio julgamento ético ou crítico, confiando na sabedoria das possíveis gerações futuras?

Eis como respondeu, à minha réplica, este nosso comentarista assíduo:

Concordo em parte com você, pois sou um homem de fé e creio que Deus sempre se comunicou com os profetas bíblicos, do livro de Mórmon e modernos. Mas, infelizmente, os contextos históricos e preconceitos os fizeram, muitas vezes, agir mais de acordo com seus pensamentos, achando assim que estavam fazendo a vontade de Deus. Um dos mandamentos principais de Deus, o amor ao próximo, não foi muito seguido no antigo testamento e poucos o fazem hoje. Jesus mandou amar até o inimigo, e porque muitos cristãos hoje odeiam os homossexuais? Eles apenas tem uma orientação diferente, mas são humanos. Nenhum cristão é obrigado a ser a favor da união homoafetiva, mas porque tanto ódio? Os mandamentos de Deus são puros e verdadeiros, o ser humano é quem os deturpa.

E aí está, sucinta e profundamente elaborada, a “prova dos noves”. Se o que o Apóstolo ou o Profeta escreveu ou está dizendo incita-nos a tratar as outras pessoas — além de nós mesmos, além de nossos familiares, além de nossos amigos próximos, além de nossos colegas, além de nossos correligionários — com respeito, com dignidade, com humanidade, ou mesmo com amor, então trata-se de um ensinamento, uma lei, ou um mandamento válido.

O contrário também é verdade. Se o que o Apóstolo ou o Profeta escreveu ou está dizendo incita-nos a tratar as outras pessoas com desrespeito, com indignidade, sem humanidade, com preconceito, ou mesmo com ódio, então trata-se de um ensinamento, uma lei, ou um mandamento inválido, e/ou que provavelmente será invalidado no julgamento de gerações posteriores.

Poligamia é um exemplo claro disso. Quantas pessoas, na Igreja SUD, defendem poligamia como uma boa idéia hoje? Quantas pessoas não inventam desculpas, ou mesmo mentiras, para tentar aliviar a poligamia do passado? Racismo é outro excelente exemplo disso. Quantas pessoas hoje acreditam que segregação racial é idéia boa, ética, ou moral? Mas até 1978, os Profetas e Apóstolos (e os membros) da Igreja SUD achavam perfeitamente defensível. Quem defenderia mudar a política atual para retomar a segregação racial?

A questão com os homossexuais é um dos temas atuais. Será discrimina-los uma postura ética, ou moral, ou mesmo digna? Expulsa-los da Igreja por se casarem ou constituírem famílias, com filhos, é mostrar compaixão e trata-los com dignidade? Gastar centenas de milhões de dólares para evitar que haja leis que os protejam, mesmo os gays que sequer Mórmons sejam, é uma atitude que daria orgulho a Jesus? Que ensinou “amai-vos uns aos outros” ou “..até os inimigos”?

A questão da mulheres é um outro tema atual. Será discrimina-las, negando oportunidades eclesiásticas, profissionais, ou mesmo pessoais uma postura ética, ou moral, ou digna? O que dirão os nossos netos ou bisnetos ao descobrirem que na nossa geração, a Igreja SUD não permitia que mulheres fossem líderes ou ordenadas, e incentiva-as a não terem carreiras profissionais ou que suas vestimentas ou a limpeza de suas casas são importantes indicadores espirituais. Gastar milhões de dólares para evitar que haja leis que as protejam, mesmo as mulheres que sequer Mórmons sejam, é uma atitude que daria orgulho a Jesus? Que ensinou “amai-vos uns aos outros” ou “..até os inimigos”?

No frigir dos ovos, tudo se resume em amor, tolerância, respeito, e dignidade ao próximo. Tratar o outro como desejamos que nos tratem os outros. Afinal, não é isso a essência do que é (ou deveria) ser Cristão?

_________________

Para quem está realmente curioso, e não aprendeu os noves-fora na escola, e ainda ficou inteiramente insatisfeito com o meu simples resumo acima, eis um exemplo prático:

Imagine a seguinte conta:

Página 3

Existem duas maneiras de se aplicar a prova dos nove, ambas se equivalem:

No primeiro número 3562 somam-se os algarismos e cada vez que a soma superar o nove, tira-se este mesmo nove logo:

3 + 5 = 8 + 6 = 14 menos 9 = 5, continuando 5 + 2 = 7.

A outra maneira parece ser melhor, somam-se todos os algarismos:

3 + 5 + 6 + 2=16 -> 1 + 6 = 7.

Lembre que , se o valor der nove, ao diminuirmos o nove teremos zero, o famoso “noves fora, nada”.

Logo a prova dos nove do primeiro número é 7.

Página 3

Deve-se fazer o mesmo processo para os outros termos e verificar a soma dos termos da prova dos nove:

Página 3

Nota-se que a conta está correta, pois a soma dos termos da prova dos nove e dos termos do resultado dá o mesmo valor.

A prova dos nove para a multiplicação
Usa-se o mesmo procedimento, veja:

Página 3

Logo:

Página 3


Arquivado em:Cultura Mórmon, Dominicais, Estudos Mórmons, Filosofando, Gays, Mórmon, Mormon, Mulher, SUD, Vida Mórmon, Vozes Mórmons Tagged: apologética, Apologista, Associação Brasileira de Estudos Mórmons, casais gays, casamento gay, Casamento plural, cultura mórmon, doutrina mórmon, doutrina profunda, estudos mórmons, Gays, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Igreja Mórmon, Mórmons na política, Membros, Mormonismo, Mulheres, Mulheres mórmons, Ordenação de Mulheres, Revelação, Sacerdócio para Mulheres, SUD, Vozes Mórmons

Podcast Mórmon #101 – Conselho dos 50: O Governo Teocrático Mórmon

$
0
0

Podcast Mórmon #101 – Conselho dos 50: O Governo Teocrático Mórmon

A Associação Brasileira de Estudos Mórmons e o Vozes Mórmons anunciam o início de um projeto coletivo de podcasts para discussão de temas relacionados ao Mormonismo.

Buscando não ser redundante com a missão do site Vozes Mórmons ou das Conferências Anuais de Estudos Mórmons, o Podcast ​Mórmon consistirá em diferente mídia, e mais importantemente, diferente formato.

​Estruturado num modelo de programa ao vivo, o Podcast Mórmon incluirá resenhas de livros, entrevistas, debates​, e curtas apresentações com interação dos ouvintes através de perguntas, réplicas, e questionamentos enviados em tempo real (via Twitter, Facebook, e aqui pelo próprio Site).

General de Divisão Joseph Smith, jr.

General de Divisão Joseph Smith, jr.

O primeiro episódio será sobre o secreto famoso Conselho dos 50 organizado por Joseph Smith. Antônio Trevisan apresentará por 10 minutos uma resenha dos artigos acadêmicos publicados sobre o assunto, seguido de uma apresentação de 10 minutos por Marcello Jun com uma resenha dos livros publicados (e a serem publicados), e então seguidos por uma sessão aberta de 20-30 minutos com os ouvintes e suas reações, indagações, perguntas, e queixas.

​A data e horário do programa esta marcado para o dia 22/03/2014 às 15 horas. Ele será transmitido ao vivo através do site LiveStream, e a gravação será publicado após uma semana no YouTube e no iTunes.

A continuação de um programa mensal, logicamente, dependerá do interesse público. Audiência e participação serão muito importantes (e, por isso, convidamos a todos nossos leitores, comentaristas, colegas, e críticos), porém mais relevante ainda serão as sugestões e os pedidos por temas e assuntos (e entrevistados e livros e debatedores, etc.) para programas futuros.

​Portanto, agendem a data e venham participar conosco deste mini-debate, mini-conferência, maxi-evento!

.


Arquivado em:Acadêmicos, Bibliografias, Ciência, Cultura Mórmon, Estudos Mórmons, História, Joseph Smith, Literatura, Mórmon, Mormon, Podcast Mórmon, SUD, Vozes Mórmons Tagged: Associação Brasileira de Estudos Mórmons, Brigham Young, Conferência Brasileira de Estudos Mórmons, Conselho dos 50, Conselho dos Cinquenta, doutrina mórmon, doutrina profunda, governo civil, hierarquia, História mórmon, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, John Taylor, Joseph Smith, Mórmon, Mórmons, Mórmons na política, Membros, Mormonismo, Nauvoo, palestra, Podcast, podcast Mórmon, Política, Profeta, Revelação, SUD, Teocracia, Teodemocracia, Vozes Mórmons

Ordenação às Mulheres

$
0
0

mulheresCresce, aos poucos, na Igreja SUD uma conscientização coletiva de que mulheres SUD não vêm sendo tratadas ou consideradas com a mesma igualdade de respeito e oportunidade que os homens SUD. Tais reflexões não são novas ou originais, mas o que mais impressiona no presente momento é a penetração social desta ideia. Além de uma crescente mobilização entre mulheres SUD, parece haver uma recíproca preocupação entre a liderança (exclusivamente masculina) SUD.

Não obstante o progresso visto nos últimos anos, há mulheres na Igreja que finalmente estão reinvindicando equalidade total através de um (gigante) passo simbólico: ordenação de mulheres ao Sacerdócio.

Antecedentes

A proposição não é inédita. Na igreja Cristã no primeiro século E.C. era comum ver mulheres em posições de liderança eclesiástica. Junias, esposa de Andrônico, servia como Apóstola. Phoebe servia como Diácona na cidade de Cenchreae. Priscila, esposa de Áquila, era Missionária (συνεργός) com os demais Apóstolos e líder da uma congregação (o equivalente a “presidente de ramo”) na “Ásia” (Turquia). Entre outras mulheres que igualmente serviam como líderes de congregações estavam LídiaEvódia, Síntique, Ninfas, Cloé, e as 4 filhas de Felipe.

Mesmo na tradição Mórmon, há exemplos de ordenação de mulheres. Quando Joseph Smith decidiu incorporar a já organizada (independentemente por um grupo de mulheres) Sociedade de Socorro sob a direção da Igreja, prometeu que iria conferir “poder e autoridade e as chaves do Sacerdócio” à organização de mulheres. Infelizmente, essa abertura foi abortada quando Emma Smith tentou usar a Sociedade de Socorro para coibir os casamentos plurais secretos de Smith e a Sociedade foi desorganizada, até que Brigham Young a reorganizou anos depois. Sob a direção de Eliza Snow, uma das esposas plurais de Young, a organização de mulheres passou a gozar novamente de maiores liberdades, exercendo o seu Sacerdócio para curar, profetizar e realizar outras ordenanças, além de incentivar estudos e carreiras (e até o sufrágio) para mulheres. Infelizmente, essa abertura também foi abortada na virada do século XIX para o XX em concomitância com o fim gradual da poligamia e uma transição de um modelo patriarcal aberto (i.e., poligamia) para um mais velado (i.e., submissividade feminina). O uso do Sacerdócio feminino foi “desencorajado” e a Sociedade de Socorro perdeu sua independência financeira e editorial.

Outra igreja Mórmon, contudo, optou por encerrar esta forma de discriminação baseada em gênero e canonizou na Doutrina e Convênios uma revelação recebida em 1984 pelo bisneto de Joseph Smith, Wallace B. Smith. Desde 1985, mulheres na Comunidade de Cristo são ordenadas ao Sacerdócio normalmente, servindo em diversas posições de liderança, inclusive no Conselho dos Doze Apóstolos e na Primeira Presidência.

Com uma rica tradição de inclusividade às mulheres, tanto nos primórdios Cristãos, como na própria história Mórmon, por que a Igreja SUD insiste em segregar as mulheres para uma condição de status secundário? Esta é uma das perguntas levantadas por muitas mulheres SUD.

Atualidade

Dois artigos recentes no The New York Times descrevem tanto as mudanças recentes dentro da Igreja SUD como a militância de mulheres SUD para serem incluídas dentro da Igreja como “iguais”.

Nos útimos 18 meses, a Igreja reduziu a discrepância de idades entre homens e mulheres para serviço missionário (de 19 e 21 anos, respectivamente, para 18 e 19 anos) e passou a autorizar alguns cargos de lideranças para mulheres missionárias. Além disso, um membro da Primeira Presidência chegou a admitir que a Igreja havia errado no passado justamente enquanto mulheres SUD do movimento ‘Ordain Women’ (n.t., Ordene as Mulheres) tentavam entrar na Reunião do Sacerdócio da Conferência Geral (e protestavam sua exclusão).

Estes passos podem ser vistos como progresso inquestionável. Há duas décadas a Igreja caçava e excomungava mulheres que publicavam artigos acadêmicos sobre Mãe Celestial ou ordenação às mulheres. Hoje protestam e abrem petições online sem serem perseguidas. Há duas décadas, mulheres eram permitidas como missionárias, mas não encorajadas. Hoje são incentivadas a servirem, mais jovens até. Há duas décadas, mulheres eram incentivadas pelo Presidente da Igreja a não trabalharem e não terem carreiras e a serem donas-de-casa integralmente. Oras, há um ano uma mulher até ofereceu uma oração em plena Conferência Geral. A primeira em quase 200 anos. Pasmem! Certamente, houve muito progresso.

Mas não é suficiente ainda, dizem as irmãs da Igreja.

Estas destemidas irmãs da Igreja acreditam que ainda há muito sexismo na abordagem da educação sexual e moral das crianças e adolescentes SUD. Elas se opõe publicamente a uma Autoridade Geral que sobe ao púlpito em Conferência Geral para exortar as mulheres SUD a encontrarem seus propósitos de vida em serviços domésticos. Milhares delas, inclusive, solicitam medidas específicas e práticas às Autoridades Gerais para mitigarem a discrepância no tratamento entre mulheres e homens, como permitir que mulheres abençoem seus filhos, sirvam de testemunhas em ordenanças, possam se selar a seus segundos maridos (após divórcios ou viuvez), ou sejam incluídas nos conselhos de liderança em estacas e nos conselhos gerais.

No frigir dos ovos, tudo repousa na questão de tratar mulheres de maneira egalitária aos homens. Ordenando mulheres ao Sacerdócio, abrem-se as portas para que sirvam em posições de liderança administrativa e institucional. Com as perspectivas femininas sendo levadas em consideração em pé de igualdade com as perspectivas masculinas (que, atualmente, são as únicas), todos os dilemas e desafios vivenciados (e ignorados) por mulheres SUD poderão ser estudadas e consideradas com pertinência e relevância. As mulheres Apóstolas, as mulheres Setenta, as mulheres Bispas e Presidentes de Estaca terão conhecimento pessoal das entrevistas inapropriadas ou do foco exagerado e distorcido em vestimentas, e poderão levantar estas questões nos comitês relevantes. Ademais, a simples visão de mulheres no púlpito, ao leme, e em comando traria às crianças e meninas e adolescentes SUD lições incalculáveis sobre auto-estima feminina, a importância das mulheres na sociedade e na Igreja, e de tratar todas as pessoas, independente de gênero, como iguais perante Deus e os seres humanos.

Experiência Pessoal

Crescendo na Igreja, portando um pênis na Primária e o Sacerdócio na adolescência, eu nunca tinha me dado conta que houvesse diferenças no tratamento entre mulheres e homens. Como membro da classe privilegiada, eu simplesmente achava “natural” que houvesse tais diferenças e ignorava as (poucas) vozes que sugeriam o contrário.

Ela não pode ser considerada menos missionária do que qualquer menino de gravata!

Ela não pode ser considerada menos missionária do que qualquer menino de gravata!

Até a minha missão. Como missionário, eu tive a primeira experiência que me fez realmente considerar a posição feminina.

Na época eu estava servindo como líder de zona, e como tal, era responsável por todos os missionários no meu país. Com a distância da ca

sa da missão, a mim ficava delegado as decisões de autorizações de viagens. Uma das missionárias, Jenny Bartholomew, me ligou no Domingo à noite para passar as estatísticas da semana em sua cidade e aproveitou para me pedir permissão para uma viagem no seu dia de folga.

Eu respondi:

– Ok. Você acha que vocês conseguem voltar antes do anoitecer?

– Eu acho que sim. Mas pode ser que não consigamos.

– Certo. Eu me sentiria mais confortável se vocês fossem com os missionários, então.

– O QUÊ???

– Eu disse que eu me sentiria mais confortável se vocês fossem com os OUTROS missionários. Para segurança.

– Ah, tá! Eu vou falar com eles, então.

Eu adorava a Sister Bartholomew. Ela era muito esforçada, muito trabalhadora, muito mais inteligente que quase todos nós, e certamente a mais adulta da missão (e isso incluindo o Presidente da Missão e esposa). Algumas semanas antes, eu estava visitando a cidade delas, e ela me havia dito que se incomodava como os missionários (homens) tratavam as missionárias como “menos” missionários do que eles. Eu retruquei que achava isso um absurdo, que elas eram idênticas aos outros missionários, e que isso era apenas uma percepção exagerada dela. E ela deixou a conversa por ali.

Eu tenho certeza de que ela se lembrou daquela conversa quando eu cometi o meu ato-falho. Eu estava sendo perfeitamente sincero quando lhe havia dito que as considerava iguais — certamente, eu a considerava mais, pessoalmente, que qualquer outro missionário. Não obstante, eu devo ter ouvido essa distinção tantas vezes, por tantas pessoas (e, infelizmente, pelo Presidente de Missão), que ela se espreitou às minhas palavras de maneira inconsciente e inesperada.

“Eu me sentiria mais confortável se vocês fossem com os missionários.” Como se elas não fossem missionárias! Eu fiquei mortificado. Por semanas, morria de vergonha ao falar com ela, que, graciosamente, jamais tocou no assunto novamente. Contudo, jamais deixou de tocar a minha consciência.

Eu percebi, então, que mulheres na Igreja (e, infelizmente, não apenas na Igreja) passam por desafios que eu, como homem, não consigo nem enxergar direito simplesmente por não vivencia-los. Nós, homens, podemos tentar entender o que vivem as mulheres, mas nunca conseguiremos compreender adequadamente. Por isso, elas merecem ter a voz e a autoridade e o poder para expressar os seus anseios, os seus sonhos, os seus medos, e os seus desafios. E isso nunca ocorrerá enquanto houver homens que acreditam que podem falar (e legislar e profetizar) em seus lugares.

Conclusão

A estrutura social Mórmon em tôrno da Igreja SUD permanece fundamentalmente patriarcal e machista. Acreditar que é um problema que não nos compete solucionar, e que qualquer solução deve vir “de cima pra baixo” é uma postura imoral e preguiçosa. Acreditar que, por ser um problema prevalente em toda a sociedade autóctone seja aceitável que o seja dentro do Mormonismo é ofensivo à própria idéia de que a Igreja deva servir de liderança moral e ética ao Mundo. Parabéns às mulheres que tem a coragem moral de tentar mudar o mundo, e a fé, para que as inclua e as trate dignamente. A nós, homens, nos resta apenas apoiar estas mulheres de coragem.

 

Feminista?

 


Arquivado em:Acadêmicos, Cultura Mórmon, D&C, Estudos Mórmons, História, Joseph Smith, Mórmon, Mormon, Mulher, SUD, Vida Mórmon, Vozes Mórmons Tagged: Associação Brasileira de Estudos Mórmons, cultura mórmon, Dia Internacional da Mulher, doutrina mórmon, doutrina profunda, estudos mórmons, História mórmon, Igreja Mórmon, Mórmon, Mórmons, Mormonismo, Mulheres, Mulheres mórmons, Obra Missionária, Ordenação de Mulheres, Profeta, Revelação, Sacerdócio para Mulheres, SUD, Vozes Mórmons

Quem Eu Acho Que Sou?

$
0
0

Texto por Kristy Money

“Sinto muito por ela, ela deve se sentir bem envergonhada. Ela deve se achar muito de si se acha que é o papel dela criticar a Igreja. Quem ela acha que é, mesmo?”

Este é o comentário mais recente que recebi da minha comunidade SUD depois que saiu um artigo no The New York Times com a minha história, junto com as incríveis histórias de várias mulheres  SUD, falando sobre as experiências delas na Igreja. Recebi este comentário simplesmente por contar minha história, a história de querer segurar minha filhinha recém-nascida enquanto ela fosse abençoada na capela pelo meu marido, e tive este desejo recusado por meu bispo, mesmo que tal pedido nem seja contra o Manual Geral de Instruções.

Também saiu no artigo esta foto de mim com minha filhinha, Rosemary.

Também saiu, no artigo do The New York Times, esta foto minha, com a minha filhinha Rosemary.

Sei que não estou sozinha em receber críticas como esta: sei que muitas outras feministas SUD já foram mal-entendidas e já receberam comentários como este desde antes de eu nascer. Mas sou mais ou menos recém-chegada à comunidade feminista SUD, e à organização Ordene as Mulheres (no original, ‘Ordain Women’), à qual pertenço. Só vai fazer seu primeiro aniversário este mês. Então, mesmo que talvez devesse esperar tal reação, eu não tinha me preparado o suficiente para poder ler tais comentários sem realmente senti-los na pele. Comentários dizendo que estou praticando artimanhas sacerdotais, que sou apóstata, que estou enraivecendo Deus ao expressar meu desejo de segurar minha filhinha com orgulho e amor enquanto ela recebe um nome e uma benção na capela.

É verdade que meu coração praticamente saltou do meu peito quando primeiro vi minha foto e li o meu nome num jornal tão proeminente, mas não acho que este tipo de vergonha é o que esta irmã queria dizer com o seu comentário. Senti-me bem mais envergonhada quando estava no escritório do meu bispo, implorando para poder segurar minha Rosinha durante sua benção.

Abordei meu bispo com este pedido justamente porque eu sabia que ele é um homem justo, um homem bondoso, que fez questão de fazer amizade conosco quando nos mudamos pra sua ala, que parecia talvez um pouco menos rígido do que muitos outros bispos. Por exemplo, o filme preferido dele é ‘O Poderoso Chefão‘. Pensei que talvez ele estaria aberto à ideia, mesmo que fosse um pouco heterodoxa.

Ele disse que sentia muito, mas sua resposta era não. A explicação dele era que “o Manual Geral de Instruções diz claramente que somente portadores do Sacerdócio de Melquisedeque podem participar.”

Em minha voz mais educada, perguntei-lhe se ele estaria disposto a pedir permissão do Presidente de Estaca, especialmente quando um diácono tradicionalmente segura o microfone durante tal tipo de benção, e ele tampouco tem o Sacerdócio maior. Perguntei assim: “Se ele pode segurar o microfone sem o Sacerdócio de Melquisedeque, posso segurar a Rosie da mesma forma?” Eu não estaria participando na ordenança mais que o diácono, ou mais que a cadeira na qual eu estaria sentada. Ele me respondeu que sim, estava disposto a perguntar, mas logo me trouxe a mesma resposta: Não.

Gentilmente, perguntei-lhe outra vez, desta vez tentando apelar ao seu coração, compartilhando alguns dos meus sentimentos mais sinceros. Contei-lhe a história de quando, certa vez, eu estava no consultório do médico pediatra da minha filha e vi um bebezinho cair ao chão e bater a cabeça. O som da batida da cabeça com o chão, o olhar de terror na cara da mãe quando se deu conta de que seu filhinho não estava mais seguro no seu carrinho — eu simplesmente não conseguia tirar este som e esta imagem da minha mente. Sinceramente, eu tinha medo de que alguma coisa parecida pudesse ocorrer com um monte de homens balançando minha filha na frente da capela. Perguntei se existia alguma maneira dele acomodar minhas preocupações e nervos como mãe. Ele me disse não outra vez, arrematando que não queria criar precedentes para outros casos possíveis. Depois da nossa conversa, saí do bispado, achei uma sala vazia, sentei-me e chorei.

No fim das contas, abençoamos Rosinha na casa da minha avó, à beira-mar. No lar onde minha mãe fora criada. A casa onde meus pais celebraram seu casamento. O lugar sagrado onde minha avó me segurava como recém-nascida, onde ela me ajudou a soprar as velas dos meus bolos de aniversário, onde passei parte da minha lua-de-mel com meu marido enquanto minha avó ficava na casa dos meus pais, onde passei as primeiras horas do nascimento da Rosinha após chegar do hospital.

Abençoamos Rosinha num domingo de Páscoa, uma celebração do seu nascimento justamente no dia do renascimento do Salvador. Foi uma experiência espiritual, sagrada e marcante que nunca vou esquecer, sagrada até demais para contar em detalhes aqui. Só digo que, enquanto segurava minha filhinha preciosa e ímpar, meu marido abençoou-a para ser forte e corajosa, sempre lembrando que ela é uma filha querida de Pais Celestiais.

Espero ser forte assim também, por Rosinha e por sua irmã mais velha Evangelina, mês que vem na Conferência Geral quando eu vou, junto com as minhas irmãs de ‘Ordene as Mulheres‘ para o Centro de Conferências em Lago Salgado, chegar às portas durante a Sessão do Sacerdócio, para bater e pedir entrada assim como o Salvador faz no coração de cada um de nós.

Quem eu acho que eu sou? Não sou famosa. Sou a mulher na sua ala tentando me virar na reunião sacramental com crianças pequenas. Sou alguém que ama seu marido fortemente, que considera o dia um sucesso se as crianças comem o suficiente e não saem de casa peladas rua à fora. Procurei estudar porque creio na escritura que diz que “a glória de Deus é inteligência”. Também sou psicóloga, e escolhi este profissão em grande parte por querer poder “chorar com os que choram… e consolar os que necessitam de consolo”.

Sou uma mulher SUD, e não me acho diferente de ninguém. Nem acho que eu seja muito diferente das mulheres que me criticam, como a mulher que fez aquele comentário inicial. Mas, sim, sou diferente num sentido: Creio e oro para que as mulheres possam ser ordenadas ao Sacerdócio.

Se você tem sentimentos parecidos, e talvez queira compartilhar tais sentimentos num perfil do site ‘Ordene as Mulheres‘ (assim como nossas irmãs MicheleGraciela, e Deborah), pode aprender mais fazendo contato neste e-mail: profile@ordainwomen.org.

__________
Relacionado
mulheresOrdenação às Mulheres
women-india-840109-galleryPor que Rapazes Fazem Missão e Moças Fazem Bolos?
Vista Calças Pra SacramentalMachismo no Mormonismo
images (2)Sacerdotisas
missMissionárias Terão Chamados de Liderança

.


Arquivado em:Cultura Mórmon, D&C, Dominicais, Filosofando, Mórmon, Mormon, Mulher, O Livro de Mórmon, SUD, Vida Mórmon, Vozes Mórmons Tagged: Associação Brasileira de Estudos Mórmons, Bispo, Brasil, Conferência Geral, cultura mórmon, Dia Internacional da Mulher, doutrina profunda, Espiritualidade, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Igreja Mórmon, maternidade, Mórmons, Membros, Mormonismo, Mulheres, Obra Missionária, ofício, Ordenação de Mulheres, ordenanças, Ordene as Mulheres, Sacerdócio, Sacerdócio de Melquisedeque, Sacerdócio para Mulheres, SUD, Vozes Mórmons

O Conselho dos 50

$
0
0

podcast 1
Em 1844, apenas três meses antes de sua morte, Joseph Smith estabeleceu uma nova organização composta por 53 indivíduos - incluindo três “gentios” (não-mórmons). Tratava-se de uma instituição teocrática, cuja existência era desconhecida dos membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Tal organização secreta deveria preparar o governo milenar de Cristo na Terra, constituindo um núcleo político inicial do Reino de Deus.

Em uma revelação recebida por Joseph Smith em 1842, o nome da organização havia sido dado por ordem divina:

Assim diz o Senhor, este é o nome pelo qual vocês serão chamados, o Reino de Deus e suas Leis, com suas Chaves e poder, e julgamento nas mãos de seus servos, Ahman Cristo.

Dois anos depois, ele iniciaria a organização desse Reino. Seus membros costumavam chamá-lo por um nome mais breve: Conselho dos 50. 

Apesar de sua enorme importância no pensamento de Joseph Smith, o Conselho dos 50 ainda permanece desconhecido da maioria dos mórmons. Por outro lado, desde a década de 1950, tem sido um dos grandes temas da história mórmon.

William Clayton (1814-1879), secretário do Conselho dos 50

William Clayton (1814-1879), secretário do Conselho dos 50

Antes de partir para a cadeia de Carthage, Joseph Smith instruiu o secretário dos 50, William Clayton, a queimar ou enterrar as atas da organização. Clayton optou pela opção menos radical, de forma que as atas foram preservadas. No entanto, até hoje, as mesmas não se encontram disponíveis para estudo.

Uma ótima notícia veio no ano passado, quando o Departamento de História da Igreja anunciou que as atas poderão vir a ser publicadas pelo projeto Joseph Smith Papers. Há uma grande expectativa sobre o que será publicado e quais questões virão a ser elucidadas pelas novas fontes.

Após o martírio, o Conselho dos 50 Brigham Young assumiu a liderança do Conselho dos 50. Uma de suas primeiras ações foi descontinuar participação dos não-mórmons no Conselho.

Para Brigham Young, assim como as novas ordenanças recebidas no Quórum dos Ungidos, a liderança dos 50 era também uma credencial para futuramente assumir a presidência da Igreja. Ou seja, o Conselho dos 50 era um ponto de disputa nos bastidores da crise de sucessão

Até James Strang – que nunca fora parte dos 50 – fez questão de criar sua própria réplica do Conselho teocrático de Joseph Smith, contando com o auxílio de George Miller, membro original dos 50.

Alpheus Cutler (1784-1864)

Alpheus Cutler (1784-1864)

Assim como na sucessão da Primeira Presidência, a sucessão no Conselho dos 50 tampouco foi livre de controvérsias. Pelo menos três de seus membros quiseram honrar as missões de colonização a eles dadas por Joseph Smith, colocando-as acima da liderança de Young – James Emmet, Alpheus Cutler e Lyman Wight – e acabaram por estabelecer suas próprias organizações.

Entre 1844 e 1884, quando ocorre sua última reunião, o Conselho dos 50 passou por diferentes composições, assumiu diferentes tarefas e recebeu maior ou menor importância da hierarquia mórmon.

Esse fascinante capítulo da história mórmon será abordado na primeira edição do nosso Podcast Mórmon. Marcello Jun e eu apresentaremos o que já foi escrito a respeito do Conselho dos 50 e responderemos perguntas e comentários.

Acompanhe a transmissão ao vivo no próximo sábado, dia 22/03. A transmissão acontece através deste link. Para assistir e participar, é necessário fazer um rápido cadastro no site LiveStream.

Você tem uma pergunta ou comentário sobre o Conselho dos 50? Utilize abaixo o espaço dos comentários.


Arquivado em:Acadêmicos, Cultura Mórmon, Estudos Mórmons, História, Joseph Smith, Mórmon, Mormon, Podcast Mórmon, SUD, Vozes Mórmons Tagged: Alpheus Cutler, Brigham Young, Conselho dos 50, Conselho dos Cinquenta, crise de sucessão, doutrina mórmon, doutrina profunda, gentios, História da Igreja, História mórmon, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Igreja Mórmon, James Emmet, James Strang, Joseph Smith, Joseph Smith Papers, Lyman Wight, Mórmons, Mormonismo, podcast Mórmon, Política, Primeira Presidência, Sucessão Apostólica, Teocracia, Teodemocracia

Reação Contra Mulheres

$
0
0

medalhaoCelebrando o Dia Internacional das Mulheres com uma ‘Semana das Mulheres Mórmons‘ aqui no Vozes Mórmons, recebemos algumas reações que são ilustrativas e representativas, que valem ser exploradas e analisadas.

A própria Igreja SUD reagiu com uma nota oficial (endereçada ao movimento de mulheres SUD conhecido como ‘Ordene às Mulheres’, representado aqui no Vozes Mórmons pela articulada Kristy Money). Esta reação merece ser explorada e analisada.

A triste realidade é que a cultura Mórmon (dentro do contexto SUD) persiste embuído de um profundo senso de preconceito contra mulheres. Expressões populares como sexismo, machismo, e misoginia descrevem aspectos do que, na realidade, é nada mais que um preconceito enraízado na consciência coletiva Mórmon.

Definindo Têrmos

O sociologista francês Émile Durkheim introduziu a noção de “consciência coletiva” como o conjunto de ideias, atitudes morais, e crenças que funcionam como força unificadora dentro de sociedades específicas. O compartilhamento de ideias, crenças, e morais forja uma identidade coletiva que doutra maneira jamais existiria além do individualismo primário.

Mórmons, como quaisquer outros grupos, derivam seu senso de identidade enquanto grupo (social, religioso, etc.) deste conjunto de noções básicas compartilhadas. Dentre estas noções está a crença de que mulheres são inferiores e subservientes aos homens. Esta noção coletiva está fundamentada em preconceitos históricos contra mulheres.

Preconceito é um substantivo que descreve a (falta de) qualidade e rigor intelectual ou moral de determinados conjuntos de crenças ou atitudes. A definição de dicionário não poderia ser menos clara:

1. Ideia ou conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério ou imparcial.

2. Opinião desfavorável que não é baseada em dados objectivos. = INTOLERÂNCIA

3. Estado de abusão, de cegueira moral.

4. Superstição.

Assim sendo, preconceito contra mulheres pode ser definido claramente como uma idéia ou conceito sobre mulheres formado sem fundamento sério ou imparcial, possivelmente através de estado de abusão ou cegueira moral ou superstição, levando à uma opinião desfavorável que não é baseada em dados objetivos.

Misoginia (ódio ou desgosto de mulheres), sexismo, ou machismo são, assim, definidos.

Priberam: “Ideologia segundo a qual o homem domina socialmente a mulher.”

Michaelis: “Atitude ou comportamento de quem não admite a igualdade de direitos para o homem e a mulher…”

Porto: “ideologia que defende a supremacia do macho; atitude de dominação do homem em relação à mulher baseada na não aceitação da igualdade de direitos.”

Sociólogo Allan Johnson:

A [misoginia] é um aspecto central do preconceito sexista e ideológico, e, como tal, é uma base importante para a opressão de mulheres em sociedades dominadas pelo homem.

Relatório da OCDE sobre Sexismo Profissional:

Em muitos países, discriminação no mercado de trabalho é um fator crucial para disparidades de empregabilidade… influenciadas por valores culturais e sociais aprendidos de que se pode discriminar contra mulheres… por estereotipar determinadas tarefas ou estilos de vida como ‘masculinas’ ou ‘femininas’…

Relatório da ONU sobre Desafios de Mulheres Pelo Mundo:

…de modo geral, a inigualdade entre mulheres e homens em várias dimensões são determinadas pelas expectativas diferentes em papéis de gênero nas áreas produtivas e reprodutivas. Por exemplo… educação em alguns países involve menor investimento para meninas do que para meninos devido às baixas expectativas de retorno no investimento em mulheres. Ademais, o status subordinado de mulheres no lar é utilizado como argumento contra o investimento de tempo, além do aumento de incidência de violência contra a mulher. Mulheres trabalham mais horas que homens, com menos oportunidades no mercado de trabalho formal, porque as tarefas domésticas não são distribuídas igualmente dentro do lar…

O grande mal, como se pode imaginar, ocorre quando a consciência coletiva é fundamentada num conjunto de crenças baseadas em preconceitos nocivos a determinados grupos minoritários dentro do coletivo. No caso em questão, este grupo minoritário compõe metade do coletivo que, por motivos históricos de opressão e subjugação, permanece minoritário em acesso a poder e influência.

Ninguém disputa que as sociedades autóctones onde se insere o Mormonismo também não abraça preconceitos sexistas. Como vimos acima, o machismo é um problema endêmico na maioria das sociedades atuais. Contudo, isso tampouco desculpa o fato — e a relevância e a malignidade — do machismo prevalente dentro do Mormonismo.

Machismo Mórmon?

As reações mencionadas acima, que serão exploradas brevemente abaixo, expõe com clareza e sem ambiguidade o quão enraízado o preconceito machista está no consciente coletivo Mórmon.

A começar com a reação oficial da Igreja.

Em publicação oficial, a Igreja solicitou às mulheres do movimento ‘Ordene às Mulheres’ que se abstenham de manifestar seus desejos publicamente para serem maís incluídas dentro da sociedade Mórmon. O que estas mulhers desejam nada mais é que igualdade entre homens e mulheres — em status social, em oportunidades de liderança e decisão executiva, e de poder — e a resposta oficial da Igreja a este anseio resume-se assim em assegura-las que concessões recentes oferecidas pela liderança masculina deveriam satisfaze-las e que então deveriam por-se em seus devidos lugares:

Algumas conversas maravilhosas vem sido, e estão sendo, tidas concernente mulheres na Igreja e contribuições incalculáveis são feitas. As recentes mudanças que vocês viram, mais notadamente ao abaixarmos a idade mínima para missionárias, servem de exemplos e foram facilitadas pela sugestão de muitas mulheres SUD extraordinárias de todo o mundo.

Mulheres na Igreja, por uma larga maioria, não compartilham da sua advocacia pela ordenação ao Sacerdócio para mulheres e consideram esta posição extrema demais.

A Sessão do Sacerdócio da Conferência Geral é desenhada para fortalecer os homens e os meninos… Convidamo-nas, como nossas irmãs, a participar com mulheres de todo lugar na reunião paralela para mulheres e meninas… A reunião para mulheres é uma congregação notória de irmandade mundial… para focar na enaltação e doutrinas eternas relacionadas às mulheres.

O que esta representante oficial da Igreja está dizendo é que mulheres devem manter-se satisfeitas com o que recebem dos homens que lideram suas vidas espirituais e religiosas. Não é o lugar delas pensarem por si mesmas quais são as suas necessidades emocionais e espirituais, pois há homens encarregados que pensarão por elas. Ademais, além de não ponderem pensar ou decidir por si mesmas, elas devem agradecer pelo que já lhes foi feito ao invés de expressar o que elas realmente desejariam que se fizessem. O subtexto implícito aqui é que mulheres são incapazes de decidirem ou pensarem ou ponderarem (ou receberem revelações de Deus, que, supostamente, só aceitaria conversar com homens) por si mesmas, para si mesmas. Homens existem para fazer isso por elas.

Ignoremos, por um instante, a mentira de que a idade mínima para mulheres missionárias foi reduzida por causa de sugestões de mulheres mundo afora (assista aqui o Apóstolo Russell Nelson e Jeffrey Holland desmentindo essa afirmação), o fato permanece que, ainda que as idades mínimas tenham sido reduzidas, há uma diferenciação desnecessária e  ilógica entre homens e mulheres, aqueles podendo servir desde os 18 anos (e por 2 anos) enquanto estas apenas após os 19 anos (e por apenas 18 meses). Tal diferenciação, inteiramente sem qualquer motivo racional, apenas serve para manter o status inferior de mulheres frente aos homens.

Ninguém, óbviamente, gosta de ser classificado como preconceituoso. Pessoas sempre pensam bem de si mesmas por natureza. Isso é um viés cognitivo conhecido entres cientistas como o Efeito Dunning-Kruger (ou “superioridade ilusória”). Quando confrontadas com fatos que demonstram que desconfirmem suas crenças (e.g., que elas não sejam tão boas como imaginam ser) elas sofrem emocionalmente. Isso é uma reação cognitiva conhecida entre cientistas como Dissonância Cognitiva. Para reduzir a dissonância e ao mesmo tempo manter a superioridade ilusória, as pessoas costumeiramente se apegam aos seus preconceitos com mais afinco e alteram as aparências e consequências mais óbvias e externas. Neste caso, se vamos reduzir a idade mínima dos missionários, para não parecermos sexistas, vamos reduzir a idade mínima das missionárias também — mas não de maneira igual, pois afinal não são iguais! O sexismo não desaparece, apenas a aparência do sexismo.

O mesmo acontece com as sessões de Conferência Geral. Há uma sessão especificamente desenhada para homens (e meninos). Não podemos deixar entrar mulheres  no “clube especial para homens” pois ele deixaria de ser especial. Criamos, então, uma reunião para as mulheres e para lá devem ir. Não nos preocuparemos com o que elas querem, pois enquanto homens, sabemos o que é melhor para elas. Por havermos criado uma sessão só para elas, longe de nós homens, mostramos que não somos sexistas — há reuniões “exclusivas” para ambos os gêneros!

Mas o mais chama a atenção neste comunicado oficial é o roubo da voz. Mulheres não tem direito a sua própria voz. Elas não podem pedir o Sacerdócio. Serão expulsas do “espaço sagrado” em tôrno da Conferência. Elas não podem sequer determinar sua voz, pois lhes é dito o que “a maioria” das mulheres não quer o Sacerdócio. Mesmo que isso fosse verdade (ver abaixo), compete aos homens — e não às mulheres — estabelecer o que a maioria delas quer ou não quer.

E o golpe final é colocar toda essa argumentação machista na voz de uma mulher. Com dezenas de funcionários, o departamento de relações públicas coloca uma mulher para anunciar o repúdio da Igreja a este singelo movimento de mulheres SUD. Inseridas num contexto patriarcal por gerações — e por todas as suas vidas pessoais — mulheres passam a, passivamente, aceitar o modelo misoginista através de um processo psicológico denominado de sexismo internalizado.

Nenhum preconceito institucional seria relevante, contudo, se ele não distilasse pela população propriamente dita. No nosso caso específico, o seximos institucional SUD seria irrelevante se isso não se traduzisse em sexismo entre os membros da Igreja SUD. Certamente, não se pode dizer que todos os SUD, mas é preciso averiguar se não pode dizer que uma maioria significativa o seja.

A título de exemplos, seguem agora exemplos de reações de membros da Igreja aos artigos publicados aqui sobre o tema de mulheres Mórmons. Eles representam, de grosso modo, a maioria das reações (mas não todas — tivemos também muitas respostas positivas) e servem de exemplos claros de um machismo (às vezes) velado e insipiente. Como todo preconceito, suas argumentações são fundamentadas em profunda ignorância e medo. Como todo preconceito, eles se estruturam em uma ilusão de superioridade para defender-se de uma visível dissonância cognitiva.

Os comentários não estão incluídos aqui para escárnio, mas para educação e reflexão. O importante é enxergar os problemas aqui discutidos por detrás das palavras…

…não acho que nós mulheres precisamos ser ordenadas ao sacerdócio, sinceramente, acho que já o temos sem precisarmos sermos ordenadas (temos uma ligação imensa com o pai celestial e poderes grandiosos)

Ninguém duvida que esta mulher seja especial ou que não tenha “ligação imensa com o pai celestial e poderes grandiosos”. Mas ela não consegue perceber que sem “ser ordenada ao sacerdócio”, seus dons são secundários aos dons de qualquer homem que possa ser assim ordenado.

Ademais, a estruturação da sociedade Mórmon ao redor do Sacerdócio significa que o seu status enquanto mulher é secundário ao dos homens que a lideram, seus “poderes” e sua “ligação” não obstante.

Nao precisamos de maneira alguma receber o sacerdócio.Cada um tem seu papel a cumprir!

Não existe motivo racional e lógico que dite que mulheres não possam cumprir os mesmos papéis que homens. Mulheres são pessoas tanto quanto os homens, e como pessoas, cada uma tem talentos e dons específicos. Mulheres não tem um conjunto de talentos específicos que homens não possuem e vice-versa.

nunca tiveram nem terão [o Sacerdócio]!

Este comentário é simplesmente expõe profunda ignorância de história Mórmon e história Cristã.

Na minha opinião eu também acho desnecessário sacerdócio às mulheres, por uma razão simples, elas estão num estado espiritual bem mais elevado que nós homens, e digo isso também do fundo de minha alma…

Alguns homens acham que estão elogiando as mulheres com esse argumento, mas trata-se apenas de um sexismo velado. Homens e mulheres são pessoas, e como pessoas, apresentam dons individuais e idiosincráticos a cada pessoa. Promover a ideia de que determinado grupo (e.g., mulheres, Negros, Asiáticos, cegos, etc.) apresenta características distintas e separadas do resto da espécie de Seres Humanos é preconceituoso (e desprovado por centenas de estudos científicos).

Há mulheres espirituais e há mulheres não espirituais, assim como há homens espirituais e homens não espirituais.

Sempre vejo os temas abordados pela página e sempre tem alguma história de que alguém pediu alguma coisa a algum líder e o mesmo não concordou com ideia e pronto, vira polêmica.. Essa de mulheres serem ordenadas ao sacerdócio, foi demais!!! Somos nós que temos que nos adaptar a igreja, e não a igreja a nós!!!

A mensagem para as mulheres é: Não reclamem e aceitem seu status de segunda classe caladas. Os homens controlam a Igreja, e por tabela, as suas vidas? Então é assim que tem que ser.

Querer igualar o que eh diferente, eh complicado… Mas, assim como a jovem do texto, elas tem o arbítrio, segue se quiser. Lembrando sempre que elas precisam convocar com urgência a mãe celeste, poxa, coitadinha, passou o tempo todo sendo oprimida, nunca apareceu, nunca revelou nada, apenas o machista do seu esposo, vdg ele que manda, ele que aparece, manda apenas filhos cuidarem do seu povo, a autoridade para os filhos, anjos masculinos, ela nao reclamou por ter mandado um filho pra ser o salvador e nao uma filha, etc. etc. E tem que ser rápido, quanto tempo ela não já perdeu? Vi, estamos no últimos dias, se não correr o mundo acaba… Aff

O comentarista é intelectualmente incapaz de perceber o motivo porque homens recebem revelações sobre um Deus homem que ordena subjulgar mulheres e não recebem revelações sobre uma Deusa mulher!

Além da estupidez do comentário, nota-se uma profunda ignorância histórica sobre a questão de orar à Mãe Celestial. Apenas nas duas últimas décadas, Gordon Hinckley et al. orquestrou a excomunhão de várias mulheres que justamente defendiam pensar sobre — e orar para — a Mãe Celestial. Lynne Kanavel Whitesides, Maxine Hanks, Lavina Fielding Anderson, Janice M. Allred, e Margaret Toscano foram disciplinadas (i.e., excomungadas da Igreja) por escrever artigos e palestras e livros sobre, entre outras coisas, a Mãe Celestial.

O tom sarcástico e debochado, em conjunto com o preconceito latente e a ignorância dos fatos, apenas serve para demonstrar o desprezo inconsciente pelas preocupações e interesses das mulheres que saltam por detrás das palavras escolhidas para esconde-lo.

Sobre o Sacerdócio, as perguntas inicias deveriam começar com: Por que eu oro ao Pai Celeste e não a Mãe Celeste? Por que se apresentou dois homens para ser o Salvador e não foram mulheres? Por que foi escolhido um homem e não uma mulher? Por que Adão foi o primeiro e não Eva? E por aí vai, até chegar na pergunta do motivo dos meninos distribuírem o sacramento.

Novamente, a incapacidade intelectual de compreender as forças sociais e culturais que estabeleceram a estrutura patriarcal em conjunto com a mitologia fundacional de Criação. Adão veio primeiro porque homens escreveram o texto, e não mulheres. Isso é óbvio para qualquer pessoa inteligente que pára para pensar racionalmente no contexto histórico e cultural dos textos religiosos. Contudo, preconceito não é racional.

Não existe ordenação de mulheres ao sacerdócio no VT, não existe no Livro de Mormon, não existe em D&C, não existe em Pérola de Grande Valor, será se esqueci do NT? Não, não existe no NT, a não ser se pretendemos forçar poucos textos, a maior prova foi a o próprio Mestre, que chamou 12 HOMENS pra guiar sua igreja e portar as chaves, acho que não existe dúvidas

Novamente, o mesmo processo de cretinismo intelectual, reduzindo forças sociais e culturais complexas e milenares em modelos banais e simplistas, apenas para justificar o preconceito e reduzir a dissonância. Ignorando, ainda, que alguns Cristãos abraçavam a ordenaçam de mulheres no Cristianismo Primitivo (ver em “antecedentes”).

Sem esquecer de um grande detalhe, as mulheres que reivindicam o sacerdócio, precisam convocar com urgência a mãe celeste, poxa, coitadinha, passou o tempo todo sendo oprimida, nunca apareceu, nunca revelou nada, apenas o machista do seu esposo, ele que manda, ele que aparece, manda apenas filhos cuidarem do seu povo, a autoridade para os filhos, anjos masculinos, ela nao reclamou por ter mandado um filho pra ser o salvador e nao uma filha, etc. etc. E tem que ser rápido, quanto tempo ela não já perdeu? Vi, estamos no últimos dias, se não correr o mundo acaba… Aff

Os mesmos processos de redução de dissonância através de ignorância e submissão forçada, com tons de deboche e humilhação. Mostre este texto para qualquer psicólogo e as chances são grandes deste detectar mecanismos verbais de abuso emocional e psicológico nele. Infelizmente, muitos homens Mórmons são treinados desde a infância a interagirem assim com mulheres. A divisão entre meninos de 12 anos que são importantes e recebem o Sacerdócio e meninas de 12 anos que são mocinhas que vão aprender a costurar, cozinhar, e limpar deixa tais legados até a fase adulta.

Não é questão de falta de evidências, é questão são as provas contrárias. Vc está querendo dizer que poderia ter vindo uma salvadora ao invés do Salvador? Que no conselho era pra haverem mulheres se apresentando? E Eva poderia ser a primeira ao invés de Adão? E Jesus, poderia ter chamado 12 mulheres? OU se não pode, desde a existência pre mortal, qual base pra hoje mudar isso? Ou seja, desde a vida pré mortal eram homens, passou todo o tempo homens, e no fim dos tempos mulheres? A incoerência é explicita. A não ser que a mãe celeste comece a se manifestar.

Para este homem, é completamente inconcebível que uma mulher fosse importante o suficiente para ser uma “Salvardora”. Ou uma “Apóstola” (apesar de haver uma no Novo Testamento, que ele obviamente irá ignorar ou fingir que não está escrito o que está escrito).

As mulheres que fazem missão no templo tem autorização para exercer o sacerdócio, mas não o tem, não são portadoras. Isso é necessário para as ordenanças de investidura. Mas não concordo com a ideia de as mulheres receberem o sacerdócio, já temos responsabilidades demais como mães e esposa. Se um dia isso acontecer, torço muito para que os homens menstruem e fiquem grávidos!!

Reduzir as diferenças entre mulheres e homens aos genitais é, talvez, a forma mais crassa de sexismo que há. A mulher não é definida por sua vagina, ou seu útero, ou sua menstruação, ou sua capacidade de engravidar. Uma mulher que nasce com a Síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser não tem útero, não menstrua, e nunca engravidará, mas ela não é menos mulher que qualquer outra. E uma mulher que menstrua e engravida não é uma pessoa diferente de um homem que não menstrua e não engravida.

As responsabilidades de mãe e esposa devem ser as mesmas que as responsabilidades de pai e marido. Ambos devem dividir suas responsabilidades domésticas igualmente, e ambos podem servir sua comunidade religiosa igualmente.

…é uma regra o portador do sacerdócio ter que segurar a criança pra dar uma benção?

Procurar esconder o sexismo atrás de regras não o torna inexistente. Se é ou não é uma regra, é irrelevante. Esta é uma pergunta que não deveria sequer ser feita. Uma mulher deveria poder segurar seu bebê ao ser abençoado — ou abençoa-lo ela mesmo.

Em todas as alas que eu passei o terceiro discursante sempre foi um homem e na presidencia da dominical tb sempre vi homens sendo chamados. No meu ramo, nessas duas situações são mulheres.

Costumes, assim como regras, tampouco servem de justificativas racionais para práticas preconceituosas.

O terceiro orador e o presidente da escola dominical podem ser mulheres.

Podem ser mulheres? A forma não misoginista desta formulação seria: “Mulheres podem ser o que elas quiserem ser. Elas podem ser oradoras, presidentes, profetas, matriarcas, apóstolas, etc.”

Mas presidente da Escola Dominical ser mulher???
Alguém pode esclarecer como pode ser uma mulher presidente da escola dominical?

Simples. Elimando o preconceito contra mulheres de servirem em quaisquer capacidades para as quais seus talentos e dons individuais as qualificam enquanto seres humanos.

Em minha estaca anterior as mulheres podiam ser ultimas oradoras, já na minha estaca atual não. Nosso presidente de estaca recebeu instrução do setenta na conferência da estaca, não como regra, mas apenas para, em suas palavras, “seguir o exemplo da primeira presidência”. Por isso a presidência da estaca pediu aos bispados colocarem portadores do sacerdócio como últimos oradores.

E aí está, o principal motivo porque mulheres devem receber o Sacerdócio e servirem em posições de liderança, e como Apóstolas e Profetisas! “[S]eguir o exemplo da [P]rimeira [P]residência” é o maior e mais forte argumento para manter-se o status quo patriarcal e misoginista, e será o maior e mais forte argumento contra o preconceito e a misonigia quando o status quo mudar!

textos com forte teor feminista, assim como o machismo não deve ser aceito em qualquer grupo inclusive o religioso o feminismo e tão pernicioso e capaz de destruir valores quanto o machismo,tem tarefas que sinto dó de ver uma mulher realizar, mas sei que a mesma realiza por falta de oportunidade ou necessidade já fui missionário e sei a dificuldade que o missionário passa no campo, ontem mesmo vi o testemunho de uma síster que falava dos sofrimentos no campo, espirituais e físicos e relembrei como isso se passava comigo que não nasci na igreja e depois de um ano de membro fui para o campo sem saber o que me esperava, e fico pensando como é para as sísteres passar pela dureza do campo sendo elas mas refinadas e sensíveis sei que essas mulheres são super valorosas pois alem de estarem preparando-se para o casamento antes disso saem para dividir aquilo que lhe faz feliz, melhor que palavras ao vento de quem não pode lhe passar uma experiencia como a autora do texto e sentar-se por meia hora e usufruir da companhia de quem já pode viver esses ensinamentos e hoje poder pela experiencia tratar do assunto com verdadeira propriedade.

Feminismo é, por definição de dicionário, o “[m]ovimento ideológico que preconiza a ampliação legal dos direitos civis e políticos da mulher ou a igualdade dos direitos dela aos do homem”. A ninguém, exceto ao machista, ofende a noção de mulheres serem tratadas igualmente a homens.

O argumento machista de “proteger” as mulheres por serem “refinadas e sensíveis” nada mais é que uma manifestação velada da ilusão de superioridade — eu sou machista, mas machismo é imoral, e eu me acho uma pessoa moral, então o meu machismo é “do tipo benigno”; eu “protejo”, não discrimino!

Nota-se o machismo inerente no comentário quando o autor procede a ofender uma mulher por ser jovem e solteira, como se essas condições lhe impossibilitassem de compreender sua condição de mulher. Ademais, sugere o autor que a única função de vida significante para uma mulher é ser “casada” com um homem e, portanto, a jovem e solteira deveria se “prepara[r] para o casamento” com um homem para que se complete como ser humano, ao invés de ponderar na sua vida e na sua condição feminina.

Conclusão

É importante salientar que Mórmons não acreditam que estão sendo sexistas enquanto tratam suas mulheres como correligionárias secundárias. Na maioria dos casos, e provavelmente na maioria dos líderes, Mórmons acreditam que estão sendo perfeitamente justos e caridosos com suas mulheres.

Não obstante, o preconceito é real e inegável. Assim  como é real o sofrimento e constrangimento causado por ele. Muda-lo não será tarefa fácil, ou simples, ou rápida. O primeiro passo seria reduzir a dissonância cognitiva aceitando e admitindo sua existência. O segundo passo seria reduzir a superioridade ilusória pedindo desculpas e planejando rectificação. O terceiro passo seria alterar o consciente coletivo incluindo mulheres em status de igualdade (e.g., ordenando-as ao Sacerdócio, chamando-as a posições de liderança como Bispas, Setentas, Apóstolas, etc.). Apenas após estas 3 fases poderíamos começar a curar-nos deste mal e evoluir para um Mormonismo inclusivo, sem sexismo ou misoginia.

Não são esses, afinal, os famosos “passos” para arrependimento que aprendemos nas escolas dominicais? Não precisamos, então, nos arrependermos de nossos pecados coletivos e geracionais contra nossas mulheres?

___

Se você começa uma frase com "não sou machista, mas..." você pode ter certeza de que está sendo machista.

Se você começa uma frase com “não sou machista, mas…” você pode ter certeza de que está sendo machista.


Arquivado em:Acadêmicos, Conferência Geral, Cultura Mórmon, Estudos Mórmons, Filosofando, Mórmon, Mormon, Mulher, SUD, Vida Mórmon, Vozes Mórmons Tagged: Associação Brasileira de Estudos Mórmons, cultura mórmon, doutrina mórmon, doutrina profunda, Espiritualidade, estudos mórmons, História mórmon, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Igreja Mórmon, Mórmon, Mórmons, Membros, Mormonismo, Mulheres, Mulheres mórmons, Sacerdócio, SUD, Vozes Mórmons

Podcast Mórmon #101 – O Conselho dos 50

$
0
0

A Associação Brasileira de Estudos Mórmons e o Vozes Mórmons anunciam o início de um projeto coletivo de podcasts para discussão de temas relacionados ao Mormonismo: O Podcast Mórmon.

Neste primeiro episódio Antônio Trevisan e Marcello Jun discutem o passado e o futuro da pesquisa acadêmico-histórica de um importante capítulo na história Mórmon: a fundação e o crescimento do Conselho dos 50, estabelecido por Joseph Smith em março de 1844 para servir como o braço político do Reino de Deus na Terra.

Assista aqui o podcast na íntegra:

[Ilustrada aqui a bandeira do Reino de Deus, ou do Conselho dos 50]

Em 1844, apenas três meses antes de sua morte, Joseph Smith estabeleceu uma nova organização composta por 53 indivíduos – incluindo três “gentios” (não-mórmons). Tratava-se de uma instituição teocrática, cuja existência era desconhecida dos membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Tal organização secreta deveria preparar o governo milenar de Cristo na Terra, constituindo um núcleo político inicial do Reino de Deus.

Em uma revelação recebida por Joseph Smith em 1842, o nome da organização havia sido dado por ordem divina:

Assim diz o Senhor, este é o nome pelo qual vocês serão chamados, o Reino de Deus e suas Leis, com suas Chaves e poder, e julgamento nas mãos de seus servos, Ahman Cristo.

Dois anos depois, ele iniciaria a organização desse Reino. Seus membros costumavam chamá-lo por um nome mais breve: Conselho dos 50. Outros se referiam à organização em seus diários como “YTFIF” (palavra inglesa “fifty”, de trás para frente) e “Conselho do Reino”, entre outros.

Apesar de sua enorme importância no pensamento de Joseph Smith, o Conselho dos 50 ainda permanece desconhecido da maioria dos mórmons. Não há, por exemplo, nenhuma menção do Conselho em manuais do Sistema Educacional ou outras publicações da Igreja sud. Por outro lado, desde a década de 1950, tem sido um dos grandes temas da história mórmon.

Antes de partir para a cadeia de Carthage, Joseph Smith instruiu o secretário dos 50, William Clayton, a queimar ou enterrar as atas da organização. Em 22 de junho de 1844, Clayton registrou em seu diário:

Joseph sussurrou e disse-me para colocar os r[egistros] do R[eino] nas mãos de um homem fiel e mandá-los para longe, ou queimá-los, ou enterrá-los, o que fiz imediatamente após retornar para casa.

Graças à sua escolha, as atas foram preservadas. No entanto, até hoje, não se encontram disponíveis para estudo.

Uma ótima notícia veio no ano passado, quando o Departamento de História da Igreja anunciou que as atas poderão vir a ser publicadas pelo projeto Joseph Smith Papers. Há uma grande expectativa sobre o que será publicado e quais questões virão a ser elucidadas pelas novas fontes.

Após o martírio, o Conselho dos 50 Brigham Young assumiu a liderança do Conselho dos 50. Uma de suas primeiras ações foi descontinuar participação dos não-mórmons no Conselho.

Para Brigham Young, assim como as novas ordenanças recebidas no Quórum dos Ungidos, a liderança dos 50 era também uma credencial para futuramente assumir a presidência da Igreja. Ou seja, o Conselho dos 50 era um ponto de disputa nos bastidores da crise de sucessão

Até James Strang – que nunca fora parte dos 50 – fez questão de criar sua própria réplica do Conselho teocrático de Joseph Smith, contando com o auxílio de George Miller, membro original dos 50.

Assim como na sucessão da Primeira Presidência, a sucessão no Conselho dos 50 tampouco foi livre de controvérsias. Pelo menos três de seus membros quiseram honrar as missões de colonização a eles dadas por Joseph Smith, colocando-as acima da liderança de Young – James Emmet, Alpheus Cutler e Lyman Wight – e acabaram por estabelecer suas próprias organizações.

Entre 1844 e 1884, quando ocorreu sua última reunião, o Conselho dos 50 passou por diferentes composições, assumiu diferentes tarefas e recebeu maior ou menor importância da hierarquia mórmon.

Você tem uma pergunta ou comentário adicionais sobre o Conselho dos 50?

Você tem alguma sugestão ou solicitação para o próximo episódio do Podcast Mórmon? Utilize abaixo o espaço dos comentários.

50

 

Artigos citados no podcast (listados por data de publicação)

HANSEN, Klaus J. The Metamorphosis of the Kingdom of God: Toward a Reinterpretation of Mormon History.  Dialogue: A Journal of  Mormon Thought, vol. 1 no. 3, 1966.

QUINN, D. Michael. The Council of Fifty and Its Members, 1844 to 1945. BYU Studies vol. 20, no. 2, 1980.

EHAT, Andrew. “It Seems Like Heaven Began on Earth”: Joseph Smith and the Constitution of the Kingdom of God. BYU Studies vol 20, no 3, 1980.

BLYTHE, Cristopher J. “… But the future will write up the past, when all will be made plain…” What we will learn with the publication of the Council of Fifty minutes. 2013


Arquivado em:Acadêmicos, Bibliografias, Cultura Mórmon, Estudos Mórmons, História, Joseph Smith, Mórmon, Mormon, Podcast Mórmon, Política, Vida Mórmon, Vozes Mórmons Tagged: Associação Brasileira de Estudos Mórmons, Brigham Young, Conselho dos, doutrina mórmon, doutrina profunda, estudos mórmons, História mórmon, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Igreja Mórmon, Joseph Smith, Mórmons, Mórmons na política, Mormonismo, Nauvoo, pol, Política, Profeta, Reino de Deus, SUD, Vozes Mórmons

Por que você é firme na Igreja?

$
0
0

Compromisso, Coerência e Aprovação Social

O primeiro contato com a Igreja é com os missionários. Logo eles pedem para você orar e ler o Livro de Mórmon. Fazem esse primeiro compromisso, além de marcarem a segunda visita. Os vizinhos já viram eles entrando na sua casa e a sua família já sabe ou esteve presente. Então, por ter gostado, achado eles lindos ou pra não ser anti-social, você marca a segunda visita. Com a próxima visita agendada, você fica preocupado em ler o Livro de Mórmon e orar daquele jeito que ensinaram pra perguntar a Deus se o livro é verdadeiro.O dia da segunda palestra chega. Você aguardou eles porque, afinal de contas, não quer parecer uma pessoa “sem palavra”, mas “eu não quero me batizar”, você pensa consigo. Os missionários  perguntam se você leu o livro e se orou. Você responde que sim, pois você assumiu um compromisso e cumpriu. Te convidam pra visitar a Igreja. Você vai, acorda cedo, é cumprimentado pelo pessoal da Igreja e fica lá nas três horas, mesmo não entendendo nada.

Marcam várias visitas e ainda te convidam para fazer parte da Igreja se batizando. Você vai recusar o convite de batismo, mesmo depois de ter recebido eles na sua casa por mais de cinco vezes, da sua família e a vizinhança toda ter visto, de ter ido na Igreja, de ter lido tudo que eles pediram, de ter orado e de até ter feito lanchinho pra eles? Mesmo relutante, eles te convencem e você aceita o batismo. Antes do batismo você conhece outro “élder” que te pergunta umas coisas e diz que você foi aprovado; e pede para assinar numa folha. No dia do batismo você convidou todos os seus conhecidos e a sua família, mas só o seu irmãozinho de 11 anos vai, mas a galera da Igreja está presente, principalmente os jovens e o Bispo. Agora é público o seu batismo e filiação na Igreja.

Tudo começou lá na primeira visita, onde fez os primeiros pequenos compromissos, que foram aumentando até fazer parte da Igreja. E quando você achava que já tinha ido longe demais, alguém te convida pra uma sala, faz uma oração e pede pra você ter a responsabilidade de recolher hinário de uma tal de sacramental. Mesmo relutante, você aceita. No corredor uma mulher te convida pra fazer estudo bíblico todo dia de manhã cedo (ou só aos sábados, o Instituto).

Você vai ao estudo bíblico, que chamam de seminário, faz amizade com a gurizadinha. Aí vai ao shopping durante a semana, na Renner, comprar pela primeira vez na vida uma roupa de crente. Chega no domingo, de gravata (ou de saia comprida), já conhece quase todo mundo da Igreja. Na reunião que todo mundo fica junto, o pessoal começa a subir lá na frente e falar de testemunho. As meninas do seminário, que subiram de mãos dadas, e uma mulher começam a chorar e não conseguem falar, tamanha a emoção. Deu até vontade de você subir também e falar em como sua vida mudou. Termina a reunião e você vai dar almoço para os missionários. No almoço eles marcam para apresentar seus amigos para ouvirem uma palestra. Você vai porque, afinal de contas, você se batizou, já conhece mais de 100 mórmons, viu o profeta no data-show ao vivo e um piano gigante de ouro, já entrou na sala do Bispo, faz seminário, faz uma oração por dia, você curte a pagina de todas as comunidades de membros da Igreja, presta testemunho em todos os comentários que falam “contra” a Igreja e você começa a achar que quem não é mórmon não o é porque não tem fé e está condenado. Você ainda é o responsável por guardar os hinários da sacramental, joga futebol com a galera, já leu três capítulos do Livro de Mórmon, quase deu o seu testemunho, sua mãe fala que os missionários te tiraram da perdição e até almoço pra seis “elders” já deu.

A crise de Fé

Passado dois meses após o batismo, vem a primeira crise de fé. Você se dá conta que foi longe demais e começa a sentir saudade da vida “mundana” que tinha. Mas pensa consigo: “não posso sair da Igreja. Fui contra a minha mãe, fugi dos meus amigos fornicadores, o Bispo sabe onde eu moro, conheço todo mundo da Igreja, o que eles vão pensar de mim? Minha família vai dizer que eu não tenho jeito e os mórmons vão falar mal de mim!”.

Nesta introspecção, você quer decidir sair da Igreja, mas você já assumiu tantos compromissos pessoais e públicos que torna-se uma luta interna tal decisão. A dificuldade de qualquer pessoa é que queremos nos manter coerentes na decisão tomada, é cultural. Segundo o psicólogo social, Robert B. Cialdini:

… [a] coerência é valorizada, enquanto que a incoerência é vista como um traço de personalidade indesejado. A pessoa cujas crenças, palavras e ações não condizem é vista como confusa, hipócrita e até mentalmente doente. Por outro lado, um alto grau de coerência costuma estar associado à força pessoal e intelectual. É a base da lógica, da racionalidade, da estabilidade e da honestidade.

Sempre reagimos de maneira que justifique as nossas decisões. Fica mais sério ainda quando passamos por contratempos e sofrimentos. Se escolhemos torcer pelo Corinthians, mesmo na derrota, nos convencemos e tentamos convencer que a nossa escolha foi certa; e acreditamos que vai melhorar. Aquela namorada (ou namorado) que nos prejudica, vamos defender e nos convencer da nossa escolha até onde pudermos; e acreditamos que vamos nos dar bem. Quando escolhemos um candidato, acreditamos que vai vencer a eleição; nos convencemos disto. Todos nos enganamos de vez em quando para manter nossos pensamentos e crenças coerentes com o que já fizemos ou decidimos (Cialdini).

Os vendedores usam desta artimanha quando sugerem experimentar um produto e, feito um orçamento, ficamos até constrangidos quando não compramos. As lojas de brinquedos anunciam um brinquedo a ser lançado no Natal, então prometemos dar de presente ao nosso filho, com condição de ser estudar mais, ser mais obediente… A loja propositalmente retira o tal brinquedo prometido ou deixa com estoque reduzido. Ao ir à loja comprar o brinquedo prometido e merecido, não o encontramos e acabamos escolhendo outro. Mas em janeiro, quando a vendas diminuem, a loja estrategicamente anuncia na TV que o brinquedo que tinha se esgotado no Natal chegou com mais unidades. Como prometemos antes do Natal o brinquedo para o nosso filho e, para nos mantermos coerentes com a promessa, compramos.

Em 1966, dois psicólogos da Califórnia conseguiram colocar um outdoor sobre educação no trânsito no gramado da frente de 76% das casas num bairro residencial. Conseguiram porque tinham feito o compromisso com os moradores duas semanas antes de assinar um abaixo-assinado e de colocar uma pequena placa de 8 centímetros que dizia: Dirija com Segurança.

Voltando para o rapaz (ou moça) indeciso. Agora ele quer tomar a decisão de sair da Igreja. Mas para isso ele vai trabalhar para equilibrar a incoerência com a coerência da decisão prestes a tomar, ou seja, para justificar a sua saída e manter-se coerente. Então, agora precisa juntar elementos de que a Igreja não é a certa. Tomada a decisão de sair, agora vai se convencer de que fez a escolha correta. Um detalhe: é muito raro a pessoa que vai se afastar da Igreja avisar publicamente a sua saída. É justamente porque ela ainda se sente incoerente.

A realidade começa e você só percebe agora que ninguém te ama como você pensava. Já faz um mês que os “élders” que te batizaram foram embora e ninguém da Igreja veio te visitar, nem o menino que tem nome de profeta do Livro de Mórmon te visita mais. Só chamam pra limpar a capela. Você vai à Igreja no domingo e fica sozinho no banco. Você faltou essa semana ao seminário e a professora nem perguntou. Você já quer sair da Igreja mesmo e pensa consigo “acho que ninguém vai sentir falta de mim. Acho que o Bispo nem vai perceber”. Você fica com preguiça de ir à Igreja no domingo seguinte e acorda às dez da manhã. Ninguém te procura no domingo à tarde, nem os “élders”. Então você digita mórmon no Google para aprender mais e conhecer novas gatinhas. Aparece que a Igreja é uma seita, você leva um susto, o coração acelera, rapidamente volta pro Facebook, faz uma oração e dá play no hino “Que Manhã Maravilhosa”.

“Só pode ser mentira, não foi isso que aprendi com os ‘élders’”, você pensa. Mas aí volta pro Google e lê mais calúnias sobre a Igreja. “Joseph foi maçom? O Livro de Mórmon é anti-bíblia? Nãããão!”. Então você cria um perfil falso na internet, cria um blog ou site com criticas sobre a Igreja para se manter o mais coerente possível de que a Igreja é falsa. Já achou o que precisa para ser coerente com a decisão de sair da Igreja. Falta apenas achar mais pessoas que pensam da mesma forma, para se sentir aprovado socialmente.

Conclusão

Poderia ter incluído o testemunho como fator de motivação para permanecer na Igreja, mas nem todos tiveram alguma experiência espiritual ou mesmo acreditam nelas. Talvez não seja um testemunho que faz uma parte dos membros continuarem na Igreja. Quem vai filiar-se à Igreja, quem está dentro e quem quer sair tem seus conflitos internos em comum: tomar a decisão de fazer compromissos e se manterem coerentes na decisão tomada. E vão fazer o que puder para se convencerem da escolha.

Também um grande compromisso é firmado por causa dos pequenos compromissos.

Muitos continuam firme na Igreja mais para serem coerentes depois de tantos compromissos pessoais e públicos (casamento, Templo, chamados, etc.) e para se sentirem aprovados socialmente, mesmo que não tenham nenhuma experiência espiritual, pois gostamos de parecer elegantes e sofisticados em público. E muitos que se afastam, afastam pelo descaso dos membros e falta de preparo da Igreja em lidar com assuntos delicados.

__________
Relacionado
leavingO que faz as pessoas se afastarem da Igreja?
download (1)Crescimento da Igreja?
fly happy family on blue skyComo voltar à Igreja?
amigos 3Por que algumas pessoas se afastam da Igreja?
.


Arquivado em:Cultura Mórmon, Dominicais, Ficção, Filosofando, Humor, Internet, Mórmon, Vida Mórmon, Vozes Mórmons Tagged: Associação Brasileira de Estudos Mórmons, Brasil, cultura mórmon, doutrina profunda, Espiritualidade, estudos mórmons, Evangelho, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Igreja Mórmon, Livro de Mórmon, Mórmon, Mórmons, Membros, Mormonismo, Obra Missionária, Reuniões Dominicais, Revelação, SUD, Vozes Mórmons

Temas para o Podcast Mórmon

$
0
0
© 2000, Cleoton Biehl.

© 2000, Cleoton Biehl.

No mês passado, a ABEM e o site Vozes Mórmons lançaram o Podcast Mórmon – um programa ao vivo pela internet sobre assuntos relacionados ao mormonismo, em que todos podem participar com perguntas e comentários. Que assuntos você gostaria de ver tratados nos próximos Podcasts? Queremos ouvir a sua opinião.


Arquivado em:Acadêmicos, Cultura Mórmon, Dominicais, Estudos Mórmons, Filosofando, Internet, Joseph Smith, Mórmon, Mormon, SUD, Vida Mórmon, Vozes Mórmons Tagged: ABEM, AIJCSUD, Associação Brasileira de Estudos Mórmons, Brasil, cultura mórmon, doutrina mórmon, doutrina profunda, estudos mórmons, História mórmon, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Internet, Livro de Mórmon, Mórmons, Mormonismo, Podcast Mórmons, programa ao vivo, SUD, vídeos, Vozes Mórmons

Aniversário: Ano 3

$
0
0

O site Vozes Mórmons completa hoje seu Terceiro Aniversário!

Para comemorar, gostariamos de agradecer a todos que postaram textos e comentários, e que enviaram links para seus amigos dos textos e comentários.

Neste terceiro ano de existência, tivemos mais de 220 mil visitas (o dobro do segundo ano), e mais importante, várias discussões interessantes e inteligentes. Este fórum é aberto para todos Mórmons, de todos tipos, e todos que se interessam por Mormonismo, e de qualquer maneira, as opiniões e os comentários inteligentes e pertinentes sempre ajudam a aumentar o nível da conversa, e moldam o site tanto quanto os artigos em si.

Gostariamos, então, de fazer algumas menções a título de retrospectiva, para comemorar esse ano que passou. Umas listas de Top 10 de posts que marcaram o terceiro ano do Vozes Mórmons!

 

* Dez Posts Mais Visitados (Durante o Ano 3)

1) Profeta Mórmon Processado

2) Quanto Ganha um Apóstolo Mórmon

3) O que faz as pessoas se afastarem da Igreja?

4) Os 50 livros mais importantes sobre mormonismo até 1980

5) A relação entre mormonismo e maçonaria

6) Frases favoritas

7)  O Shopping de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias

8) Raça e Sacerdócio: publicação oficial da Igreja aborda fatos antes ignorados

9) Para setenta, terra tem 6 mil anos!

10) Mórmons, maçons e anti-maçons

 

* Dez Posts Mais Visitados (Publicados no Ano 3)

1) Profeta Mórmon Processado

2) Raça e Sacerdócio: publicação oficial da Igreja aborda fatos antes ignorados

3) Para setenta, terra tem 6 mil anos!

4) Templo no Rio de Janeiro

5) Os 9 Apóstolos

6) Missionárias terão chamado de liderança

7) Há abuso nas entrevistas?

8) Quanto Ganha um Apóstolo Mórmon? (Parte 2)

9) Progresso entre reinos – parte I

10) A escola dominical: o casamento e a homossexualidade

 

* Dez Posts Mais Comentados

1) O que faz as pessoas se afastarem da Igreja?

2) Quanto Ganha um Apóstolo Mórmon

3) O Shopping de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias

4) Raça e Sacerdócio: publicação oficial da Igreja aborda fatos antes ignorados

5) Como voltar à igreja?

6) Profeta Mórmon Processado

7) Mórmons, maçons e anti-maçons

8) Quantos Mórmons no Brasil – 2

9) Mãe Celestial redescoberta?

10) Dança dos Apóstolos

 

* Menções Honrosas

1) Arqueologistas Descobrem Cidade Nefita

Desde o terceiro dia de existência do site Vozes Mórmons, o post O que faz as pessoas se afastarem da Igreja? sempre foi o artigo mais lido do site. Esta semana, o artigo acima (uma óbvia pegadinha de Primeiro de Abril) viralizou e em menos de 24 horas ultrapassou o anterior no posto de mais lido de todos os tempos. Por tratar-se de uma brincadeira, não entrará na contagem de artigos mais lidos oficialmente, apesar dos mais de 27 mil acessos em menos de três dias.

2) Por Que Rapazes Fazem Missão e Moças Fazem Bolos?

Além de ser o primeiro artigo escrito por uma adolescente menor de idade, e além da excelente qualidade intelectual, filosófica, social e espiritual do texto, este foi a estréia de um(a) autor(a) no site Vozes Mórmons a atingir 1000 visualizações mais rápido.

 

 

Estamos particularmente felizes de ver quantas pessoas abraçaram a curiosidade de conhecer Mórmons de outras tradições e como há diálogos entre participantes do site, inclusive de igrejas Mórmons diferentes.

Aproveitando,  gostaríamos de deixar duas perguntas para vocês na seção de comentários:

1) Qual o seu post favorito do terceiro ano?

2) Qual tema você gostaria de ver abordado mais no quarto ano?

E, pela audiência, e pela participação, agradecemos profundamente.

 

 

 


Arquivado em:Cultura Mórmon, Mórmon, Mormon, SUD, Vida Mórmon, Vozes Mórmons Tagged: ABEM, Aniversário, Ano Novo, Associação Brasileira de Estudos Mórmons, Brasil, doutrina mórmon, doutrina profunda, estudos mórmons, História mórmon, Igreja, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Mórmon, Mórmons, Mormonismo, SUD, Vozes Mórmons

As Diferentes Vozes Nas Escrituras (parte I)

$
0
0

Era um domingo de Nissam, entre o final da década de 20 e início da de 30 do primeiro século. Segundo o texto lucano, algumas mulheres e pelo menos um dos apóstolos haviam visitado o túmulo de Jesus, e o encontram vazio. De acordo com o relato bíblico, a história de que a tumba estava vazia se espalhou, de modo que, no mesmo dia, já era possível encontrar várias pessoas comentando o evento.

O terceiro evangelho fala de dois discípulos que conversavam sobre o Salvador enquanto caminhavam em direção a Emaús. Como de apenas um foi citado o nome, Cléofas, presume-se, pelo costume da época, que o outro fosse uma mulher. [1] Jesus ressuscitado pôs-se a caminhar com o casal; este, embora conhecesse pessoalmente Jesus, não reconheceu o Mestre.

Aproximando-se do povoado para onde iam, Jesus simulou que ia mais adiante. Eles, porém, insistiram, dizendo: “Permanece conosco, pois cai a tarde e o dia já declina. Entrou então para ficar com eles. E, uma vez à mesa com eles, tomou o pão(…)Então seus olhos se abriram e o reconheceram”. [2]

Com base nos três relatos de páscoa que aparecem como pano de fundo do Evangelho de João, costumamos dizer que o ministério do Salvador foi de três anos. O movimento iniciado por ele teve como palco inicialmente a Galileia, região rural onde cresceu. Como um camponês, Jesus nos transporta aos ambientes bucólicos através de suas parábolas ao mencionar aves do céu, a figueira, as ovelhas e seu pastor, o peixe, o mar, o pescador.

O que Jesus fazia, como muitos profetas do Velho Testamento, era uma crítica religiosa de tudo aquilo que ele observava. Muitas vezes suas palavras eram bem ácidas; devia incomodar muita gente. A acidez de sua pregação se mostrava com menor pH quando direcionada aos grandes, na defesa dos pequenos. Líderes religiosos, governantes e ricos eram os principais alvos de suas críticas; já os pequeninos (enfermos, pobres, mulheres e crianças) eram seus protegidos.

Bens materiais pareciam não significar muita coisa. Aos que possuíam, ele mandava distribuir. Ao contrário dos pássaros do céu, que tem ninhos; e das raposas, com seus covis, Jesus afirmava não ter onde reclinar a cabeça.[3]

As palavras e atos atribuídos a Jesus nos mostram que, do ponto de vista socioeconômico, o movimento religioso que se tornou o cristianismo surgiu entre as classes menos favorecidas. Jesus reunia em torno de si as pessoas mais necessitadas de sua época. Um povo que sofria com a exploração de uma nação estrangeira e uma elite local conivente agora ouvia frases como “bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus”.[4] Essas palavras davam um novo sentido a suas vidas. Jesus, ao contrário dos que os excluíam por sua enfermidade e condição social, estava ao seu lado, compartilhava a mesa com eles.

Diferente de João Batista, que pregava no deserto e cumpria uma rigidez dietética acima da média, seu primo ia ao encontro das pessoas, frequentava suas casas, apreciava um bom vinho e compartilhava a mesa com os considerados pecadores. Era com os marginalizados que ele parecia mais à vontade. O contraste com aquele que veio a ser conhecido como seu precursor é evidenciado na frase que os evangelistas põem na boca de Jesus:

Porque veio João o Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Tem demônio; Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homem comilão e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e pecadores. [5]

Além de sua proximidade com os pobres e doentes, em torno do Salvador as mulheres tinham uma presença que é digna de nota. Contrariando o costume da época, quando era vetada às mulheres participação pública, Jesus as tinha próximo de si, em seu movimento, como atestam diversas passagens dos evangelhos e nas reconstruções do perfil das mais antigas comunidades cristãs que se formaram nos primeiros anos que se seguiram à execução do Salvador.

As mulheres não apenas são presença forte nas narrativas evangélicas como também é notória sua posição de liderança nas cartas escritas na década de 50 e início da de 60 do primeiro século da Era Comum. Algo que mudaria quando o cristianismo, ao procurar lugar ao sol, se acomodou nos moldes patriarcais da sociedade grego-latina, e as mulheres cristãs voltaram a ser como as mulheres de Atenas do Chico Buarque. Nem mais falar na igreja podiam!

Longe de um uniformismo, a Bíblia nos parece compilar e exprimir as mais variadas tradições e vozes. Não é à toa que, quando comparada as visões de autores bíblicos, encontramos não apenas rasas discordâncias sobre determinados assuntos ou eventos, mas teologias que chegam a ser diametralmente opostas. Sendo assim, Jesus, ao incorporar o mundo feminino e dar voz e vez aos pobres, resgatava elementos que existiam no judaísmo, mas que estavam aparentemente latente nos modos como este era vivenciado em sua época.

UM BREVE PASSEIO PELO PRIMEIRO TESTAMENTO

O que veio a ser conhecido como o Povo de Israel surgiu de uma confederação de tribos, no século XII, em uma região dominada pelo Império Egípcio em declínio. A despeito dos pequenos reinos cananeus, essas tribos se juntaram contra o sistema centralizador de uma monarquia. Seus laços vieram da crença em um Deus libertador e das diversas experiências religiosas de seus ancestrais. Aos poucos, as fortificadas cidades cananeias foram sendo derrubadas, e Israel desponta como nação.[6]

Ao registrar a vida de seus antepassados, valendo-se de tradições orais que misturavam fatos históricos e lendas, essas pessoas recolhiam relatos sobre pessoas e “causos”, que posteriormente seriam condensados em personagens como Abraão , Moisés e em eventos como dilúvio e êxodo.

Por cerca de dois séculos, essas tribos se mantiveram sob a liderança dos juízes- líderes espontâneos que, em períodos críticos, tomados, conforme expressão bíblica, pelo espírito de Javé[7], reuniam forças populares contra inimigos externos ou na mediação de conflitos entre tribos irmãs.

Dos textos que procuram narrar os eventos ocorridos no tempo dos juízes, destaco o papel juíza Débora – profetisa e líder militar, que convoca Barac para a luta contra Sísara, chefe do exército do rei de Canaã. Segundo a narrativa bíblica, Débora julgava em Israel e servia como conselheira do povo, “sua sede [era] à sombra de uma palmeira”.[8]

IMPLANTAÇÃO DA MONARQUIA

As tribos não se desenvolveram de maneira igual. As que ocupavam terras mais férteis ou mais próximas de rotas comerciais levaram vantagem. Havia disputa entre elas. Enquanto os primeiros juízes emergiram em um contexto de resistência contra estrangeiros, mais tarde, o foco desses líderes foi mediar conflitos internos.

Em vários momentos o texto de Samuel fala sobre a utilização de bois na agricultura. Algo revolucionário, que permitiu uma maior produção agrícola e a comercialização de seus excedentes. É desenhado um cenário no qual temos uma elite agrária que cada vez mais se preocuparia em defender suas terras e seus animais contra invasores tanto estrangeiros quanto conterrâneos.

O sistema tribal no qual viviam os israelitas não contava com um exército profissional. Seria arriscado demais confiar suas terras e bois a uma milícia de camponeses voluntários. Sendo assim, um governo centralizador pareceu mais atraente para esses proprietários. Estes patrocinariam a institucionalização da monarquia. [9]

Mais relacionada à disputa de caráter socioeconômico que a um consenso, a monarquia feria a percepção mais antiga das tribos, já que estas- ao observar os abusos nos reinos com seus altos tributos e vida cortesã-, viam a figura de um rei como algo nocivo. É o caso da fábula de Jotão, na qual o rei é comparado ao um espinheiro, que além de não produzir fruto, ainda maltrata os que estão a sua volta. [10]

DIFERENTES VISÕES SOBRE O PERÍODO DOS REIS

Os livros de Samuel e Reis, que contam sobre o período monárquico, fazem parte do conjunto conhecido como HISTÓRIA DEUTERONOMISTA. Escrita provavelmente na época do cativeiro babilônico, tendo como chave hermenêutica o quinto livro do Pentateuco, a História Deuteronomista procurou explicar os fatores que levaram o povo escolhido de Jeová a estar na condição de exilados em uma terra estrangeira.

À esteira das alertas contra a idolatria do texto do Deuteronômio , conforme comentam Silva e Vasconcelos, ” temos quase um refrão: (rei fulano) fez o que é mau/ bom aos olhos de Javé; é a idolatria que explica, segundo os autores de nossa obra, o fracasso dos reinos que se formaram após a morte de Salomão – o de Israel(cf. 2Rs 17,7-23) e o de Judá (cf.2Rs 21, 10-15)”.[11]

A HISTÓRIA DEUTERONOMISTA pouco idealiza personagens como Davi e Salomão. Nela encontramos relatos sobre os abusos e opulência desses reis. Para ficar com Betsabéia, Davi arquiteta a morte de Urias. Capítulos inteiros versam sobre a ostentação do reinado de Salomão.

Com 700 esposas e 300 concubinas[12], Salomão venceu com folga os profetas mórmons no tocante a casamentos. Nem Brigham Young, em seu ímpeto de abençoar a terra com uma geração santa, amparou tantas mulheres. Se no período dos juízes encontramos liderança de mulheres, como Débora e Jael, o período monárquico trouxe uma maior sujeição delas.

É nesse contexto de ostentação, centralização do poder e abuso de autoridade que encontramos a construção de um templo para Deus. O rei Davi comentou com o profeta Natã:” Vê! eu habito numa casa de cedro e a arca de Deus habita numa tenda”.[13]

Para uma nação construída na crença de que era escolhida por Deus, foi notada a contradição de o rei habitar em um lugar rico, e Deus em um lugar pobre. Nesse momento, o desejo ostentador presente no coração humano é transferido para a divindade, que agora, assim como o rei, passa a habitar em um lugar ostentoso.[14] Seria, em parte, inspirado nesses personagens que o mormonismo desenvolveria a doutrina da poligamia e a construção de templos luxuosos.

Sustentar um palácio e um templo daquele porte não era uma tarefa fácil. Os tributos passaram a ser cada vez mais opressores, como constatado no clamor do povo para o filho de Salomão: ” Teu pai tornou pesado nosso jugo”.[15] As tribos do Norte, que mais sofreram com os altos tributos, romperam com o Sul, organizando um reino próprio.

Tanto no Reino do Sul quanto do Norte apareceram críticos à exploração sob a qual o povo estava submetido, assim como o vazio da religião praticada. Eram os profetas. “O povo chega a mim com seus lábios, mas o seu coração está longe dele”[16], foram palavras do primeiro Isaías. Contra a formalidade da religião, o oráculo de Oseias afirma querer “mais misericórdia que sacrifícios”.[17]

Miqueias não poupou repreensões nem mesmo aos seus colegas de profecia, que agiam mais como mercenários que como atalaias: “Por-se-à o sol para os profetas e o dia obscurecer-se à para eles”.[18]

Essas pessoas observavam a realidade de seu tempo, detectavam a falta de zelo para com os mandamentos divinos, os abusos de autoridade por parte de líderes religiosos e governantes, a exploração sob a qual o povo era submetido e, tendo por base sua visão sobre Deus, teciam críticas a tudo isso. Dessa fonte profética beberam João Batista e Jesus Cristo.

Diferente do cenário de intensa profecia, que marcou a história bíblica por algum tempo, o mormonismo desenvolveu uma hierarquia burocratizada, na qual qualquer crítica à liderança é vista automaticamente como heresia. Se por um lado a unidade da instituição é favorecida com uma membresia que aceita passivamente toda e qualquer ordem vinda de uma esfera superior; por outro, a chance de erros, como o racismo institucional, serem continuados é bem maior; bem como a perda de individualidade do fiel, que procura ter até seus pensamentos em conformidade com seu líder.

O próprio Brigham Young, mesmo com todo seu afã por unidade e centralização do poder em torno de si, comentou: “Eu tenho muito mais receio de que este povo tenha tanta confiança em seus líderes que eles não inquirirão por eles mesmos a Deus se eles estão sendo guiados por Ele (…) Que todo homem e mulher saibam por si mesmos se seus líderes estão andando no caminho ditado pelo Senhor ou não.” [19]

Escrito após o retorno do exílio babilônico, os livros de Crônicas, Esdras e Neemias narram uma visão diferente da OBRA DEUTERONOMISTA. Nessa versão da história, chamada de OBRA CRONISTA, o povo de Deus se reúne em torno de um templo idealizado ,e personagens como Davi e Salomão são retratados de maneira mais positiva. Tradições como o adultério de Davi e a idolatria de Salomão foram omitidas. O objetivo dos autores desses textos era mostrar que o Reino de Judá era o autêntico herdeiro da dinastia de Davi, cujas promessas eram eternas. É dessa época o surgimento das perspectivas messiânicas em um descendente da dinastia davídica.

No período pós-exílico, devido à forte influência da teologia sacerdotal, é visível o caráter exclusivista na visão judaica. Segundo o relato encontrado no Livro de Esdras, este, que tinha por missão fazer com que a Lei de Deus fosse aplicada na vida do povo, notou um grande problema: os casamentos mistos. Para que fossem purificados de tamanho erro, a solução encontrada foi o ” compromisso solene de despedir todas as nossas mulheres estrangeiras e os filhos que delas nasceram”.[20] Uma cena chocante, sem dúvida, é o abandono de milhares de mulheres e crianças. Mas é a vontade de Deus segundo esse escrito.

Como na Bíblia encontramos várias vozes, felizmente, há também textos produzidos nessa época, que apresentam um caráter mais universal, como Rute e Jonas. No primeiro, lemos a história de uma estrangeira que teria vivido numa época anterior à monarquia, que abraça o povo e o Deus da mãe de seu falecido marido, tornando-se a avó do rei Davi. Na estória de Jonas, a misericórdia de Deus se estende até o rival de Israel.

Em Joel, o carisma profético é estendido aos jovens, mulheres, crianças e escravos.[21]

Os anseios e mundivivência do povo se fizeram presentes nos livros sapienciais; sua perspectiva nem sempre estavam em consonância com as propostas dos autores da OBRA CRONISTA.

As regras de purificação exigiam pesados ritos que afetavam todos os aspectos da vida das mulheres, pois, segundo a Lei, estavam constantemente impuras. Mesmo oprimidas por tantas regras, encontramos entre os textos veterotestamentários a voz feminina com toda sua ousadia e erotismo, nas palavras de Sulamita.

Se em casa seus irmãos se preocupam com o momento em que casarão a irmãzinha- pois a veem como uma moça com poucos atrativos, que nem seios possui [22]-, Sulamita é percebida pelo seu amado como tendo quadris cujas curvas parecem “obras de artista”[23] e seios que são “como os dois filhos gêmeos da gazela”.[24] A bela moçoila não é apenas alvo de desejo; ela também tem suas vontades e parece desfrutar de tudo aquilo de maneira igual. Sobre seu amado ela comenta: “Sua mão esquerda está sob minha cabeça, e com a direita me abraça [25](…) Sua boca é muito doce; Ele é todo uma delicia”.[26]

O ambiente doméstico é deixado um pouco de lado; Sulamita se liberta das amarras de seus familiares e, com seu amado, deleita-se no prazer. Curiosamente, o cântico da jovem enamorada faz parte da liturgia judaica pascal, quando e comemora o rompimento da escravidão à qual os hebreus foram submetidos de acordo com a Torá.

Por focar pouco em Deus, e muito na atração entre homem e mulher; mais no EROS que no ÁGAPE, esses poemas tiveram dificuldade de entrar na Tanakh[27], foram interpretados de maneira alegórica por muitos e feriram a sensibilidade puritana de Joseph Smith, para quem esses escritos não eram para estar na Bíblia.

Ao contrário da noção difundida de que as escrituras representam A VOZ de um ser perfeito, elas me parecem muito mais VOZES de seres imperfeitos; o que faz esses textos serem mais fascinantes ainda, e sua leitura mais intelectualmente desafiadora.

 

Será mesmo?

Será mesmo?

 

—-

[1] CROSSAN, John Dominic. “O nascimento do cristianismo: o que aconteceu nos anos que se seguiram à execução de Jesus”. São Paulo: Paulinas, 2014. Col. Repensar, pag 19.
[2] Lucas 24:28-31
[3] Mateus 8:20
[4] Lucas 6:20
[5]Lucas 7:33-34
[6] SILVA, Valmor da; VASCONCELLOS, Pedro Lima. “Caminhos da Bíblia:uma história do povo de Deus”. São Paulo: Paulinas, 2003.Pág. 58-63
[7] Juízes 3:10
[8] Juízes 4:5
[9] I Samuel 11:7 .É notório que o convite a guerra não foi feito a Israel como um todo, mas somente aos proprietários de boi, amedrontados com a possível perda de seu rebanho.
[10] Juízes 9
[11] SILVA, Valmor da; VASCONCELLOS, Pedro Lima. Caminhos da Bíblia:uma história do povo de Deus. São Paulo: Paulinas, 2003. Pág.99
[12] 1 Reis 11:3
[13] 2 Samuel 7:3
[14] I Reis 6-8
[15] I Reis 12:4
[16] Isaías 29:13
[17] Oséias 6,6
[18] Miquéias 3:6
[19] Journal of Discourses 9:150
[20] Esdras 10:3
[21] Joel 3:2
[22] Cantares de Salomão 8:8
[23] Cantares de Salomão 7:2
[24] Cantares de Salomão 7:4
[25] Cantares de Salomão 8:3
[26] Cantares de Salomão 5:16
[27] Equivalente ao VT cristão.


Arquivado em:Acadêmicos, Estudos Mórmons, História, Literatura, Mórmon, Mormon, SUD, Vozes Mórmons Tagged: Associação Brasileira de Estudos Mórmons, Bíblia, Bíblia hebraica, Bíblia Sagrada, Brigham Young, doutrina mórmon, doutrina profunda, Escrituras, Evangelhos, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Igreja Mórmon, Jesus, Mormonismo, Novo Testamento, Ressurreição, Salomão, Velho Testamento, Vozes Mórmons

As Diferentes Vozes Nas Escrituras (Parte II)

$
0
0

Conforme comentamos na primeira parte da série, ao incorporar o mundo feminino e priorizar seu ministério nos excluídos, Jesus resgatava sentimentos e práticas que existiam no judaísmo, mas que ainda sim causavam escândalo para muitos: “(…) chegaram seus discípulos e admiravam-se que falasse com uma mulher”[1], no contexto do diálogo com a samaritana; “por que come vosso mestre com publicanos e pecadores?”[2], perguntou um grupo de fariseus, em um tom crítico à baixa reputação dos que compartilhavam a mesa com o Salvador.

Jesus Healing BeggerAs palavras do Homem de Nazaré davam esperança e direção às pessoas, em especial, das camadas mais humildes. Quando compreendemos que foram os famintos, simples e doentes a maior parte dos pioneiros do movimento que se tornaria o cristianismo, fica mais fácil entendermos a aspereza com que a voz de Jesus se direcionava aos ricos e poderosos.
Aos que tinham bens, Jesus mandava que repartisse. Se é dos pobres o Reino de Deus [3]; para os ricos o acesso a ele é tão difícil quanto um camelo entrar no buraco de uma agulha [4]. Os lírios do campo eram mais interessantes que Salomão e sua riqueza [5].

Em uma sociedade que interpretava doenças muitas vezes como impureza, fruto do pecado ou ação de demônios, Jesus oferecia cura. Como profeta, curandeiro e exorcista, ele ganhava visibilidade. Seu projeto do Reino de Deus consistia em uma inversão de papéis, na qual os rejeitados de sua época se elevariam em detrimento dos ricos e poderosos, que teriam grandes dificuldades de pertencer a esse grupo. Todo esse radicalismo o colocou em rota de colisão com o Império, levando-o à crucificação.

Os textos mais antigos que encontramos no Novo Testamento foram escritos por Paulo. Nas cartas genuinamente paulinas, podemos observar que as mulheres ocupavam lugar de destaque no ministério. De acordo com Pedro Vasconcellos “não se trata de uma apologia que Paulo tenha feito a elas, mas de uma simples constatação” [6].

No fim da epístola aos romanos, Paulo recomenda aos santos que recebam bem a DIACONISA Febe[7], pois esta ajudara muitos, incluindo o apóstolo. Junia é chamada de APÓSTOLA junto com seu esposo[8]. É mencionado o casal Prisca e Áquila (notar o nome feminino sendo citado primeiro), “meus colaboradores em Cristo”[9]. São saudadas também Trifena, Trifosa e Pérside, que “se afadigaram no Senhor “[10].

Paulo observa e constata as liberdades trazidas pelo cristianismo: “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há HOMEM nem MULHER, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus”[11].

No tempo de Jesus, as ações de cura e pregação das boas novas ultrapassaram as fronteiras de Israel através de mulheres. Segundo Marcos, após corrigir um comportamento xenofóbico de Jesus, uma mulher siro-fenicia teve sua filha liberta de uma possessão demoníaca [12]. Em João, muitos samaritanos creram em Jesus “por causa da palavra da mulher que dava testemunho” [13].

Em uma época que a voz das mulheres tinha pouca validade em um tribunal, o Jesus da Fé as escolheu como testemunhas do evento central do cristianismo. Tamanho privilégio fez com que, na Igreja Ortodoxa, Maria Madalena fosse conhecida como a APÓSTOLA DOS APÓSTOLOS.

Algo importante que passava na mente das primeiras comunidades cristãs era a crença de que Jesus estava próximo a retornar, que o fim do mundo estava próximo ou como comenta Crossan: “[para Paulo] o fim já começara, só sua consumação final era iminente”[14]. Com base em uma Parusia (segunda vinda de Cristo) às portas é que entendemos várias passagens das epístolas paulinas, em especial as relacionadas ao casamento.

Como o mundo acabaria em breve, sendo aguda “as angústias presentes”[15], e intenso o trabalho de preparação para a vinda de Cristo, casar-se, para a teologia paulina, seria um atraso. Quando tentamos ler as passagens de Corintios 7 através do conceito mórmon de selamento, a frustração é inevitável. Para Paulo, a ideia do casamento como condição sine qua non ao céu mais alto simplesmente não existe.

Já que “o tempo se fez curto”[16], Paulo exorta os santos de Corinto a permanecerem como estavam: se fossem escravos quando foram chamados, que permanecessem assim; se fossem casados, que permanecessem casados; se solteiros, que continuassem do mesmo modo. Na concepção do apóstolo, a pessoa que tem um cônjuge leva desvantagem na preparação para o Reino vindouro: “Eu quisera que estivessem sem preocupação. Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de agradar ao Senhor. Quem tem esposa, cuida das coisas do mundo e do modo de agradar a esposa”[17].

Aos que conseguem se manter celibatários, que assim permaneçam; aos que“não podem guardar a continência, casem-se, pois é melhor casar-se que ficar abrasado”[18]. A ideia de o celibato ser a primeira escolha para os solteiros faz mais sentido quando as expectativas de que o mundo ainda exista na próxima geração são pequenas.

Quando se acredita que o fim do mundo está próximo, como Paulo; ou quando se tem uma vida itinerante, como os discípulos mais íntimos de Jesus, o acúmulo de riquezas não faz muito sentido. Somente quando as expectativas de um fim próximo desapareceu e mais e mais pessoas com posses tornaram-se cristãs, frases como “dos pobres é o reino de Deus” e a noção de quão difícil é um rico entrar neste reino tiveram que ser reinterpretadas.

Nas cartas com maior probabilidade de terem sido realmente escritas por Paulo, notamos não haver a presença de um líder geral nas comunidades para quem o apóstolo escrevia. A liderança, de acordo com Coríntios e Romanos, era espontânea, baseada nos dons que os membros possuíam. [19]

O próprio título de “apóstolo” que Paulo usava aparentemente não foi dado por outra pessoa a ele, como fora a Matias[20]. Em sua epístola aos gálatas, Paulo menciona ter recebido de Deus [21]; seu apostolado nos parece “carismático” em vez de institucional.

Quando findava o primeiro século, as expectativas do retorno iminente de Cristo sofreram um esfriamento. A preocupação agora era manter a estabilidade nas diversas igrejas espalhadas. Fez-se necessário que as igrejas mais rigidamente se hierarquizassem, já que elas se tornavam instituições que deveriam durar mais que um breve período.
Várias cartas atribuídas a Paulo foram produzidas nessa época com o objetivo de exortar os santos para os desafios que as comunidades enfrentariam nesse novo projeto teológico.

Uma segunda epístola endereçada aos tessalonicenses criticava a ideia de um retorno de Cristo repentino. Enquanto o Paulo de Primeira Tessalonicenses induziu essa comunidade macedônica a crer num fim imediato, o Paulo de Segunda Tessalonicenses (uma pseudo-epígrafe, provavelmente) negou essa concepção[22].

O cristianismo tendeu a se acomodar aos conceitos, práticas e organizações do Império. Essa acomodação, aos poucos, foi deslocando o caráter revolucionário que o movimento de Jesus possuía inicialmente.

Interagindo com o ambiente patriarcal no qual viviam, os autores das epístolas de Colossenses, Efésios, Tito e Timóteo (Pouco provável de terem sido escritas por Paulo) instruíram as mulheres a serem submissas aos seus maridos. O autor de 1 Timóteo arriscou uma justificativa teológica:

“Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação”[23]

As mulheres, que tiveram um papel importante no anuncio do evangelho, que exerciam o diaconato, que eram apóstolas em algumas comunidades, que lideravam igrejas domésticas, que em um passado remoto atuavam como líderes militares e na instrução de diversas tribos, agora, eram exortadas a ficar em silêncio.

O linguajar de 2 Timóteo é ainda mais misógino: “Entre estes de encontram os que se introduzem nas casas e conseguem cativar mulherzinhas carregadas de pecado, possuída de toda sorte de desejos, sempre aprendendo, mas sem jamais poder atingir o conhecimento da verdade”.

O tom de agressividade do autor de 2 Timóteo dá sinal de que esse texto foi escrito numa época em que havia disputa de opiniões exatamente sobre esta questão: a liderança feminina.[24] É uma provável reação a grupos cristãos em que as mulheres desfrutavam de mais autonomia[25]; o que testifica de quão multifacetado é o cristianismo desde suas origens.

Nesses textos deuteropaulinos encontramos também a sacramentação da existência de escravos:

Exorta os servos a que sejam submissos a seus senhores em tudo, sendo-lhes agradáveis, não os contradizendo nem defraudando, antes mostrando perfeita lealdade, para que em tudo sejam ornamento da doutrina de Deus nosso Salvador. [26]

Curiosamente, muitos desses ensinamentos perturbadores para uma audiência moderna, como os que secundarizam a mulher [27] e os que são coniventes com a escravidão (com exceção do já citado Coríntios 7), foram preservados em textos atribuídos a Paulo, mas provavelmente não escritos pelo apóstolo.

Devido a isso, houve a utilização “do legado de Paulo para sistemas de injustiça e opressão”[28], é o que afirma Neil Elliott em sua obra que procura mostrar o fato de, por lermos as deuteropaulinas como genuinamente escrita pelo homem de Tarso, termos uma visão distorcida do apóstolo.

Com um crescimento vertiginoso, e igrejas espalhadas em diversas partes do Império Romano (e até fora deste), era natural que houvesse diferença de percepções e práticas entre elas. Toda uma padronização doutrinária, litúrgica e ética foi buscada. Os grupos que menos se adequavam a esse projeto foram perdendo sua força.

Era a transição do nomadismo para a sedentarização; do cristão radical para o bom súdito. Nesse contexto, a patriarcalização acontece, a liderança das mulheres é reprimida, e o politicamente correto da época vira mandamento. Se antes a pregação era marcada por um certo radicalismo, que chocava as pessoas; agora, a manutenção do STATUS QUO é a instrução recebida.

Sempre houve vozes discordantes e felizmente – para nossa apreciação do complexo quadro do cristianismo primitivo – essas vozes foram preservadas em nosso cânon, como o Livro de Apocalipse, que teve grande dificuldade para entrar no Novo Testamento. Para o autor dessa obra, Roma equivalia a Babilônia, que tanto oprimiu o povo da Bíblia; seu imperador, a Besta descrita no décimo terceiro capítulo. Uma visão diferente do décimo terceiro capítulo de Romanos.

O novo projeto teológico era fazer o cristianismo palatável para o Império. Ao contarem sobre a morte de Jesus, foi tirada a culpa de Roma: Pilatos lava as mãos, e os judeus tornam-se os principais responsáveis pelo suplício na cruz.

A intenção era desvincular-se dos judeus (que poucos anos antes haviam entrado em conflito com os romanos) e demonstrar que o cristianismo, ao contrário do que críticos como Celso achavam, não era formado apenas por MULHERES incultas, pobres e pessoas estúpidas.[29] Sua teologia superava qualquer outra. Esse cristianismo cada vez mais depurado de elementos ofensivos ao poder central pôde -no espaço de alguns séculos- finalmente sair da clandestinidade e, de maneira incrível, se tornar a religião do Império.

O mormonismo também passou por todas essas fases. Começou como uma comunidade frouxamente organizada de crentes no final da década de 1820, na qual magia popular, glossolalia e exorcismos eram praticados. A hierarquia era precária; ainda não havia a noção de um só detentor de todas as chaves. A ideia de um poder centralizado foi surgindo em decorrência da necessidade de se romper com o caos teológico que se formava quando pessoas afirmavam receber revelações que pareciam desunir o grupo. Ofícios inspirados nos textos do Novo Testamento foram sendo criados; toda uma estrutura hierárquica começou a ser desenhada.

Apesar da poligamia, no tocante à presença feminina na liturgia e ensino, houve algum avanço. Joseph corrigiu o “não deve falar na igreja” para “não deve Governar”[30], e incorporou à igreja uma organização feminina, que veio a ser conhecida como Sociedade de Socorro. O mormonismo terminou arrefecendo esse viés mais progressista em relação a liderança da mulher, que em algum momento existiu em seu meio.

O mesmo se deu com os negros, que, a despeito de serem de uma “espécie” diferente na visão de Joseph[31], chegaram a elencar o quadro de portadores do sacerdócio no período de Nauvoo. Infelizmente, a absorção de elementos racistas presentes no protestantismo norte-americano influenciou os mórmons a apagarem qualquer chama de igualdade racial que aparentemente existiu em algum momento. Só em anos recentes essa chama seria reacendida.

O posicionamento mórmon sobre a escravidão negra mudou várias vezes. Em 1838, foi publicada uma lista de respostas dada pela Igreja a perguntas frequentes feitas por não-mórmons. Eis uma delas: “Os mórmons são abolicionistas?”.

A resposta: “NÃO, a menos que libertar o povo da astúcia eclesiástica e os sacerdotes do poder de Satanás seja considerado um ato abolicionista. Porém, NÃO CREMOS EM DAR LIBERDADE AOS NEGROS (ênfase nossa).[32]

No Vozes Mórmons encontramos a tradução de um texto escrito por Joseph Smith dois anos antes da declaração citada acima. A Bíblia, segundo o profeta, foi sua inspiração para justificar a escravatura. No último fim de semana, vários líderes mórmons usaram argumentos semelhantes em seu combate à ordenação de mulheres ao sacerdócio e ao direito dos homossexuais.

No período de Nauvoo, Joseph Smith passou a defender o fim da escravidão, incorporando essa proposta em sua candidatura à presidência dos EUA, em 1844 [33]; o que não impediu a existência de escravidão negra em Utah.

A percepção que os americanos tinham dos mórmons nas primeiras décadas do Movimento SUD não era das melhores; o que nos faz lembrar da impressão de Plínio, governador da Bitínia, sobre os cristão ao escrever para o Imperador Trajano:

Tinham o costume de se reunir em certo dia Fixo, antes do amanhecer, para entoar, em versos alternados, um hino a Cristo, como a um deus … Julguei da maior necessidade extrair a verdade real, com ajuda de tortura, de duas escravas que se intitulavam DIACONISAS, mas nada descobri além de SUPERSTIÇÃO DEPRAVADA E DESREGRADA.[34]

Assim como a percepção do Império Romano teve que ser mudada para que o cristianismo despontasse como uma religião respeitada e crível, o mormonismo teve que se acomodar ao que a sociedade americana ditava. A romanização alterou o cristianismo da mesma forma que americanização moldou os mórmons.

A poligamia teve que ser abandonada. De praticantes de casamentos plurais, os mórmons passaram a perseguir quem praticava; de percebidos como barbudos ignorantes do oeste, passaram a ter rostos imberbes, MBA e salas em Wall Street; de um movimento fadado a não durar, no comentário de D. Pedro II em sua visita a SLC em 1876 [35], foi apontado, nos anos 80, como uma das religiões de maior crescimento do mundo; de oponentes das tropas federais, passaram a ter altas taxas de alistamento nas forças armadas americanas; de um bando de “zés ninguém”, na opinião de muitos que dialogavam com Charles Dickens na Inglaterra, os mórmons passaram a ser percebido como pessoas influentes; de contrários a moral e aos bons costumes, foram ovacionados com “vamos multiplicar essa Igreja Mórmon no meu Brasil. Aí nós teremos paz , ordem e progresso” do senador piauiense Mão Santa.

Se o mormonismo não se tornou a religião do império, como o cristianismo, seu coral, sim.

Mudanças em práticas religiosas sempre existiram. Embora se acredite que Deus seja o mesmo ontem, hoje e sempre, nossas noções sobre Ele é algo em constante mudança. As escrituras, como as compreendo, tratam-se mais de “palavras sobre Deus” que “palavras de Deus”. Sendo assim, mudanças positivas não apenas devem ser esperadas como incentivadas.

Desde que a própria Bíblia testifica das mudanças de paradigma no seio do cristianismo e judaísmo, os cristãos detratores do Movimento dos Santos dos Últimos Dias que fazem chacota das mudanças ocorridas na Igreja Mórmon deveriam ficar desconfortáveis ao entenderem que, no tocante a mudanças de visões e práticas, o(s) cristianismo(s) dos primeiros séculos e o(s) mormonismo(s) têm mais coisas em comum que costumamos imaginar. Mudanças sempre ocorreram, oxalá daqui pra frente sejam sempre para o bem. E o que é o BEM?

"Se vocês, como muitos americanos, acreditam que este país está em franca decadência moral, sugiro que passem algum tempo com as pessoas que lideram a Igreja Mórmon." -- Mike Wallace, jornalista

“Se vocês, como muitos americanos, acreditam que este país está em franca decadência moral, sugiro que passem algum tempo com as pessoas que lideram a Igreja Mórmon.” — Mike Wallace, jornalista

 

—-
[1] João 4:27
[2] Mateus 9:11
[3] Lucas 6:20
[4] Mateus 19:24
[5] Mateus 6: 28-29
[6] VASCONCELLOS, Pedro Lima. O Código Da Vinci e O Cristianismo dos Primeiros Cinco Séculos. São Paulo: Paulinas, 2006. p.33
[7],[8],[9],[10] Romanos 16
[11] Gálatas 3:28
[12] Marcos 7:24-30
[13] João 4:39
[14] CROSSAN, John Dominic. O nascimento do cristianismo: o que aconteceu nos anos que se seguiram à execução de Jesus. São Paulo: Paulinas, 2014. Col. Repensar, p.26
[15],[16],[17],[18] Coríntios 7
[19] Romanos 12; Coríntios 12
[20] Atos 1:26
[21] Gálatas 1:1
[22] 2 Tessalonicenses 2:1-4
[23] 1 Timóteo 2:12-15
[24] VASCONCELLOS, Pedro Lima. O Código Da Vinci e O Cristianismo dos Primeiros Cinco Séculos. São Paulo: Paulinas, 2006. p.35
[25] Exemplos disso são as comunidades marcionitas e gnósticas, que não aceitavam essas epístolas, e as mulheres exerciam liderança.
[26] 1 Timóteo 2:12-15
[27] As passagens de 1 Cor 14: 34-35 são consideradas interpolações pós-paulinas.
[28] ELLIOTT, N. Libertando Paulo: a justiça de Deus e a política do apóstolo. São Paulo: Paulus, 1998.p. 28
[29] ORÍGENES. Contra Celso. São Paulo, Paulus, 2004. p. 243.
[30] Manual do Novo Testamento usado no Instituto, pág 323.
[31] SMITH, J.F.(1975).Ensinamentos Do Profeta Joseph Smith. São Paulo, 2003, p.263
[32] Idem, p.117
[33] Idem, p.326
[34] Uma tradução da carta pode ser lida aqui.
[35] WOOD, David L. Emperor Dom Pedro’s visit to Salt Lake City. Utah Historical Quarterly. Volume 37, número 3, 1969, pág 351

 

 

 

 


Arquivado em:Acadêmicos, Estudos Mórmons, História, Literatura, Mórmon, Mormon, SUD, Vozes Mórmons Tagged: Associação Brasileira de Estudos Mórmons, Bíblia, Bíblia hebraica, Bíblia Sagrada, Brigham Young, doutrina mórmon, doutrina profunda, Escrituras, Evangelhos, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Igreja Mórmon, Jesus, Mormonismo, Novo Testamento, Ressurreição, Salomão, Velho Testamento, Vozes Mórmons

Por Que As Mulheres Não Foram Incluídas?

$
0
0

Texto por Lori Burkman

Chieko Okazaki, Primeira Conselheira na Presidência Geral da Sociedade de Socorro (1990-1997)

Chieko Okazaki, Primeira Conselheira na Presidência Geral da Sociedade de Socorro (1990-1997)

Em 2005, a outrora Primeira Conselheira da Presidência Geral da Sociedade de Socorro Chieko N. Okazaki deu uma incrível entrevista a Gregory Prince para a revista Dialogue: a Journal of Mormon Thought.1  De todas as vezes em que ouvi uma mulher representante da Igreja falar em público, eu jamais me havia impressionado tão profundamente ou aprendido tanto como com este entrevista. A irmã Okazaki falava de maneira surpreendetemente aberta e franca sobre como mulheres são ignoradas na Igreja, não consultadas sobre assuntos importantes, ou carecem de um sentimento geral de auto-importância.

A entrevista começa da seguinte maneira:

Em todas as minhas reuniões com as jovens mulheres ou com as mulheres da Sociedade de Socorro, eu costumeiramente me surpreendo com a percepção de que elas não sentem que possam funcionar como mulheres na Igreja — não todas, é claro, mas muitas delas que vieram a mim e conversaram comigo. Eu fico me perguntado: “Como chegaram elas a este ponto de se sentir de que não valem muita coisa na Igreja?

Será que sou apenas eu, mas não é uma observação chocante para uma mulher que serviu em tantas posições de liderança geral dizer assim, tão abertamente? Na minha experiência, o status quo para líderes é falar do quão maravilhoso é a capacidade da Igreja de fazer as mulheres se sentirem valorizadas. Se muito, dirão que a Igreja é a organização número 1 no mundo em fazer mulheres se sentirem valorizadas. A franqueza e a honestidade da irmã Okazaki é uma fonte de conhecimento e percepção dos desafios encarados por mulheres Santos dos Últimos Dias.

Quanto mais eu aprendo sobre a irmã Okazaki, mais me impressiono com ela. Em 1962, ela foi a primeira mulher não-Branca a servir em qualquer posição de uma auxiliar geral da Igreja SUD e foi a primeira mulher a servir todas as três organizações SUD para mulheres em âmbito geral, sendo seu maior chamado o de Primeira Conselheira da Presidência Geral da Sociedade de Socorro entre 1990 e 1997. Estarei citando sua entrevista de 2005 para a revista Dialogue frequentemente porque eu acho muito importante para que todas possam ouvir o registro cândido e emocionante da estória desta mulher.

Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Harold B. Lee

Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Harold B. Lee

Ela era muito dedicada no serviço das mulheres da Igreja através de seus chamados, mas frequentemente sem saber como faze-lo porque mulheres simplesmente não eram convidadas a participar das reuniões onde as grandes decisões eram tomadas, mesmo sendo membro da Presidência Geral da Sociedade de Socorro. Visto que sua função como Primeira Conselheira na Presidência Geral da Soc-Soc incluia supervisionar a estrutura educacional para as irmãs da Igreja, a irmã Okazaki procurava meios pelos quais as lições dominicais poderiam suprir as necessidades atuais das mulheres na Igreja. Ela percebeu que o manual de lições estaria sendo atualizado em breve, então em espírito de oração redigiu guias gerais importantes para inclusão no processo em andamento. Após suas guias gerais serem aprovadas pela Presidência Geral da Soc-Soc, ela os levou ao Comitê de Currículos. Imediatamente lhe avisaram que seus guias gerais para o manual de lições e suas sugestões não seriam necessários porque um novo manual já havia sido escrito para elas e já estava quase completo.

Eu perguntei sobre o que [seria o novo manual", e ele me respondeu dizendo: "Bom, é o manual de Harold B. Lee". Seria o primeiro na série de Ensinamentos dos Presidentes da Igreja. Eu perguntei, então: "Por que estão escrevendo para nós mulheres um manual sobre Harold B. Lee?" Ele não sabia. Eu relatei a conversa à presidência [da Soc-Soc], e então fomos todas ao Comitê de Currículos perguntar: “Do que se trata isso?” Eles responderam: “Bom, nós já estamos quase terminando o primeiro livro.” Ao que respondemos: “Vocês já estão quase terminando o primeiro livro e nunca lhes ocorreu de nos contar isso? Por que estamos ouvindo disso pela primeira vez só agora?” E eu perguntei: “Quem escreveu este manual?” Resulta que foram cinco homens, e que os manuais para o Sacerdócio de Melquisedeque e para a Sociedade de Socorro teriam as mesmas lições. E eu perguntei: “Por que as mulheres não foram incluídas nisto?

Meninas Não Permitidas

Meninas Não Permitidas

Como no caso com os manuais novos, o maior obstáculo para conseguir-se que as necessidades das mulheres fossem levadas em consideração fora o fato delas simplesmente não serem incluídas onde as conversas e discussões mais importantes ocorriam. Em âmbito local, a irmã Okazaki sugeriu na entrevista que a Igreja se beneficiaria enormemente se a Presidente da Soc-Soc fora incluída em todas as reuniões de Bispado. O modelo atual de apenas trabalhar com o Bispo durante o Conselho de Ala (um grupo maior onde todas as auxiliares estão representadas) não é o suficiente. Em âmbito geral, ela achou que as mulheres eram excluídas de uma maioria esmagadora dos comitês e reuniões importantes e que assim não serviam as necessidades das irmãs em pé de igualdade com as dos homens.

Perguntamos, certa vez, se poderíamos participar do comitê de construção e do comitê de templos, porque às vezes pensamos “por que construíram desta maneira? Isto simplesmente não funciona bem para as necessidades das mulheres.” E queríamos estar no comitê de templos porque há muitas coisas que afetam as experiências de mulheres nos templos. Mas nós nunca fomos autorizadas a participar destes comitês.

A parte da entrevista que mais me surpreendeu foi descobrir que a Presidência Geral da Sociedade de Socorro sequer havia sido notificada que trabalhava-se no texto da ‘A Família: Uma Proclamação Ao Mundo’. Elas não foram informadas dele, elas não foram consultadas de qualquer maneira sobre o rascunho do texto, e elas não foram perguntadas sobre preocupações específicas de mulheres que poderiam ser incluídas. Quando ela foi apresentada ao texto final, sua reação foi esta:

“Como é possível que não fomos consultadas?”

Greg Prince seguiu com outra pergunta: “Vocês nem sabiam que se estava trabalhando nisso?”

Não. Eles apenas nos perguntaram em qual reunião anuncia-lo, e nós respondemos: “O que quer que o Presidente Hinckley decidir estará bem conosco”. Ele decidiu faze-lo na reunião da Sociedade de Socorro. O Apóstolo que era nosso contato disse: “Não é maravilhoso que ele decidiu  anuncia-lo na reunião da Sociedade de Socorro”? Bom, isso estava bem, mas enquanto eu lia, eu pensava como poderíamos ter feito algumas mudanças nele. Às vezes eu penso que eles estão tão ocupados que eles esquecem que nós estamos ali.

‘A Família: Uma Proclamação Ao Mundo’ é um documento que nos guia em nossa compreensão dos papéis de mulheres, homens, e da unidade familiar no plano de Deus. A proclamação delineia uma ideologia para a família e tem sido o padrão pelo o qual todos os membros da Igreja são encorajados a se espelhar.

'A Família: Uma Proclamação Ao Mundo' da Primeira Presidência e do Conselho dos Doze Apóstolos (1995)

‘A Família: Uma Proclamação Ao Mundo’ da Primeira Presidência e do Conselho dos Doze Apóstolos (1995)

Então, se ‘A Família: Uma Proclamação Ao Mundo’ é uma declaração pública feita pela liderança da Igreja com a intenção de ajudar os Santos enquanto enfrentam desafios atuais, por que a Presidência Geral da Sociedade de Socorro não foi consultada ou mesmo notificada de seu projeto? Quando nos dizem vez após vez que a forma mais elevada de dignidade da mulher é sua capacidade de nutrir e fortalecer a família, por que então não seriam elas consultadas no projeto de um documento proclamando e delineando a posição da Igreja sobre a família? Certamente, a proclamação teria se beneficiado das percepções da Presidência Geral da Sociedade de Socorro. Do que eu  tenho lido sobre as experiências de vida da irmã Okazaki como uma minoria e uma exceção na Igreja, eu creio que ela teria insistido na inclusão de uma seção dedicada àquelas pessoas cujas famílias ou potenciais familiares não se enquadram no modelo “perfeito” por nenhuma culpa delas. Eu realmente não posso acreditar que este documento esteja completo sem incluir conselho para aqueles que jamais terão um formula familiar de dois-pais + crianças neste vida, e assegurar que eles também podem cumprir seus propósitos divinos.Muitos membros equivocadamente afirmam que ‘A Família: Uma Proclamação Ao Mundo’ é uma revelação canônica diretamente de Deus. Se fosse o caso, então faria sentido que mulheres não fossem incluídas como consultoras, uma vez que revelações não são produtos de esforço de grupo. Mas proclamações não são para introduzir novas doutrinas, pois este não é seu papel. Se fosse, a aceitação da proclamação ao cânone teria sido votada em Conferência Geral e, por consentimento comum, sua inclusão na próxima edição do nosso cânone impresso planejada (que foi atualizado em 2013, em sua primeira atualização desde 1980). O propósito de proclamações oficiais da Igreja (há cinco tais proclamações oficiais, a mais recente das quais havia sido no sesquicentenário em 1990) não é ser interpretada ou tratada como novas revelações, mas para clarificar a posição da Igreja em assuntos que são significativos para o mundo no momento presente, com a esperança de encorajar a resolução dos Santos e aumentar sua compreensão dos assuntos do dia.2 Quando Boyd K. Packer erroneamente disse que ‘A Família: Uma Proclamação Ao Mundo’ “qualificava dentro da definição de revelação” [vídeo] enquanto dava seu discurso da Conferência Geral de 2010 ‘Limpando Seu Vaso Interior’, este erro foi oficialmente apagado quando o discurso foi publicado, e a proclamação foi corretamente descrita como “um guia que membros da Igreja deveriam ler e seguir” [correção impressa].

Eu acho que esta entrevista com a irmã Okazaki é o perfeito exemplo dos desafios que muitas mulheres encontram na Igreja de hoje. Não é que a Igreja não ame ou não valorize suas mulheres, ela certamente o faz. Mas a infra-estrutura da Igreja não permite que mulheres sejam igualmente representadas; nossas vozes não são, simplesmente, parte integral da narrativa. Visto que mulheres são rotineiramente excluídas de reuniões e comitês onde a maioria das políticas e as práticas da Igreja são estabelecidas, um vão sempre existirá para muitas mulheres entre suas necessidades e o que lhes é ofertado pela Igreja. Quando a irmã Okazaki foi questionada se as mulheres de gerações mais jovens tem uma chance de corrigir esta dicotomia, ela respondeu:

Eu preciso dizer que, nos meus 64 anos de Igreja, eu às vezes um pouco da mudança que muitas mulheres impulsionam elas mesmas, mas na maioria das vezes, eu não tenho visto mulheres dispostas a fazer tais mudanças possíveis. Por onde quer que eu vá, eu creio que elas já sabem qual é o seu lugar… Quando mulheres percebem o recado que seu papel é apenas servir de apoio e apenas concordar com as decisões do Bispo, elas se transformam em ostras.

Eu penso que a impressão que a  irmã Okazaki tem de mulheres Mórmons como sendo apenas raramente as instigadoras ou as engenheiras por mudanças relevantes dentro da Igreja é precisa; elas simplesmente não são ensinadas que este é o seu propósito, então isto raramente ocorre. Desde esta entrevista até hoje, a Internet se tornou uma estação central onde mulheres de pensamento similares podem se encontrar e começar a se organizar para melhor abordar as necessidades das mulheres.

'Nós Conseguimos', poster de propaganda de guerra (1943) por J. Howard Miller para incentivar a força de trabalho feminina da Cia. Elétrica Westinghouse.

‘Nós Conseguimos’, poster de propaganda de guerra (1943) por J. Howard Miller para incentivar a força de trabalho feminina da Cia. Elétrica Westinghouse.

Grupos como as Donas de Casa Mórmons FeministasOrdene as Mulheres, e as Jovens Mórmons Feministas se formaram para providenciar espaços produtivos e únicos para o crescente número de mulheres que se encontram necessitando de um apoio extra.

A corrente principal da Igreja descreve Feministas Mórmons como pessoas que não valorizam as mulheres e sua feminidade, e não compreendem o sagrado papel de mães e nutridoras. Assim como a irmã Okazaki, isto não poderia estar mais longe da verdade. Elas valorizam seu papel divino imensamente, mas elas apenas querem poder fazer mais para o Reino de Deus na Terra. As ações do movimento Ordene as Mulheres ao esperar na fila para pedir permissão para entrar na Sessão do Sacerdócio vem sido taxada pela Igreja como um protesto.3 Mas, novamente, isto é completamente falso. Não tem nada a ver com protesto. Ela são simplesmente mulheres SUD fiéis que desejam estar na sala para ouvir o Profeta e nossos líderes falando sobre o Sacerdócio, algo que nos asseguraram ao qual temos acesso igual, embora não o portemos nós mesmas. A Igreja também diz que as Feministas Mórmons estão propositadamente tentando ser divisivas e causar discórdia, mas novamente esta caracterização está incorreta. Estas não são mulheres sem conhecimento da doutrina e apáticas às metas e propósitos da Igreja. Elas são mulheres comprometidas com o Evangelho que elas tanto querem ver prosperar, e o único caminho através do qual podem enxergar isso acontecendo é tomando um papel mais ativo e participativo e recebendo uma estrutura paralela para crescimento e liderança. Elas podem ver que muito das políticas, mentalidades, e procedimentos atuais da Igreja atrapalham o crescimento global da Igreja, causando um (especialmente entre os jovens) a se tornarem desafetos. Elas querem fazer parte de um movimento de mudança para melhor na Igreja, de maneiras que não lhe são disponíveis ou permitidas hoje.

As Feministas Mórmons sabem que nos primórdios da Igreja, as auxiliares de mulheres tinham muito mais autonomia e  escopo que tem hoje. Joseph Smith se referiu à Sociedade de Socorro como um “reino de sacerdotisas”4 quando ele a incorporou oficialmente dentro da Igreja, e as Feministas Mórmons querem saber o quanto ele quis dizer com isto. Elas buscam a restauração das responsabilidades (como supervisionar finanças, coletar dízimos, lavar e ungir com óleo, e impor as mãos nos doentes)5 que foram originalmente ofertadas às mulheres quando a Igreja ainda era jovem.

Fazendo as Perguntas Difíceis

Fazendo as Perguntas Difíceis

As Feministas Mórmons sabem que tais solicitações soam estranhas agora, visto que poucos membros sequer sabem que mulheres já cumpriram tais funções na Igreja, mas elas esperam que, ao trazer à luz este conhecimento lhes ajudará a restaurarem-se estas responsabilidades. Elas não tem medo de fazer as perguntas difíceis sobre o porquê que suas influências e participações na Igreja vem sido reduzidas ao invés de expandidas com o tempo.

Da mesma maneira que a irmã Okazaki, muitas mulheres na Igreja de hoje sabe que é possível ter um verdadeiro conhecimento e testemunho da pura doutrina e do Evangelho de Cristo e ainda assim discordar das políticas e procedimentos da instituição terrena que leva Seu nome. Elas também sabem que ninguém jamais deveria perguntar “por que as mulheres não foram incluídas nisto?”

 

Chieko 7

1) ‘Entrevistas e Conversações. Há Sempre Um Desafio; E Entrevista Com Chieko Okazaki’, Gregory Prince, Dialogue: a Journal of Mormon Thought.

2) ‘Proclamações, Declarações Clarificam, Reafirmam Doutrina SUD’, Chuch News.

3) ‘Igreja Solicita Grupo Ativista Reconsiderar Planos de Protesto na Conferência Geral’, Site Relações Públicas da Igreja.

4) ‘Mulher e Autoridade’, Maxine Hanks (ed.), Signature Books & ‘Mulheres Mórmons Tem Sacerdócio Desde 1843′, Michael Quinn.

5) ‘Um Dom Dado, Um Dom Tirado’, Sunstone Magazine.

 

Lori Burkman

Lori Burkman

Texto Original por Lori Burkman. Reproduzido com permissão.

Lori cresceu no Noroeste Americana, tem um diploma de Letras pela BrighamYoungUniversity e serviu uma missão de tempo integral para a Igreja SUD. Casou-se no Templo de Portland em 2005 e têm três filhos pequenos. Trabalhou como webdesigner durante a faculdade, migrou para escritora técnica e editora por 3 anos, até tornar-se mãe de tempo integral. Ela adora fotografia, música, esportes recreativos, leitura, e estudos. É incrivelmente apaixonada por Mormonismo e está sempre animada para compartilhar sua estória com outros.

 

 

 


Arquivado em:Acadêmicos, Cultura Mórmon, Estudos Mórmons, História, Mórmon, Mormon, Mulher, SUD, Vida Mórmon, Vozes Mórmons Tagged: Associação Brasileira de Estudos Mórmons, Chieko Okazaki, cultura mórmon, doutrina mórmon, doutrina profunda, Espiritualidade, estudos mórmons, História mórmon, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Igreja Mórmon, Mórmon, Mórmons, Membros, Mormonismo, Mulheres, Mulheres mórmons, Política, Proclamação da Família, Revelação, Sacerdócio, Sociedade de Socorro, SUD, Vozes Mórmons

Professor da BYU Criticado por Livro Sobre Mulheres

$
0
0

lost+teachingsO Professor da BYU Alonzo L. Gaskill está sendo severamente criticado por seus pares acadêmicos, por acadêmicos Mórmons e pelo público Mórmon leigo, por grosseira incompetência intelectual.

Em seu livro recém-publicado ‘O Ensinamentos Perdidos de Jesus Sobre o Papel Sagrado da Mulher’, o professor de História da Igreja e Doutrina se propõe a estabelecer uma reconstrução acadêmica dos ensinamentos de Jesus de Nazaré sobre o papel apropriado de mulheres na sociedade Cristã. Uma das fontes principais, na qual Gaskill ancora seu livro  e seus argumentos nos manuscritos de Pali, que descrevem a vida e os ensinamentos de Jesus durante Sua adolescência no sub-continente Indiano, e descobertos num monastério Indiano no final do século XIX pelo jornalista e explorador russo Nicholas Notovich. Compilados e traduzidos para Francês (e, rapidamente, para vários outros idiomas) por Notovich nos anos 1890 sob o título ‘A Vida Desconhecida de Jesus’. O grande problema, contudo, é que o livro não só foi demonstrado por acadêmicos como um falsificação clara, como o próprio Notovich confessou o embuste.

Mas este nem é o maior problema do livro do historiador da BYU.

Além de utilizar a óbvia falsificação por todo o seu livro sem estabelecer quaisquer dúvidas ou discussões sobre as qualificações acadêmicas do seu texto-fonte, Gaskill o utiliza como se fora autoridade histórica. Ademais, ele o inclui em apêndice junto com textos extra-canônicos porém inspirados, e argumenta que através de revelação pessoal (i.e., o dom do Espírito Santo) ele pode ser determinado como “texto antigo” e “escritura inspirada”. Críticos Mórmons queixam-se de um professor de história da BYU que usa “revelação pessoal” para justificar a crença em um texto de escritura sabidamente falsificado no século XIX.

A editora Cedar Fort Publishing ainda não se pronunciou, e a Deseret Book decidiu revisar o problema e determinar as válidas das queixas, mas por enquanto não retirará os exemplares já distribuidos para o varejo. Em seu blog, Glaskill tenta escusar o seu uso de uma falsificação sem adequadamente explicar porque não teria falhado em explicar a origem desonesta do documento citado (e pelo qual ele “presta testemunho”).

Ignorando a enorme falha em competência acadêmica, e ignorando alguns dos argumentos machistas recheando seu livro, a abordagem religiosa do historiador da BYU para defender como escritura uma falsificação moderna traz desconforto para qualquer Mórmon, e prejudica a imagem acadêmica da instituição universitária da Igreja.

 

 

 


Arquivado em:Acadêmicos, Bibliografias, Cultura Mórmon, Estudos Mórmons, Ficção, História, Literatura, Mórmon, Mormon, SUD, Vida Mórmon Tagged: ABEM, Apócrifos, Associação Brasileira de Estudos Mórmons, cultura mórmon, Doutrina, doutrina mórmon, doutrina profunda, Escrituras, Espiritualidade, estudos mórmons, Falsificação, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Igreja Mórmon, Jesus Cristo, Mórmon, Mórmons, Revelação, tradução, Vozes Mórmons

A Encantadora de Baleias

$
0
0

encantadora1No filme A Encantadora de Baleias, o velho líder de uma tribo maori busca desesperadamente seu sucessor. Sua neta Paikea quer aprender as tradições reservadas aos homens e é duramente rejeitada pelo avô. Mas a pureza e teimosia da menina se provam mais fortes do que a ortodoxia do chefe. É Paikea quem no final faz com que as antigas tradições tenham sentido, tornando real aquilo que era transmitido como mito. Ela recebe uma revelação. O avô, sem outra alternativa,  arrepende-se e reconhece a sua neta como a tão aguardada sucessora. A verdade triunfa. A ignorância é abandonada.

O filme me parece ser uma parábola sobre o sacerdócio. Permitam-me divagar.

O sacerdócio na Igreja sud é hoje pensado como algo exclusivamente masculino. Como se fosse um velho folclore, é perpetuado em rotinas, tratado em tom laudatório, mas pouco utilizado como algo real. Seus “portadores” pouco sabem sobre o que fazer com ele. Esse sacerdócio é supostamente regido por avôs, auxiliados por burocratas mais jovens. Afirmam solenemente a necessidade da hierarquia que representam e como a hierarquia é o canal de revelação, sendo “revelação” uma palavra bastante elástica para cobrir qualquer coisa.

encantadora3Nesse cenário, algumas mulheres se perguntam se o tal sacerdócio é para ser assim mesmo, com essa transmissão exclusivamente masculina. Algumas inclusive pedem que seja transmitido também a elas e que recebam ofícios, para que possam tomar parte nas rotinas e ter mais voz perante os avôs. Essas corajosas mulheres com sua causa justa, no entanto, terão mais cedo ou mais tarde que lidar com o fato de que a história está muito mal contada e os avôs não mais conhecem todas as lendas nem todos os rituais.

Se o sacerdócio é para ser dado por profecia e revelação, que cada homem e mulher busque saber se deve ser ordenado(a), quando e por quem, para talvez obter a coisa real, o poder divino, ao invés do folclore morto. Nas condições atuais de decadência espiritual e perda de dons, acredito, a ordenação na Igreja de mulheres a ofícios do sacerdócio teria a mesma relevância perante os céus do que a ordenação automática de um menino que completou X anos de idade. Mas, no final das contas, não tenho dúvida, cabe às mulheres determinar o que lhes cabe dentro da Igreja.

Na ausência de revelação, o povo se corrompe e quer que uma revelação saia do forno para que possa a corrupção ser menos corrupta e haver mais paz entre líderes e liderados, não importando o que os seres celestiais estejam dizendo.

Como o mormonismo é uma tradição religiosa recente, podemos às vezes traçar a origem de algumas histórias mal contadas. A ideia de um sacerdócio ao qual as mulheres não têm direito ou que herdam subjetivamente através do marido simplesmente não fica de pé após um estudo básico da história mórmon e das ordenanças do templo.

As mulheres sud foram ordenadas ao sacerdócio pela primeira vez em 1843, através da investidura e da segunda unção. E hoje seguem recebendo o sacerdócio na investidura, sem que alguém pare para pensar que deveriam agir de acordo com esse sacerdócio, o qual é independente de ofícios.

O conceito de ordenação ao sacerdócio através dessas ordenanças foi caindo em desuso até ser completamente esquecido pela imensa maioria de membros da Igreja, crente no folclore contada pelos caciques. A nova lenda já estava formulada, em que a Sociedade de Socorro surgiu para fazer colchas e é uma organização auxiliar do sacerdócio.

E se a nossa verdadeira história for recuperada e as mulheres passarem a exercer o sacerdócio de que foram investidas no templo?

E se através da segunda unção mais mulheres forem ordenadas aos ofícios de rainha e sacerdotisa?

E se pararmos de adorar a corporação para ser o corpo de Cristo, usando o sacerdócio para fazer o que Ele faria?

Fomos ludibriados todos, homens e mulheres, se acreditamos que o sacerdócio é exclusivamente masculino. E que serve para preencher relatórios, fazer entrevistas, controlar pessoas e sugar seu trabalho e recursos ou construir prédios ao deus Mamon. E que depende de uma sequência de ofícios.

Continuaremos ludibriados, se acreditarmos no remendo de um sacerdócio originalmente verdadeiro, mas quase irreconhecível depois de ser corrompido por tradições falsas. É preciso antes acabar com as tradições falsas sobre o sacerdócio.

encantadora2O mormonismo precisa hoje de uma encantadora de baleias, uma menina teimosa e pura que, embora ame o avô, não dá ouvidos à tolice dele. Precisa também daquele tipo de ancião que se arrepende, mesmo que forçado pelos fatos, e reconhece quem a neta verdadeiramente é. Mas ambos estão ausentes, ao que parece.

Todos estão doentes e recusando a cura. Tudo vai mal em Sião. Sião não prospera.

Ou talvez existam por aí encantadoras de baleias e outros discretos profetas e profetisas, longe dos holofotes, longe dos blogs e simplesmente fazendo o lhes é ensinado do alto.

Que Deus tenha piedade de nós.


Arquivado em:Arte, Cultura Mórmon, Filosofando, Mórmon, Mormon, Mulher, SUD, Vida Mórmon, Vozes Mórmons Tagged: Cinema, Doutrina, doutrina mórmon, doutrina profunda, Espiritualidade, Filme, História mórmon, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Mormonismo, Mulheres, Ordain Women, Profeta, Sociedade de Socorro
Viewing all 183 articles
Browse latest View live