Nos blogs do autodescrito “bloggernacle,” na maioria escritos em inglês, o “momento mórmon” não é nada novo. A mídia norte-americana também já vem explorando esse tema faz anos.
Então, por que falar mais disso nos Vozes Mórmons?
Bem, pelo menos da minha parte, o motivo é que estou bem insatisfeito com um lado dessa conversa pública sobre o mundo mórmon: estão esquecendo (na maior parte) o melhor aspecto dele, a cultura e vida dos mórmons fora dos EUA.
O Estereótipo Mórmon
A maioria aqui já sabe daquilo que vou descrever agora — há um estereótipo dos mórmons prevalece muito nos EUA, e aqui não estou falando das percepções erradas que as pessoas têm sobre a gente (especialmente sobre a prática continuada de poligamia) ou dos padrões e normas de vida que são identificados com membros da Igreja (como a Palavra de Sabedoria, o uso de garments, e outros mais) — estou falando das características estereotipadas que vão além de tudo isso, e que enchem o saco ainda mais porque têm alguma base na realidade. Aqui nos EUA, este estereótipo é mais forte com respeito aos homens (em parte, eu acho, por causa da ênfase da Igreja desde os anos 50 no princípio que diz que a mulher deve se manter em casa, e por isso fica fora do olhar público). Então, como parece este estereótipo do homem mórmon?
Branco. Pelo menos classe média, senão rico. Casado cedo com um monte de filhos (ou pelo menos com a expectativa de tal). Homem de negócios, muitas vezes com MBA na mão. De política conservadora, normalmente registrado nos EUA como Republicano ou Libertário.
Esse estereótipo é forte não só porque é refletido no mórmon atualmente mais famoso do mundo, Mitt Romney, mas porque é também refletido em muitos outros (A familia Huntsman, com o ex-governador de Utah Jon, Jr. e seu pai, Jon, Sr., fundador de uma empresa bem sucedida de química; a família Marriott, com a sua rede enorme de hotéis de luxo; Nolan Archibald, CEO de Black & Decker; David Neeleman, fundador das linhas aéreas JetBlue e Azul; e tantos outros).
Pessoalmente, sou muitas destas coisas–sou branco, criado numa família de classe média alta com pais que são professores universitários, casei mais ou menos cedo (aos 25 anos) e eu e minha esposa queremos três filhos, senão mais.
Ao mesmo tempo, não sou muito a fim de uma carreira de negócios (para mim, parece igualzinho ao sétimo grau do inferno descrito por Dante). Minha política vai mais ao lado dos socialistas e hippies (posso indicar meus pais como os responsáveis disso, que se descrevem como “hippies mórmons” e se encontraram em São Fransisco no início dos anos 70 — cresci ouvindo Bob Marley desde o ventre).
Mas estou começando a fugir do tema — se já eu fujo desse estereótipo como homem branco de classe média, quanto mais mórmons negros, mórmons pobres, mórmons asiáticos, latino-americanos, ou mais especificamente nesse caso, mórmons brasileiros, com toda a diversidade que esse grupo já tem em si? Sei pela minha experiência que há muitos mórmons brasileiros que se acercam desse estereótipo (entrando pelos negócios, torcendo politicamente pela centro-direita), muitas vezes em parte pelo incentivo de líderes da Igreja dos EUA, mas o que adorei sobre minhas experiências na Igreja durante os anos que já passei no norte e nordeste do Brasil (antes, durante e após a missão) é a diversidade de gente que entra pelos portões a cada domingo. Não é que esta diversidade não exista também em várias partes ou diversas alas nos EUA — adorei minha ala no Harlem quando fui professor da escola primária em Nova Iorque, onde tinha uma mistura gostosa de gente negra, latina e imigrante de toda parte (Haiti, Gana, Nigéria, República Dominicana, e toda parte da América Latina). Também adorei o ano em que minha esposa e eu passamos na Reserva Indígena da Tribo Navajo, onde também fui professor da escola primária. E ainda nem falei da diversidade de experiência e opinião que existe nos cantinhos de qualquer ala ou ramo nos EUA, mesmo que muitas vezes essas pessoas tenham receio de abrir a boca durante a Escola Dominical. O problema é que nos EUA, mesmo que você saia do estereótipo, ele ainda existe no pensamento da sociedade como todo.
Pelo menos ao meu ver (e estou ansioso para ser corrigido) parece que o maior estereótipo mórmon que existe no Brasil é dos missionários, não dos membros, e por falta de expectativa cultural do que seja “normal” entre os mórmons, há mais espaço para todo tipo de gente.
O que vocês acham? Sei que isso pode variar em várias partes do Brasil, como meus amigos Marcello e Antônio me mostraram quando conversamos no podcast da Mormon Matters na semana passada. Eles me disseram que na experiência deles em São Paulo, Rio e Rio Grande do Sul, onde a Igreja é melhor estabelecida, não há muita tolerância para diversidade de opinião que saia da ortodoxia.
Quero chutar esta pergunta para todos vocês: além de viver os padrões da Igreja, há um estereótipo de um “estilo de vida mórmon” no Brasil aos quais os membros são comparados?
O estabelecimento do Reino de Deus nos últimos dias é um dos temas que norteava as ações de Joseph Smith e os primeiros conversos mórmons na sua busca por Sião. Muitos mórmons modernos e estudiosos iniciantes do mormonismo ficarão surpresos, porém, ao saber que a Igreja estabelecida em 1830 não era vista por Joseph Smith como o Reino de Deus na terra. Quase quatorze anos após a fundação da Igreja de Cristo em Palmyra, Joseph Smith falava sobre o estabelecimento de um alicerce desse reino em tempo futuro:
Acredito ser um dos agentes no estabelecimento do reino visto por Daniel, através da palavra do Senhor, e é minha intenção estabelecer um alicerce que revolucionará o mundo inteiro. (Joseph Smith, maio de 1844, Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, p.357)
A organização de um conselho com pretensões teocráticas na cidade de Nauvoo, poucos meses antes de seu assassinato, mostra que Joseph Smith de fato estabeleceu um alicerce do reino divino visto por antigos profetas, através do Conselho dos 50. O que foi esse Conselho? Quais seus objetivos? Que relação tinha com a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias?
Este post é a continuação de uma série que iniciei no ano passado sobre Teodemocracia. Para melhor entendimento do conceito, sugiro a leitura deste primeiro artigo.
A diferença entre a Igreja de Jesus Cristo e o Reino de Deus
Muitas vezes ouvimos a afirmação de que a IJCSUD é o Reino de Deus na terra. É interessante ver como esse é um conceito moderno e diferente daquele ensinado por Joseph Smith, seus contemporâneos e sucessores imediatos na presidência da Igreja.
Vamos recorrer a uma metáfora para poder entender a diferença entre essas duas instituições.
Cores e tons
B. H. Roberts
Muitas vezes podemos ficar em dúvida se um tecido ou objeto é verde ou azul, porque aquela cor está no limite entre as duas. De forma semelhante, muitas vezes usamos de forma intercalada diversas expresões para nos referirmos à mesma coisa, sem ter certeza da sua singularidade. B. H. Roberts fala do uso intercalado de ‘Igreja”, “Reino” e outras expressões como sinônimos, afirmando, no enatnto, que Joseph Smith reconhecia uma distinção entre os dois:
“(…) nas escrituras sagradas (…) as expressões Reino de Deus, Reino dos Céus, a Igreja de Cristo, Igreja de Deus, a Igreja, etc., são muitas vezes usadas intercalada e indiscriminadamente (…). Mas é adequado (…) saber que Joseph Smith (…) reconhecia uma distinção entre “A Igreja de Jesus Cristo” e o “Reino de Deus”. (…) E [Joseph] efetuou a organização de um núcleo do Reino acima referido (…).” (B. H. Roberts, The Rise and Fall of Nauvoo, p. 180, 181)
Mas como distinguir uma organização da outra?
Voltemos ao exemplo das cores. Se perguntarmos aqui quantos tons tem a cor branca, talvez haja quem diga que o branco não tem tons. Um ou outro lembrará do “branco gelo”, pelo que poderá ser questionado se é realmente branco, etc.. No entanto, em uma comunidade esquimó, teríamos listados dezenas de tons da cor branca.
O que faz o povo esquimó ter esta riqueza em sua linguagem? O que os faz perceber tonalidades invisíveis aos nossos olhos? Com certeza, o fato de viverem em meio ao gelo e à neve faz com que sua percepção se aguce a tal ponto que possam distinguir e referir-se a diferentes tons do branco. Também deve ser mencionada aqui a necessidade que devem sentir para se localizar ou interagir a respeito do ambiente em que vivem.
Retomando a citação de B. H. Roberts, ao nos familiarizarmos mais com as escrituras, poderemos ver que em meio ao branco, há diferentes tonalidades nas expressões usadas para se referir à organização de Deus na terra. Se não estivermos familiarizados com a ideia de que a restauração do evangelho incluiu o estabelecimento de outras organizações além da Igreja de Cristo, não teremos como distinguir as demais organizações, especialmente pelo fato de tais informações não estarem disponíveis nas publicações oficiais da Igreja sud.
Sacerdócio como governo
Joseph Smith definiu o sacerdócio como sendo “uma lei perfeita de teocracia e [que] se coloca como Deus para dar leis ao povo”. Provavelmente pensando nos diferentes níveis de conhecimento e retidão do povo, correspondendo talvez à sua visão dos três graus de glória, Joseph Smith concebeu pelos menos três formas de governo do sacerdócio, investidos em três diferentes organizações – a Igreja de Jesus Cristo, a Igreja do Primogênito ou Ordem Sagrada, e o Reino de Deus. O último abrigaria a porção do sacerdócio destinada ao governo da humanidade, sem pretensões de conversão religiosa ou filiação à Igreja sud. Em outras palavras, o Reino de Deus guiaria os assuntos políticos e sociais da humanidade como a parte mais externa do sacerdócio.
“Mas não é a Igreja”
De acordo com Brigham Young, esse Reino na terra não era a Igreja de Jesus Cristo:
“(…) Esse reino está atualmente organizado e os habitantes da terra não o conhecem. (…) Esse reino cresce a partir da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias mas não é a Igreja.” (Brigham Young, Journal of Discourses 2:310)
É óbvio que os habitantes da terra sabiam da existência de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, tanto que a perseguiram, fazendo com que o corpo principal dos santos buscasse refúgio nas Montanhas Rochosas. No entanto, Brigham Young nos diz que o mundo desconhecia a existência do Reino de Deus. Isso obviamente contradiz o entendimento hoje comum entre os membros da Igreja sud, de que A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é o próprio reino de Deus na terra. O apóstolo Bruce R. McConckie, por exemplo, em seu clássico Mormon Doctrine, afirma que “a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias como hoje constituída é o reino de Deus na terra. Nada mais precisa ser feito para estabelecer o reino” (Bookcraft, 1979, p. 415).
Aqui poderíamos questionar se tal distinção não seria uma inovação doutrinária introduzida por Brigham Young. Como nos diz B. H. Roberts, foi Joseph Smith quem ensinou esse ensinamento de forma individual e nos círculos mais reservados do sacerdócio e formando de fato um núcleo do Reino.
O Conselho dos 50
O núcleo de tal Reino, referido por B. H. Roberts, foi conhecido como o Conselho dos 50, uma organização estabelecida por Joseph Smith em Nauvoo e que reunia esse número aproximado de homens, incluindo dois “gentios” (não-membros). Era um conselho independente da Igreja SUD e que se ocupava principalmente de estabelecer um governo teocrático que garantisse a liberdade para os mórmons e toda a humanidade. O Conselho dos 50 foi a última organização estabelecida por Joseph Smith, poucos meses antes de seu assassinato.
O Conselho dos 50 foi organizado em Nauvoo no dia 11 de março de 1844. Uma revelação divina deu o nome completo ao Conselho:
“Assim diz o Senhor, este é o nome pelo qual vocês serão chamados, o Reino de Deus e suas Leis, com suas Chaves e poder, e julgamento nas mãos de seus servos, Ahman Cristo.” (William Clayton, An intimate chronicle: the journals of William Clayton, p. 153. Signature, 1995)
Benjamin F. Johnson
Um dos membros originais dos 50, Benjamin F. Johnson assim definiu aquela organização:
o reino de Deus em embrião sobre a terra – uma organização distinta da Igreja, um núcleo de governo popular que existirá para todas as pessoas. (…) formado por representantes de cada nação, principado e tribo (…); um governo de Deus para o povo e pelo povo, no qual o homem será ensinado a governar a si mesmo, o qual continuará ao longo do período milenar como o muro ou governo externo em torno do templo interno do sacerdócio (…). (BenjaminF. Johnson, My life’s review: autobiography of Benjamin F. Johnson. Grandin. Provo, 1997.)
Os planos iniciais do Conselho dos 50, de acordo com seu secretário William Clayton, incluiam dois movimentos aparentemente contraditórios: por um lado, a busca de um novo local, fora dos EUA, para a migração dos santos, sendo a jovem República do Texas uma das mais fortes possibilidades à época; por outro, a campanha de Joseph Smith à presidência dos EUA (ibidem, p. 154). O resultado dos dois movimentos nos é conhecido: a campanha de Joseph Smith foi interrompida com seu assassinato, enquanto o êxodo dos santos para fora dos EUA realmente ocorreu, ainda que pese o fato de que uma nação independente como almejada não foi formada, mas acabou por tornar-se um novo estado norte-americano.
Com a total “americanização” de Utah, especialmente a partir da década de 1890, com o fim do casamento plural e da adoção, a concepção do Reino como uma organização distinta e acima da Igreja de Jesus Cristo foi perdida, passando-se então a adotar uma visão subjetivista e genérica do Reino sendo a própria Igreja, sem reivindicar poder temporal algum.
Os primórdios do séc. XX viram o ocaso e morte do Conselho dos 50. O entendimento de sua existência e funções, no entanto, permanece como uma das mais importantes chaves para a compreensão de Joseph Smith e o mormonismo.
Papiro copta faz referência à esposa de Jesus Cristo
Uma historiadora da Universidade de Harvard, especializada em cristianismo primitivo, identificou um pequeno fragmento de papiro em que Jesus Cristo é citado falando de sua esposa. A Dra. Karen L. King e sua equipe trabalharam sobre o pequeno fragmento de apenas oito linhas, partindo da ideia de que poderia ser uma fraude. Mas a conclusão unânime foi de que não era. O fragmento de “O Evangelho da Esposa de Jesus”, como foi nomeado o texto, é um documento autêntico em um dialeto do copta, idioma egípcio escrito com caracteres gregos, provavelmente do séc. IV. O recorte do fragmento faz com que nenhuma frase esteja completa. Mas em meio à narrativa de um debate entre Cristo e seus discípulos, é possível ler “Jesus disse a eles: ‘Minha esposa…’”. Essa é a primeira alusão na primeira pessoa ao matrimônio de Cristo em um evangelho apócrifo. Logo abaixo, lê-se “e ela será capaz de ser minha discípula”.
Ao contrário do que foi dito ontem no telejornal de maior audiência no Brasil, a Dra. King declarou em entrevista ao New York Times que não considera o papiro como um prova de que Jesus tenha sido casado. Como historiadora (e não teóloga) analisando um texto (e não o homem histórico do qual ele fala), ela considera o texto como uma evidência de que existia entre os cristãos dos primeiros séculos a crença de que Cristo havia se casado. Essa é uma diferença importante, em termos acadêmicos, especialmente tendo em mente a possível datação do documento e o fato de que nesse mesmo período um autor cristão faz a afirmação de que Jesus não era casado.
De acordo com a pesquisadora, o próprio estado precário do fragmento pode ter sido resultado dos acirrados debates em torno da vida pessoal de Cristo e suas implicações para os cristãos:
É possível que a referência explícita ao estado civil de Jesus (…) tenha sido jogada numa pilha de lixo não (apenas?) porque o papiro em si estivesse gasto ou estragado, mas porque as ideias que continha iam tão fortemente contra as correntes ascéticas para onde corriam as práticas e entendimentos cristãos do casamento e intercurso sexual? Talvez. Nunca saberemos com certeza. (“Jesus said to them, ‘My wife…“, penúltima página)
Aqui o passado parece falar ao presente, uma vez que o universo religioso hoje também debate questões relacionadas a casamento, gênero e sexualidade. E até mesmo a cultura popular reflete e promove esse debate. O Código Da Vinci causou polêmica em anos recentes ao falar de Jesus Cristo ter sido casado e deixado descendentes. Tal debate poderá ser reaceso com a tradução do novo papiro copta? A referência errada no Jornal Nacional já nos indica o potencial de excitar a imaginação de muitos.
Para os santos dos últimos dias, esse debate tem uma enorme relevância, dado o fato de que Joseph Smith foi um proponente da ideia de Cristo ser casado, além da história mórmon nos mostrar o papel mais ativo que mulheres já tiveram no passado, impondo as mãos sobre doentes ou falando em línguas. Será que a pesquisa acadêmica nos ajudará a apreciar melhor ensinamentos já varridos para baixo do tapete?
Não estou certo sobre as possíveis repercussões dessa recente descoberta no mundo mórmon. Ou mesmo para o cristianismo em geral. Talvez não haja nenhuma mudança de percepção. Afinal, há um grande vácuo entre o que transcorre no mundo acadêmico e o que se ensina nas igrejas. Mas torço para que pesquisas como a da Dra. King possam, ao menos, nos traçar um retrato ainda mais claro do rico e tumultuado cristianismo dos primeiros séculos.
Joseph Smith primeiro disse que havia dois sacerdócios. Mais tarde, ensinou sobre três sacerdócios. Deveríamos desconsiderar a existência de uma terceira ordem, apenas por não estar explicitamente nomeada nas obras padrão, quando isso reflete o aprendizado do Profeta doze anos mais tarde?
A seção 107 de Doutrina e Convênios inicia com a afirmação de que ”Há, na igreja, dois sacerdócios, a saber: o de Melquisedeque e o Aarônico, que inclui o Sacerdócio Levítico.” O texto é data de 1835 e inclui elementos do início da década de 1830. Ainda que a Igreja sud tenha mudado enormemente sua compreensão do que seja o sacerdócio desde então, permanece a afirmação de que existem dois sacerdócios, sendo o menor parte do maior.
No mesmo texto, porém, há um elemento que aponta para uma outra porção do sacerdócio. Ao falar da responsabilidade dos Doze em ordenar “ministros evangélicos”, patriarcas, a revelação menciona uma “ordem (…) instituída nos dias de Adão e transmitida, por linhagem”. Após listar a genealogia dessa ordem desde Adão a Noé, o texto volta a Adão e fala de sua bênção em Adão-ondi-Amã. Essa parte do texto originalmente provem de uma bênção dada em 1833 por Joseph Smith a seu pai, primeiro patriarca da Igreja.
Mais tarde, Joseph Smith elaboraria uma outra representação do sacerdócio em que a ordem patriarcal mencionada em 1833 teria um espaço próprio. Com a primeira administração da investidura, em 4 de maio de 1842, Joseph Smith já tinha claro o conceito de um sacerdócio patriarcal. Presente naquela ocasião, George Miller assim escreveu em seu diário: ”Joseph nos lavou e ungiu como Reis e Sacerdotes para Deus, e sobre a Casa de Israel, (…) e conferiu sobre nós o Sacerdócio Patriarcal”.
Em um discurso de 27 de setembro de 1843, Joseph Smith fala ao público de Nauvoo sobre o capítulo sete de Hebreus e menciona explicitamente as três ordens do sacerdócio:
Há três grandes princípios ou ordens de Sacerdócio retratados neste capítulo:
1° Levítico (…)
2° Poder patriarcal de Abraão, que é o maior já experimentado nesta igreja
3° O de Melquisedeque (…) (Words of the Prophet Joseph Smith, p. 245, versão de Franklin D. Richards)
Num momento em que os santos estavam construindo o templo de Nauvoo, Joseph Smith ainda disse a respeito dessa ordem patriarcal:
O 2° Sacerdócio é a autoridade patriarcal. Vão e terminem o templo e Deus o encherá de poder e então vocês receberão mais conhecimento sobre esse sacerdócio. (History of the Church, 5:556; Teachings of the prophet Joseph Smith, p. 322, 323)
Numa revelação anterior, de 1841, embora a história da Igreja registrasse a restauração do sacerdócio de Aarão e de Melquisedeque, o templo era representado como o lugar onde seria restaurada a “plenitude do sacerdócio”:
Porque não há na Terra um lugar a que ele possa vir e restaurar aquilo que perdestes, ou seja, aquilo que ele tirou, sim, a plenitude do sacerdócio. (D&C 124:28)
Joseph Smith aguardava uma nova restauração de chaves do sacerdócio patriarcal? Concebia as ordenanças do templo como uma manifestação de tal sacerdócio?
Evidentemente, Joseph Smith teve a sua curva de aprendizado e não teve o tempo necessário (e, por vezes, a cooperação necessária) para implementar suas novas percepções sobre o sacerdócio. Ainda que não encontremos um consenso sobre quais eram seus planos ou como teria sido a igreja idealizada por ele, é um fato indiscutível que Joseph Smith nos últimos anos da sua vida acreditava não em apenas duas mas três porções ou ordens do sacerdócio, o que incluía o sacerdócio patriarcal; que esse sacerdócio foi introduzido nas primeiras administrações da investidura; e que as três ordens estavam originalmente representadas na hierarquia da Igreja de Cristo com suas três posições maiores: o patriarca da Igreja (sacerdócio patriarcal), o presidente da igreja (sacerdócio de Melquisedeque) e o bispo presidente (sacerdócio aarônico).
Ainda que pouco nos tenha sido deixado por Joseph Smith sobre o sacerdócio patriarcal, sua afirmação de que esse era “o maior [poder] já experimentado nesta igreja” deveria soar motivador o bastante para atrair nossa atenção e estudo.
Como alguém pode receber o Espírito Santo? Algumas ideias aleatórias sobre o dom do Espírito Santo
Um quórum de deuses
Um quórum de três deuses preside sobre esta terra. Nesse quórum do sacerdócio, cada membro está em um diferente estágio de deidade e atua em uma missão ou dispensação para conosco, deuses mortais:
Convênio eterno foi feito entre três personagens antes da organização desta terra, e se relaciona com sua dispensação de coisas aos homens na terra; esses personagens, de acordo com o registro de Abraão, são chamados Deus, o primeiro, o Criador; Deus o segundo, o Redentor; e Deus o terceiro, a testemunha ou Testador. (Teachings of the Prophet Joseph Smith, p. 190)
O Espírito Santo como um deus
Como o terceiro membro desse quórum, o Espírito Santo também é um deus. Ele será reconhecido por muitos neste mundo, porém, como o Deus supremo. Em várias culturas, pessoas acreditam que Deus é um espírito, sem um corpo físico, o qual inspira a humanidade a fazer o bem e a buscar a paz; que se comunica conosco através de impressões e sentimentos. Isso soa como uma descrição dos frutos do Espírito Santo. Talvez não seja coincidência que o Espírito santo seja o deus que preside sobre o reino telestial, onde a maioria de nós parece se encaixar.¹
Aqueles que entendem a sua relação com o Pai e o Filho e buscam por mais luz também precisam conhecer as operações do Espírito Santo e buscar a sua influência, como o primeiro Consolador.
As ordenanças do sacerdócio e a deidade
Ao nos tornarmos conscientes de nossa origem e potencial divinos, e nos esforçarmos para viver a verdade, passamos a desenvolver uma relação mais pessoal com os membros da deidade. Oramos ao Pai em nome do nosso irmão mais velho, recebemos inspiração através do Espírito Santo; somos batizados em nome dos três deuses; administramos e recebemos ordenanças por sua autoridade; simbolicamente aprendemos como entrar no lar de nosso Pai e ser por Ele abraçados.
O recebimento das ordenanças é parte de desenvolvermos uma relação pessoal com a deidade. Sem um esforço sincero de viver os princípios do evangelho e receber suas respectivas ordenanças, não conseguimos experimentar totalmente “o poder da divindade” em nossas vidas, ter acesso aos “mistérios da divindade” e “o conhecimento de Deus” ou entrar na presença do “Pai e viver” (D&C 86:19-22).
Os dois batismos
Algumas escrituras chamam as duas primeiras ordenanças do evangelho de “batismos” – batismo de água e batismo de fogo.² Acho essas expressões significativas ao evocarem duas partes de um mesmo processo purificador, assim como uma “imersão” nos princípios simbolizados nas duas ordenanças. Entender a beleza e profundidade dessas ordenanças nos impedirá de reduzi-las a uma mera questão de filiação à Igreja.
Joseph Smith ensina que os dois “batismos” estão relacionado se tinham o objetivo de trazer ao indivíduo a influência do Espírito Santo. Ao invés declarar o recebimento do dom do Espírito Santo como um complemento do batismo na água, ele vê o batismo na água como um passo preparatório para receber o Espírito Santo:
Batismo é uma santa ordenança preparatória para a recepção do Espírito Santo. É o canal e chave pela qual o Espírito Santo será administrado. (Words of Joseph Smith, p. 03)
Um mandamento
Nenhum de nós tem a autoridade para designar um deus a uma tarefa; tampouco podemos “transferir” o Espírito Santo a alguém – ele não é nossa propriedade e não temos poder sobre ele. Ao impôr as mãos sobre a cabeça de outra pessoa, um portador do sacerdócio dirá “recebe o Espírito Santo”. O modo imperativo da frase nos comunica que estamos recebendo um mandamento.
Ao fazermos convênios com Deus, não esperamos que Ele venha a nós sem o nosso esforço de nos aproximarmos Dele. De forma semelhante, não podemos esperar “receber o Espírito Santo” sem buscar a sua influência na nossa vida.
Achegai-vos a mim e achegar-me-ei a vós; procurai-me diligentemente e achar-me-eis; pedi e recebereis; batei e ser-vos-á aberto. (D&C 88:63)
Há uma forma de saber com certeza se temos ou não a influência do Espírito em nossas vidas:
Nenhum homem pode receber o Espírito Santo sem receber revelações. O Espírito Santo é um revelador. (Words of Joseph Smith, p. 256.)
Se o Espírito Santo é um revelador e somos ordenados a receber o Espírito Santo, estamos sermos instruídos a receber revelações. Receber revelações verdadeiras para su aprópria vida é receber o Espírito Santo. Para tanto, a ordenança em si não é suficiente. A ordenança externa é um passo necessário para abrir as portas à ordenança interna, ao longo de toda a vida. Parafraseando o que disse Joseph, se um homem ou uma mulher recebe o Espírito Santo, ele ou ela receberá revelações do céu. Se isso não acontecer, é porque o Espírito Santo não está sendo bem-vindo, recebido.
Mas se não sois levados por revelação como podeis escapar da danação do inferno?(Words of Joseph Smith, p. 345.)
NOTAS
¹ D&C 76: 81-86.
² Por exemplo, Mat. 3:11, 2 Né. 31:13, D&C 39:6, Moisés 6:66.
Mórmons acreditam em reencarnação? A esmagadora maioria provavelmente não. E tal crença nunca foi considerada como uma doutrina característica do mormonismo. Mas um olhar histórico sobre o passado nos revela que muitos mórmons já partilharam da crença em múltiplas provações mortais.
A ideia de que o ser humano passa por mais de uma vida mortal parece existir nas mais diversas tradições religiosas ao redor do mundo. É interessante notar que mesmo em religiões que majoritariamente creem em uma única vida mortal, há aqueles que acreditam em reencarnação, como é o caso de algumas escolas cabalistas dentro do judaísmo.¹ Ainda que tenha sido sempre uma posição minoritária entre as autoridades gerais e nunca tenha chegado a fazer parte da doutrina de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, o conceito de que há múltiplos nascimentos e mortes para o mesmo indivíduo já foi defendido por proeminentes líderes mórmons. Neste breve artigo, nos concentraremos em apenas dois nomes – os apóstolos Orson F. Whitney e Heber C. Kimball.
Argila a ser moldada
Heber C. Kimball (1801-1868) foi um dos apóstolos originais ordenados em 1835, servindo a partir de 1847 como conselheiro de Brigham Young. Oleiro de profissão, Kimball muitas vezes falava da argila como uma metáfora do ser humano que deve ser maleável nas mãos do seu Criador. E que também pode ter que voltar à fonte para ser refeita em uma nova peça:
Em quantas formas vocês imaginam que são colocados antes de se tornar santos, ou antes de se tornarem perfeitos e santificados para entrar no glória celestial de Deus? Vocês tem que ser como o barro nas mãos do oleiro. Você não sabe que o Senhor dirigiu o Profeta antigamente, para ir até a casa do oleiro ver um milagre no torno? Suponha que o oleiro leva um pedaço de barro, e o coloca no torno, (…) mas a argila é refratária e irritadiça, ele ainda tenta, mas vai quebrar (…) e assim, o oleiro (…) e a corta (…) e joga no moinho (…) outra vez (…) Digo a vocês, irmãos, que se não forem passivos, terão que ir para aquele moinho, e talvez ter que moer por mil anos, e depois o Evangelho será oferecido a vocês de novo (…). (Journal of Discourses, vol. 1, p. 161)
A metáfora do oleiro e da argila também servia para Kimball expressar sua visão das mortalidades pelas quais o ser humano havia de passar.
Se vocês não cultivarem a si mesmos e cultivarem o seu espírito neste estado de existência, é tão verdadeiro como há um Deus vivo, que vocês terão que ir para outro estado de existência, e trazer seus espíritos em sujeição lá. (Journal of Discourses: vol. 1, p. 356)
(…) acredito que a maior parte dos habitantes da terra será redimida; sim, todos serão finalmente redimidos, exceto aqueles que pecaram contra o Espírito Santo ou derramaram sangue inocente; e eles nunca poderão ser redimidos até que a dívida seja paga. E não conheço nenhuma maneira deles a pagarem, a não ser que sejam trazidos de volta a uma existência mortal e paguem a dívida onde a contraíram. (Journal of Discourses vol. 6, p. 67)
Entre você e o Senhor
Diferente de Kimball, Orson F. Whitney (1855-1931) era dono de uma conceituada formação educacional, havendo escrito poesia e história. Whitney foi chamado ao Quóum dos 12 em 1905, após a saída de Mathias F. Cowley e John W. Taylor.²
Fascinado pela figura de seu antecessor Heber C. Kimball, sobre quem escreveu uma biografia, não é difícil de se imaginar que seu aprendizado sobre a doutrina de múltiplas mortalidades no mormonismo tenha sido em parte influenciada pelos sermões do élder Kimball.
A independência intelectual de Orson Whitney pode ser vista nos registros de seu diário, anterior à sua ordenação apostólica, onde expressa sua crença em múltiplas mortalidades, mesmo em contrário à posição de Wilford Woodruff:
Esta noite, ouvi que o presidente Woodruff, em uma reunião em Manti, há poucos dias, declarou publicamente que a doutrina da reencarnação, que é a de um espírito ter vários corpos, é falsa; que ele era Wilford Woodruff e ninguém mais, etc, etc. Tudo bem, ir. Woodruff, se você realmente disse isso, é entre você e o Senhor. Eu acredito que seja uma doutrina verdadeira. (Diário de Orson F. Whitney, 3 de junho de 1889, Arquivos da Igreja)
Da mesma época, há o registro de uma conversa com Lorenzo R. Snow, em que este fala a Whitney sobre as crenças de sua irmã Eliza:
Durante nossas conversas ele [Lorenzo Snow] me disse que sua irmã, a falecida Eliza R. Snow Smith, era uma firme crente no princípio da reencarnação e que ela dizia tê-lo recebido de Joseph, o Profeta, seu esposo. Ele disse que não via nada que não fosse razoável nisso e que ele podia acreditar, se viesse do Senhor ou do seu oráculo. (Diário, 8 de junho de 1889)
Uma ampla liberdade e a crença em revelação pessoal podem ter sido elementos que criaram um campo fértil para a ideia de reencarnação entre os sud do século XIX, especialmente durante o período vivido por Kimball. Enquanto Heber C. Kimball falava sobre o princípio de múltiplas mortalidades de forma pública e quase explícita, Orson F. Whitney o fez em seus próprios registros pessoais. Afinal, Whitney viu um presidente da Igreja se opôr à ideia de reencarnação, o que talvez explicaria sua atitude mais reservada. (Em ambos os casos, obviamente, alusões à crença reencarnacionista podem ser “detectadas” ou negadas a partir de diferentes perspectivas, ainda que isso seja mais difícil no caso de Kimball.) Além disso, a ênfase dada na teologia à vida pré-mortal e ao avanço a diferentes reinos de glória pode ter sido interpretada de modo mais livre pelos santos da época. Os exemplos acima, no entanto, permanecem como uma amostra do rico debate metafísico sobre o plano de salvação nos primeiros cinquenta anos de existência da Igreja sud.
NOTAS
1. O judaísmo talvez nos forneça um interessante precedente para a crença reencarnacionista entre antigos mórmons, ao não contrapor reencarnação e ressurreição como possibilidades mutuamente excludentes.
2. Os apóstolos Cowley e Taylor foram removidos do Quórum dos Doze pelo seu envolvimento com o casamento plural após o Manifesto de 1890, fato que nos ajuda a ter uma ideia da convivência por vezes tumultuada das Autoridades Gerais e sua diversidade de posições doutrinárias à época.
Templos são sagrados para os Mórmons. Tão sagrados que Santos dos Últimos Dias, membros da maior igreja Mórmon na atualidade, precisam comprovar sua “dignidade” para sequer poder entrar ou frequentar um de seus muitos templos.
Esta “comprovação de dignidade” ocorre durante duas entrevistas oficiais com líderes eclesiásticos, que devem ocorrer bienalmente. Durante essas entrevistas, uma lista de 14 perguntas são feitas. Entre elas uma sobre honestidade:
9. Você é honesto em palavras e ações?
Obviamente, honestidade é um princípio valorizado entre Mórmons. E isso não é surpreendente. Afinal, a Bíblia Hebraica (i.e., Velho Testamento) inclui, em uma das duas listas de Dez Mandamentos (Ex. 20; c.f. Ex. 34), a mesma preocupação:
16. Não darás falso testemunho contra o teu próximo.
A Bíblia Cristã (i.e., Novo Testamento) é ainda mais gráfica em sua condenação da prática da mentira (Apo. 21):
8. … todos os mentirosos — o lugar deles será no lago de fogo que arde com enxofre. Esta é a segunda morte.
Além de todo o foco doutrinário e teológico, honestidade é um dos temas recorrentes no ensino da Primária (crianças), com canções famosas — e muito repetidas — como a ‘Creio em ser Honesto‘:
A minha honestidade vai,
Brilhar em tudo que eu fizer,
Bons hábitos cultivarei,
E só verdades eu direi,
O certo eu defenderei,
E um exemplo eu serei.
Não há como passar uma mensagem mais clara que essa: Mórmons acreditam em ser honestos! Mórmons acreditam em ensinar (doutrinar, até) seus pequenos Mórmonzinhos a serem honestos. Mórmons acreditam em incentivar (coagir, até) seus adultos a serem honestos.
Não obstante, existe um experimento social que contradiga essa mensagem e sugere que Mórmons, na prática cultural, não aderem tão estritamente ao conceito de honestidade.
O Candidato Mórmon
Ontem foi o último dia da campanha de Mitt Romney para Presidente dos Estados Unidos. Em quase seis anos de campanha presidencial, Romney contou milhares de mentiras documentadas e comprovadas, muitas das quais lhe foram contestadas em pessoa ou por escrito, sem quaisquer retratações, públicas ou privadas. Em realidade, o grau de desonestidade é tão grande que é possível que, no julgamento histórico futuro, as mentiras de Romney marquem mais a sua candidatura que o fato histórico de ser o primeiro Mórmon a ser um candidato viável à presidência Americana. [1][2][3]
Mitt Romney é apenas um homem, e não é justo julgar um grupo inteiro de pessoas baseado nas falhas éticas deste único exemplar. E, naturalmente, há e houve políticos no presente e no passado que tenham sido marcados por mentiras, desonestidade, e anti-ética. O que realmente me alarmou e me surpreendeu durante essa campanha foi o entusiasmo com que Mórmons abraçaram a candidatura de Mitt Romney (inclusive com tácito apoio de oficiais e líderes gerais da Igreja), a despeito dela ser notoriamente caracterizada pela desonestidade! Todas as pesquisas de opinião pública apontam apoio majoritário entre Mórmons por Mitt Romney, algumas chegando a números tão assimétricos quanto 84% a favor e 13% contra. [4][5][6]
Essa maioria absoluta não se manifesta apenas estatisticamente. A evidência anedótica sustenta esses dados científicos. Em Abril de 2012, eu postei um artigo listando uma dúzia de mentiras notórias e linkando para centenas mais, e em grande parte a resposta de Mórmons foi de apoio e defesa ao candidato, sem contar as diversas reclamações em redes sociais e os emails agressivos. Desde argumentos falácicos e infantis como “todo político mente” e “ele não faz nada além do que o seu adversário faz” até as bizarrices apologéticas tentando deturpar os fatos e a realidade (das mentiras) ou distorcer as palavras (mentirosas), passando por insultos pessoais contra o mensageiro (e.g., o presente autor ou os repórteres e jornais das matérias originais), tudo que poderia ser atirado em defesa do candidato Mórmon foi atirado. Exceção feita a pia de cozinha… e a admissão de que Romney vem sido extraordinariamente desonesto.
Quando eu escrevi o post em Abril, eu imaginei que muitos (se não a maioria) dos Mórmons fossem se sentir indignados com a falta de ética e compostura moral em público de uma figura Mórmon tão proeminente. Infelizmente, o exato oposto ocorreu, aventando-se diversas desculpas esfarrapadas e táticas dissimuladoras para se manter o orgulho na posição elevada e de prestígio de um correligionário, sem traços de vergonha para a mácula pública trazida sobre a religião por associação.
Na época eu perguntei se Mitt Romney representava apropriadamente os Mórmons, cultural e moralmente. Ao aceita-lo tão efusivamente, a resposta da comunidade Mórmon me parece um sim inequívoco. A minha pergunta hoje é, então, por que? Por que uma religião que foca tanto na honestidade, e despreza tanto a mentira, abraça com tanto vigor uma figura pública que exala desonestidade e mentiras?
Em parte, a resposta repousa na própria Igreja SUD. Apesar dos ensinamentos explícitos da Igreja em prol da honestidade e da ética, a Igreja (ou, quiçá, sua liderança) tem uma longa história de desonestidade pública e oportunismo ético. Essa dissonância entre a filosofia formal e a prática pode, e deve, causar um enorme golfo intuitivo entre líderes eclesiásticos e membros comuns onde uma ambiguidade moral é cultivada (e, por vezes, encorajada), mesmo que apenas em plano subconsciente.
Mentiras Oficiais
Em carta de 1887 para o Presidente John Taylor, o Apóstolo Charles Penrose expressou preocupações:
…as prevaricações e os subterfúgios sem fim que a nossa atual condição nos impõe… ameaçam tornar da nossa próxima geração uma raça de mentirosos… [7]
Durante as décadas de 1870 e 1910, a Igreja SUD travou inúmeras batalhas legais e judiciais contra o Governo Federal dos EUA por causa da prática da Poligamia (também conhecido como Casamento Plural, Casamento Celestial, ou “O Princípio”). Entre as muitas táticas usadas pela Igreja para tentar manter a prática da Poligamia viva, a despeito de enorme pressões do governo federal, a liderança da Igreja instruiu os membros a mentirem sobre o status de suas famílias, incentivando-os a inventar estórias para explicar a ausência dos pais, trocar nomes e sobrenomes, mentir para oficiais do judiciário e mesários eleitorais, falsificar documentos de casamentos e divórcios, etc. Neste contexto, o Apóstolo Penrose demonstrou preocupação ao Presidente Taylor (este determinado a manter o “Princípio” vivo) sobre o estado moral e ético dos Santos dos Últimos Dias.
Talvez ele tenha sido mais profético que o próprio Taylor, que havia profetizado que Poligamia jamais seria “removida da Terra até a Segunda Vinda de Cristo”. [8]
Essa não foi a primeira vez que líderes na Igreja mentiram, ou incentivaram mentiras, publicamente, e não foi a última. Vejamos alguns exemplos notórios:
1) POLIGAMIA I
Em Agosto de 1835, sob a direção de Joseph Smith, a Igreja canonizou na escritura Doutrina e Convênios uma seção (removida em 1876) intitulada ‘Regras sobre Casamento’, onde Smith e a Igreja se pronunciavam determinadamente *contra* Poligamia:
Conquanto esta Igreja de Cristo tem sido repreendida pelos crimes the fornicação e poligamia: nós declaramos que cremos que um homem terá apenas uma esposa, e uma mulher apenas um marido, exceto em caso de óbito, quando qualquer um dos dois estará livre para casar-se novamente. [9]
O problema é que Joseph Smith não acreditava em “um esposo, uma esposa”, mas permitiu a inclusão desta seção para acalmar os ânimos de alguns líderes (e sua esposa Emma) que haviam se enfurecido e ofendido ao descobrir o “caso sórdido” (como descreveu Oliver Cowdery na época) entre Smith e a adolescente Fanny Alger, que na época trabalhava como empregada doméstica para os Smith.
Emma Smith, Oliver Cowdery, Warren Parrish, e demais líderes viram o relacionamento como adultério, enquanto Joseph Smith provavelmente o encarava como casamento, embora secreto. Independentemente, Smith autorizou a mentira de que Mórmons acreditavam em monogamia a ser inclusa nas escrituras para abafar a crise eclesiástica (e conjugal) que a descoberta do relacionamento (e de uma gravidez resultante) havia desencadeado. Alger, expulsa do lar Smith por Emma, sumiu de Kirtland por mais ou menos 6 meses, e logo após ressurgir, foi enviada a Missouri — e acabou casando-se com outro homem no meio do caminho.
Joseph Smith casou-se com outra mulher (em segredo) em Missouri, mas começou a campanha para angariar múltiplas esposas com afinco apenas em Illinois, no começo de 1841. Entre 1842 e sua morte em 1844, casou-se com no mínimo outras 31 mulheres, e durante esse período emitiu dúzias de comunicados públicos e oficiais, verbais e impressos, *negando* quaisquer envolvimentos com outras mulheres, tanto para os membros, como para os não-membros, como para sua esposa legal Emma. Para as esposas plurais, seus parentes, e aos amigos introduzidos ao “Princípio”, Smith exigia absoluto segredo e demandava que se mentisse sobre o assunto, caso questionados. [10][11]
Exemplificando perfeitamente sua abordagem do assunto, em Maio de 1844, com mais de 33 esposas secretas, Joseph Smith queixa-se num discurso de Sacramental:
Que [julgo pesado] é para um homem ser acusado de cometer adultério e de ter 7 esposas, quando eu só tenho apenas uma. [12]
2) MASSACRE DE INOCENTES
Em Setembro de 1857, um grupo de aproximadamente 60 Mórmons armados, sob a liderança de 2 Presidentes de Estaca, 2 Conselheiros de Estaca, 1 Bispo, e alguns Sumo-Conselheiros enganaram, sequestraram, e executaram mais de 120 inocentes, entre homens, mulheres, e crianças (a sangue frio e com requintes de crueldade).
O debate entre historiadores sobre a cumplicidade de Brigham Young ainda é feroz, mas sobre um ponto não há mais nenhum debate: Young foi culpado de “homízio” (art. 348 e 349 do atual código penal brasileiro). Imediatamente após o massacre, Young inteirou-se do ocorrido e dos culpados, ordenou a destruição de documentos (e.g., diários, cartas, botina, etc.), ajudou a foragir da lei alguns dos principais atores por quase duas décadas, criou e disseminou (com ajuda de George Smith e demais líderes) mentiras sobre as vítimas e sobre os Índios Paiute, e quando não havia como resgatar o seu enteado John Lee, decidiu pressionar por sua condenação para exonerar os demais atores de processo, inclusive a si mesmo, e salvaguardar a reputação da Igreja. [13][14][15]
3) POLIGAMIA II
Após décadas de batalhas legais e judiciais, sempre do lado perdedor, e enfrentando a completa desorganização legal da Igreja por intervenção federal, Wilford Woodruff solicitou a confidentes e amigos, entre líderes da Igreja e colegas não-Mórmons, para redigirem um texto que publicamente repudiasse a prática da Poligamia, aplacasse o governo federal, e permitisse que Utah se juntasse à União como um Estado. A esperança (completamente equivocada) era que o status de Estado lhes permitissem autonomia para redigir uma Constituição que legalizasse Poligamia, e condizente com isso, Woodruff e a maioria na Primeira Presidência e no Conselho de Doze Apóstolos continuaram contraindo, e autorizando, novos casamentos polígamos.
Em outras palavras, o que nós hoje chamamos de “O Manifesto” (i.e., Declaração Oficial #1) era uma completa farsa (mentira) para enganar o governo federal dos EUA! Enquanto isso, a liderança da Igreja (com algumas exceções) continuou mentindo para o governo federal por mais 14 anos, mantendo a instituição da Poligamia viva e presente.
Rumores da desonestidade Mórmon sobre Poligamia cresceram até culminar numa CPI (comissão parlamentar de inquérito), que se estabeleceu para determinar se autorizariam a posse do recém-eleito Senador de Utah (e Apóstolo) Reed Smoot. Durante o inquérito, líderes da Igreja foram convocados a depor, inclusive o então Presidente da Igreja Joseph F. Smith, que acabou sendo humilhado publicamente, pego em contradições e mentiras. Prontamente, Smith emitiu o que hoje chamamos de “Segundo Manifesto”, e finalmente suspendeu a prática de autorização apostólica para Poligamia (mas não sem intensa oposição de alguns do Quorum dos Doze). [16][17]
4) CONTRA DEUS
Em diversas entrevistas no ano de 1997, o então Presidente da Igreja Gordon Hinckley repudiou uma das doutrinas mais marcantes estabelecidas por Joseph Smith:
Eu não sei se nós ensinamos [que Deus Pai fora outrora um homem, como somos nós hoje]. Há muito tempo que eu não ouço isso discutido em discurso público. Eu não sei. Eu não sei todas as circunstâncias nas quais essa afirmação foi feita. Eu entendo o fundo filosófico por detrás disso. Mas eu não sei muito a respeito disso e eu não sei de outros que saibam.
Esta afirmação de Hinckley não pode ser vista como nada além de desonesta. A doutrina, além de afirmada por quase todos os Presidentes da Igreja, e por dúzias de Apóstolos, desde Joseph Smith, era em 1997 publicada pela Igreja nos Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, no manual da Escola Dominical Príncipios do Evangelho, e fora anunciada na Conferência Geral de 1994 por ninguém menos que o próprio Gordon Hinckley!
Talvez a Autoridade Geral com melhor senso de Relações Públicas, Hinckley deve ter concluído que doutrinas que distinguiam Mórmons demais dos outros Cristãos Americanos não lhe serviriam bem, e ao invés de discuti-la abertamente, ou repudia-la completamente para os membros, optou por dizer uma coisa à imprensa, e outra aos membros da Igreja. [18][19][20][21][22][23]
Estes são apenas alguns exemplos nos quais a Igreja, ou seus líderes máximos, mentiram em público para defender suas reputações, ou a da Igreja. Dificilmente se ouve discussões entre membros da Igreja sobre esses passos “em falso” por parte da liderança, e naturalmente muitas delas passam completamente desapercebidas em nível consciente. Não obstante, essas atitudes passam para o inconsciente coletivo e é assimilado em práticas culturais comunitárias e aceitáveis entre Mórmons.
Mentiras nas Escrituras
Nenhuma discussão sobre as visões Mórmons sobre mentira e honestidade poderiam deixar de abordar algumas passagens nas escrituras canônicas.
Como mencionado acima, as escrituras incluem ordens claras para evitar mentiras a todo custo: D&C 50:17-18, D&C 63:17, D&C 93:24-26, D&C 129:7, 2 Ne 9:34, 2 Ne 28:8-11, etc.
Não obstante, lemos sobre como Abraão mentiu sobre sua esposa Sarah (Gen. 20:1-16) para se proteger; o filho de Abraão, Isaque, mentiu sobre sua esposa Rebeca (Gen. 26:7-11) para se proteger; o filho de Isaque, Israel, em conluio com sua mãe Rebeca, mentiu para o pai para roubar a benção de seu irmão Esaú (Gen. 27:5-25); o primo de Isaque, Labão, mentiu para Israel para que casasse com ambas suas filhas, e não apenas Raquel (Gen. 29:18-28); e Israel mente para o seu sogro Labão para não ter que dividir heranças (Gen. 31:22-32). Ufa! Que família! E estes são os Patriarcas-Profetas fundadores de toda raça Israelita e da família de Jesus!
Mentiras Comuns
Desde jovem, membros da Igreja são “ensinados” a mentir, muitas vezes a si mesmos, e de maneira imperceptível e subliminar.
Em um vídeo que tornou-se viral na internet, o professor da religião da BYU Robert Millet ensina a estudantes se preparando para o serviço missionário como evadir e evitar perguntas diretas (e potencialmente desconfortáveis ou embaraçosas). O exemplo que ele utiliza não é diferente do que vimos acima com Gordon Hinckley:
Não deve ser a resposta mais esperta do mundo [responder à pergunta de um estranho: vocês acreditam que o Homem pode se tornar como Deus?] assim: “Sim, sim, permita-me citar Lorenzo Snow e o Profeta [Joseph Smith]“… A abordagem mais sábia seria assim: “Essa é uma pergunta muito interessante, e que me perguntam frequentemente, mas permita-me começar assim: Na Primavera de 1820…”
Quem nunca aprendeu essa manobra? Se alguém faz uma pergunta difícil ou embaraçosa sobre a Igreja, ou suas crenças, ou seu passado, ou sua história, dissimula-se. Muda-se de assunto. E, no pior das hipóteses, ataca-se a credibilidade ou a honestidade ou a sinceridade do interlocutor!
Não seria mais honesto responder a pergunta? Sim, nós acreditamos que Deus já foi um homem mortal, e sim acreditamos que um homem mortal digno pode ser como Deus.
Quantas vezes membros da Igreja não equivocam ou qualificam suas crenças apenas para torna-las mais “palatáveis” ou menos “estranhas” sob a pretensão de “leite antes da carne”?
Quantas vezes membros da Igreja não mentem sobre poligamia, dizendo que “nós não acreditamos mais em poligamia”, mas sabendo plenamente que a revelação sobre poligamia continua canonizada e que nos templos de hoje um homem viúvo pode ser selada a várias mulheres para eternidade, mas uma mulher viúva não pode ser selada a vários homens para a vida eterna?
Quantas vezes membros da Igreja não mentem sobre racismo, dizendo que a Igreja nunca segregou Brancos e Negros, porque Negros podiam ser batizados e gozar de filiação à Igreja, sabendo claramente que Negros eram tratados como membros de segunda categoria?
Quantas vezes membros da Igreja não mentem para aumentar as estórias “inspiradoras” ou para “promover testemunho”, ou mesmo passam adiante “rumores” que “aumentam a fé” com “fatos” que jamais são confirmados (pois sequer são fatos)? Primeiros Domingos de cada mês, no mínimo, e quase toda aula de Escola Dominical, são recheadas destas.
Na minha experiência pessoal, tanto na vida real (i.e., no campo missionário, nas reuniões dominicais, etc.), como na vida virtual (i.e., aquino blog, nas redes sociais, etc.), mentir ou dissimular é uma prática comum entre Mórmons, desde que seja para proteger a Igreja ou “fazer conversos” ou “manter a fé”. E eu conheço pouquíssimos Mórmons que discordariam dessa atitude por princípio!
Hipótese de Penrose e Conclusão
Posto que mentir para si mesmo e para não-membros é algo louvável durante a formação juvenil e pueril de um Mórmon, e posto que a própria atitude pública da Igreja sugere que mentir é aceitável diante de problemas de percepção pública, não se deve surpreender que o Mórmon médio não se choque quando um candidato político Mórmon lance mão de mentiras para vencer o pleito eleitoral.
Eu proponho o que eu vou chamar da Hipótese de Penrose, que postula que a aceitação cultural entre Mórmons da prática de mentir publicamente por justificações de fim é diretamente proporcional a prática eclesiástica de evitar confrontação direta com os problemas sociais, culturais, intelectuais, e morais de determinadas políticas ou doutrinas Mórmons.
Em defesa da Hipótese de Penrose vimos acima uma lista histórica (e não compreensiva) da ofuscação proposital por parte institucional, tanto no passado distante como no passado recente, e uma experiência social não controlada (i.e., a aceitação cultural da candidatura Romney) que demonstra que mentir é uma atitude socialmente aceitável, embora oficialmente condenada, entre Mórmons.
Ao contrário, para refutar a Hipótese de Penrose, seria fundamental encontrar dados demonstrando que Mórmons não aceitariam uma mentira pública, mesmo que ela viesse a seu favor coletivo (favorecendo um membro famoso ou a própria Igreja). Sendo que ainda não há dados que a refutem, tanto como há dados que a sustentem, eu concluo com a predição de que ela é uma descrição real do contexto cultural Mórmon na atualidade, e que dados futuros apenas a confirmarão.
A Hipótese de Penrose não é apenas uma descrição teorética negativa. Ela oferece uma predição positiva, que pode muito bem servir de conselho e mapa para um futuro éticamente melhor, como a própria citação acima de Charles Penrose sugere. Como a aceitação cultural da mentira é proporcional a prática institucional, se a Igreja passar a estabelecer uma postura menos defensiva e mais honesta, admitindo seus erros passados ou presentes, encarando abertamente suas crenças idiosincráticas independentemente de considerações em relações públicas, ignorando a crescente busca de aceitação no mercado de religiões Cristãs, e evitando mentiras e ofuscações, a HP prediz que a aceitação cultural de mentira entre membros da Igreja decrescerá proporcionalmente. Num futuro hipotético (e utópico?) onde a Igreja, e seus líderes, são francos e abertos, a HP sugere que membros da Igreja não aceitariam ser representado por um candidato a presidente que mente e engana descaradamente.
Adendo
Em tempo, eu deixo uma última anedota como a ironia máxima em todo essa triste consideração. Descobriu-se na última semana que Mitt Romney aproveitou-se de uma brecha na lei federal há quase 2 décadas para montar uma empresa fantoche que deveria servir como uma ONG cujo propósito oficial seria passar doações milionárias, feitas pelo próprio Mitt Romney, para A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Entretanto, na prática ela serve apenas para devolver-lhe o dinheiro isento de impostos federais, deixando para trás míseros percentuais para a Igreja no evento de falecimento dos “funcionários executivos” da ONG. Em outras palavras, Mitt Romney esta usando a Igreja para lavar dinheiro e evitar o fisco, de maneira desonesta e (atualmente) ilegal, em detrimento da Igreja. [24]
Deixe suas opiniões abaixo…
Apêndice
Eu recebi vários comentários em particular (gente, vamos comentar aqui embaixo para gerar um debate público sobre o assunto!), e alguns deles criticando o viés negativo contra a instituição da Igreja. As críticas são boas e válidas, e por isso gostaria de escrever algumas linhas sobre elas.
Certamente, a conclusão do artigo não é positiva nem para a Igreja, e tampouco para os membros. Ninguém gosta de ser chamado de mentiroso, e eu imagino que poucas pessoas queira uma auto-imagem como a de alguém que aprova de mentiras por motivos ideológicos. Nesse ponto, as críticas e as queixas são válidas e coerentes.
Não obstante, o artigo acima procura abordar o assunto partindo de uma perspectiva científica e racional. Apesar da Hipótese de Penrose ser uma conjectura informada (i.e., é impossível determinar externa e objetivamente as motivações de uma pessoa ou de um grupo de pessoas), ela é estruturada em fatos reais (i.e., históricos e bem documentados) e em dados estatísticos populacionais.
A candidatura de Mitt Romney é o que cientistas chamam de “Experimento Natural”. Experimentos Naturais são estudos empíricos onde as condições experimentais são determinadas pela Natureza, pelo acaso, ou por forças externas, e são particularmente úteis para Epidemiologistas, Economistas, Antropologistas, Sociologistas, e Cientistas Políticos, entre outros. No caso específico de Mitt Romney, temos a confluência de um candidato político que seja Mórmon no sentido mais tradicional, que seja notoriamente mentiroso e desonesto (bem acima de qualquer média política convencional), e que esteja disputando uma campanha apertada contra um Presidente amplamente impopular.
Seria difícil desenhar uma situação melhor para avaliar o contraste entre ideologia e honestidade, e ainda mais, foca-lo num subgrupo específico (i.e., Mórmons) e contrasta-lo contra outros subgrupos de controle (i.e., Protestantes, Cristãos em geral, Republicanos, e Americanos em geral). Sim, seria possível montar um experimento controlado para avaliar o assunto (fica a dica, cientistas da BYU!), mas seria um desperdício passar um experimento natural tão bem (fortuitamente) desenhado.
Como eu citei acima, pesquisas de opinião pública demonstram um viés a favor de Romney entre Mórmons de 84% a 13%, o que é um percentual de aprovação absurdamente enorme em qualquer situação política para qualquer país no mundo! Comparemos, então, como se sai Romney em outros subgrupos eleitorais para avaliar se há contrastes relevantes (retirados de pesquisas na mesma época do ciclo eleitoral): [4][5][6][6b][6c]
Mórmons: 84 x 13
Protestantes: 52 x 43
Evangélicos (brancos): 73 x 21
Protestantes (brancos): 53 x 43
Protestantes (negros): 1 x 95
Católicos: 47 x 49
Católicos (brancos): 53 x 44
Judeus: 29 x 64
Não Religiosos: 26 x 68
Total: 46 x 50
Alguns temas saltam aos olhos imediatamente:
1) Raça é um fator muito importante para Americanos, visto que Brancos tendem a preferir Romney em grandes maiorias (e, para todos os propósitos, Mórmons podem se considerar como um subgrupo predominantemente mono-racial nos EUA).
A disparidade de Negros em favor de Obama (e contra Romney) não é nenhuma surpresa, especialmente tendo em consideração o passado racial dos EUA e os temas racistas populares entre Republicanos na atualidade.
2) A questão da raça é marcadamente mais importante para Evangélicos, visto que a diferença cai dramaticamente entre Brancos em religiões mais tradicionais, como Católicos e Protestantes.
Até que ponto a questão racial é importante para Mórmons? Não há dados estatísticos para medir isso (fica a dica, Pew Forum!), mas a minha impressão pessoal e anedótica é que faz muita diferença (a maioria dos Mórmons a favor do Obama que eu conheço são multi-raciais não Brancos)!
3) O apoio Mórmon a favor do Romney é bastante assimétrico, menor apenas que entre Negros Protestantes, e não é em nada surpreendente, tendo em vista o status de minoria em ambos os estes subgrupos.
A questão ficaria, então, em como avaliar desses dados se há qualquer impacto no quesito honestidade (ou falta dela). Para isso, comparemos as reações dos mesmos grupos durante a última campanha presidencial, quando o mesmo Barack Obama competia contra o Republicano John McCain, famoso até então por uma longa carreira política honesta e sincera (apelidado de “maverick” por falar o que pensa e ser fiel a suas crenças, e famoso pelas campanhas “straight talk express” — “falando franco”). Os dados de pesquisa de opinião abaixo são retiradas de aproximadamente o mesmo período no ciclo eleitoral que os dados acima, para melhor comparação:
Mórmons: 75 x 19
Protestantes: 45 x 44
Evangélicos (brancos): 68 x 24
Protestantes (brancos): 53 x 39
Protestantes (negros): 2 x 90
Católicos: 42 x 44
Católicos (brancos): 53 x 39
Judeus: 23 x 74
Não Religiosos: 24 x 67
Total: 40 x 48
O primeiro tema que salta aos olhos, comparando o ciclo eleitoral de 2008 com o ciclo eleitoral de 2012, é que em todos os subgrupos religiosos onde há predominância racial majoritária (i.e., Branco) o Romney cresceu em relação ao Barack Obama, enquanto este manteve mais ou menos a liderança entre subgrupos religiosos de minorias raciais (i.e., Negros, Hispânicos).
Naturalmente, como era de se esperar, o maior crescimento de Romney sobre McCain foi no segmento de Mórmons. Simpatizar com uma pessoa (candidato) do mesmo grupo tribal (religião) e racial é um instinto neurológico, perfeitamente natural e esperado, e não é nenhuma surpresa que Romney tenha maiores ganhos entre Mórmons sobre McCain por conseguir identificar-se com este subgrupo em dois quesitos (três, contando com o ideológico).
Apesar de haver as ressalvas contextuais óbvias (Obama em 2008 ser largamente desconhecido mas o primeiro Negro com chances presidenciais num país de passado racial conturbado; McCain em 2008 ser associado com o desastre da administração Republicana prévia; Obama em 2012 ainda sofrer com as consequências legadas do desastre da administração Republican prévia — e da curta memória e curtíssima atenção do eleitorado Americano; Eleitorado Americano largamente ignorante e notoriamente manipulável face a estímulos raciais, especialmente no Sul e no interior, etc.), as relações ideológicas mantiveram-se estáveis entre 2008 e 2012, e isso se reflete nas estatísticas entre Obama e McCain, e Romney e Obama.
Não obstante, esse é precisamente o ponto principal do argumento acima. Ao que tudo indica, para Mórmons ideologia é mais importante que honestidade. Não fosse assim, as taxas de aprovação de Mitt Romney (mentiroso) cairiam em relação aos de John McCain (honesto). Claro que o mesmo argumento pode se extender aos demais subgrupos analisados acima (e.g., Evangélicos, Protestantes Brancos, Católicos Brancos, e Republicanos), e eu acredito que é um tema que deva ser abordado, mas o nosso foco aqui é Mormonismo, e portanto estamos analisando puramente as reações e as tendências entre Mórmons, e não os demais subgrupos.
O que os dados deixam evidente é que Mórmons não aparentam nem mais, nem menos preocupados com honestidade política que a população em geral. Para um grupo que se considera pertencer à “única Igreja verdadeira”, possuir o “único Evangelho vivo”, participar de uma instituição eclesiástica “perfeita”, e de exigir “dignidade” de seus membros, ele não se mostra estatisticamente diferente ética e moralmente dos demais grupos ao seu redor (A anedota da Igreja tentar apoiar a candidatura de Mitt Romney — mencionada brevemente acima — por subterfúgios apenas piora o caso contra esta “diferenciação”).
A discussão do artigo acima serve justamente para conjecturar os motivos culturais que levam à falha cultural em se distinguir dos vizinhos a despeito de uma meta moral elevada. E não nos enganemos aqui, Mórmons tem uma meta moral e ética elevada e louvável.
Eu deveria ter elaborado um pouco mais na metodologia da minha abordagem do tema, mas creio que esse apêndice deva corrigir esta falha e preencher esta lacuna.
Notas
[1]
[2]
[3] Milhares não é um exagero hiperbólico. O cientista político Steve Benen documentou e desmentiu 917 tais mentiras apenas no ano de 2012 (link #2 acima) e eu postei links para algumas dezenas mais (link #1 acima).
[4]
[5]
[6]
[6b]
[6c]
[7] 16 Fev. 1887, Charles W. Penrose para John Taylor em Cartas Arquivadas de John Taylor, Biblioteca da Universidade de Utah; citado em Hardy, BC Solemn Covenant: The Mormon Polygamous Passage, 1992 University of Illinois Press.
[8] 27 Set. 1886, Revelação ao Presidente John Taylor em Centerville, Utah em Unpublished Revelations of the Prophets and Presidents of The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints vol.1, pg. 145, seção 88.
[9] D&C 101:4 (1835)
[10] Compton, Todd. In Sacred Loneliness: The Plural Wives of Joseph Smith, Signature Books, 1997, pp. 25-42.
[11] Van Wagoner, Richard. Mormon Polygamy: A History, Signature Books, 1989, pp. 29-40, 50-71.
[12] History of the Church vol. 6, p. 411
[13] Brook, Juanita. The Mountain Meadows Massacre, University of Oklahoma Press, 1950, pp. 211-223.
[14] Bagley, Will. Blood of the Prophets: Brigham Young and the Massacre at Mountain Meadows, University of Oklahoma Press, 2002, pp. 365-385.
[15] Walker, R., Turley, R., Leonard, G.. Massacre at Mountain Meadows,Oxford University Press, 2008, pp. 129-148, 227-231, 255-264.
[16] Van Wagoner, Richard. Op. cit., pp. 133-163.
[17] Paulos, Michael H. The Mormon Church on Trial: Transcripts of the Reed Smoot Hearings, Signature Books, 2008, pp. 19-142.
[18]
[19]
[20]
[21]
[22]
[23]
[24]
[25] Talvez seja importante deixar claro que, sim, é óbvio que nem todo Mórmon apoia ou aceita Mitt Romney como candidato ou como representante correligionário. Afinal, 13% não são 0%! Não obstante, a assimetria em favor do apoio é enorme e inegável. Também gostaria de expressar a minha esperança, e a minha confiança nas análises estatísticas, de que Mitt Romney perderá a eleição hoje. Nada poderia ser melhor para os EUA, para o mundo, e para a Igreja — que poderá passar mais alguns anos buscando um candidato que a represente com honestidade, integridade, e ética!
“Se aceitarmos as revelações referentes às ordenanças do Templo, se assumirmos nossos convênios sem reservas ou desculpas, o Senhor nos protegerá. Recebemos inspiração suficiente para enfrentar os desafios da vida.” (Pres. Boyd K. Packer, Dos Doze – Folheto O Templo Sagrado pg. 39)
Designado novamente com a privilegiada oportunidade de ministrar um dos cursos opcionais, que no meu entender, trata-se de um dos mais extraordinários da Escola Dominical, senti-me satisfatoriamente renovado e fortalecido, verdadeiramente “Investido de Poder do Alto“, título este muito apropriado ao tema e objetivo do portentoso curso.
Ao procurar aprender sobre o poder dos Templos e a real influência deles em nossa vida diária, pretendo, neste ensaio, esboçar especificamente sobre a doutrina do trabalho vicário, a intrinseca pesquisa genealógica e as muitas bençãos advindas àqueles que literalmente “vestem a camisa” do trabalho e buscam salvar almas além da sua própria.
Como introdução, difícil não citar a inspirada e edificante definição do Pres. Packer:
“Nenhum trabalho dá mais proteção para a Igreja do que as ordenanças do Templo e a pesquisa genealógica que as sustem. Nenhum trabalho é tão purificador. Nenhum trabalho nos confere mais poder. Nenhum trabalho exige um padrão de retidão mais elevado.” (Boyd K. Packer, A Liahona JUN/92)
Vejamos então, o que podemos abordar a respeito…
A OBRA VICÁRIA E A OBRA MISSIONÁRIA
Inspirados pela convocação Cristã de “pregar as boas novas de alegria” a todos e em toda parte, um grande exército de missionários, que se renova de tempos em tempos, se dedicam numa boa causa ao se esforçarem por “lançar a foice com vigor” (D&C 4) na busca dos “escolhidos do Senhor” que “só [estão afastados] da verdade por não saber onde encontrá-la” (D&C 123:12).
Nos maravilhamos ainda mais ao pensar que o mesmo Cristo também organizou uma obra missionária (de complexidade, intensidade e número de obreiros bem maior que aqui na mortalidade) no “outro lado do véu”, pois “antes da crucificação do Senhor existia um grande abismo separando os mortos justos daqueles que não tinham recebido o evangelho, e ninguém pôde passar por esse abismo (Lucas 16:26). Cristo construiu uma ponte sobre tal abismo e possibilitou a ida da mensagem de salvação a todos os cantos do reino da escuridão. Dessa forma foram invadidos os limites do inferno e os mortos foram preparados para as ordenanças do evangelho que devem ser efetuadas na Terra, já que pertencem à provação mortal.” (Pres. Joseph Fielding Smith – O Caminho da Perfeição, pg. 109)
Portanto, é uma verdade que após Sua morte, Cristo visitou os justos no paraíso e organizou entre eles mensageiros para pregar o evangelho aos que estavam na prisão, abrindo as portas de salvação para eles (I Pedro 3:19 e D&C 138:29-30). Tudo isso foi e é feito a fim de que todos tenham um julgamento justo e não argumentem não terem tido a oportunidade de ouvir e/ou compreender o evangelho. (I Pedro 4:6)
“É necessário que todos tenham a oportunidade de receber ou rejeitar a verdade eterna, pra que possam preparar-se para ser salvos ou condenados.” (Pres. Brigham Young, Discursos de Brigham Young pg. 319)
Os élderes fiéis desta dispensação, ao atravessarem o véu, continuam o trabalho de pregar o evangelho no Mundo Espiritual (D&C 138:33-34,57); portanto, “Estamos pregando o evangelho de salvação a eles – os falecidos – através daqueles que viveram nesta dispensação.” (Pres. Brigham Young, Discursos de Brigham Young pg. 398)
Os justos desta dispensação, tanto homens quanto mulheres, estão em plena atividade missionária no mundo espiritual: “Agora, entre todos os milhões de espíritos que viveram na terra e que morreram, de geração em geração, desde o começo do mundo, sem o conhecimento do evangelho, mais ou menos a metade é composta de mulheres. Quem vai pregar o evangelho às mulheres? Quem vai levar o testemunho de Jesus Cristo aos corações das mulheres que morreram sem um conhecimento do evangelho? Para mim, isso é simples. Essas boas irmãs que foram designadas, ordenadas ao trabalho, chamadas, autorizadas pelo santo sacerdócio para administrar ao seu sexo, na Casa de Deus aos vivos e aos mortos, estarão autorizadas completamente e com poder de pregar e ministrar às mulheres, enquanto os élderes e profetas estarão pregando aos homens…” (Pres. Joseph F. Smith, Discurso proferido no funeral de Mary A. Freeze – Doutrina do Evangelho pg. 421)
“Assim, embora existam duas esferas no mesmo Mundo Espiritual, há atualmente uma espécie de intercâmbio entre os justos e os iníquos que nelas habitam; e quando os espíritos ímpios se arrependem, abandonam sua prisão-inferno e vão conviver com os justos do paraíso.” (Elder Bruce R. McConkie, Dos Doze - Mormon Doctrine pg. 762)
O princípio sobre a pregação do evangelho no Mundo Espiritual assim se resume: “Aqueles que não tiverem a oportunidade de OUVÍ-LO ou COMPREENDÊ-LO durante a existência mortal, terão esse privilégio no mundo por vir. O julgamento será executado segundo o conhecimento e a aquiescência.” (Pres. Spencer W. Kimball – O Milagre do Perdão pg. 23)
Como não lemos o que há no íntimo dos corações das pessoas “[olhando] o que está diante dos olhos” (I Samuel 16:7), difícil apontar ou mesmo afirmar até que ponto a pessoa compreendeu o evangelho; não cabe a nós avaliar ou julgar.
As ordenanças só podem ser realizadas na Terra por meio de procuração, ou seja, vicariamente. Daí, “os espíritos justos, que foram convertidos ao evangelho quando se achavam na prisão espiritual, ainda ali são conservados até que a obra vicária seja realizada em seu benefício.” (Pres. Joseph Fielding Smith, Doutrinas de Salvação Vol. 2 pg. 229)
“Todas as nações e raças tem igual direito às misericórdias de Deus. Como existe apenas um Plano de Salvação, deve haver por certo algum meio para que os inúmeros mortos o ouçam e tenham o privilégio de aceitá-lo ou rejeitá-lo. Esse meio é o princípio da Salvação pelos mortos. (…) Na época dos apóstolos existia a prática do batismo pelos mortos (I Coríntios 15:29), isto é, pessoas eram imersas na água em nome de outras já falecidas – não pessoas ‘mortas para o pecado’, mas que simplesmente tinham ‘passado para o outro lado’.(…) Todo esse ‘trabalho pelos mortos’ é realizado nos Templos, dedicados e designados para tais propósitos(…).” (Pres. David O. Mckay – Presidentes da Igreja, David O. Mckay pg. 140-141)
TODOS precisamos das ordenanças salvadoras do evangelho para receber a Vida Eterna num futuro não distante, ou seja, para desfrutar da plenitude da felicidade no Reino Celeste concedida aos fiéis seguidores de Cristo, devemos também receber as “credenciais”, isto é, as ordenanças, bem como guardar os convênios a elas relacionados. (João 3:5 e 2 Néfi 31:4-7) O Pres. Boyd K. Packer assim explicou: “As ordenanças e os convênios são nossas credenciais para a admissão em Sua presença. Ser dignos de recebê-los é a busca de toda uma vida; mantê-los daí em diante é o desafio da mortalidade”. (A Liahona, julho de 1987, p. 21) “O Salvador deixou bem claro que o batismo pela água e pelo Espírito é essencial para todos e que sem ele ninguém pode entrar no reino de Deus. Não há exceções. E o que acontecerá com os que viveram na Terra ao longo das gerações sem receber essa ordenança? Como essa doutrina é gloriosa! Que revelação maravilhosa é a que nos ensina que temos a oportunidade de ir à casa do Senhor para sermos batizados pelas pessoas que não receberam essa ordenança de salvação em vida”. (Pres. Gordon B. Hinkley-Atlanta, Geórgia, Conferência Regional, 17 de Maio de 1998)
O evangelho também é pregado àqueles que ‘noutro tempo foram rebeldes’ (I Pedro 3:20). Alguns podem perguntar: ‘Porque vocês realizam batismos por pessoas cuja vida na Terra indicou pouco inclinação para guardar os mandamentos de Deus?’ O Elder Spencer J. Condie, Dos Setentas, respondeu: “Cremos que muitas pessoas são como Amuleque, que disse certa vez a seu próprio respeito: ‘Endureci o coração, pois fui chamado muitas vezes e não quis ouvir; portanto eu sabia a respeito [do evangelho de Jesus Cristo], embora não quiseste saber.’ (Alma 10:6) Amuleque tornou-se mais tarde um grande missionário e mestre de seu povo. Houve também uma época, no Livro de Mórmon, em que os lamanitas mais dignos procuraram os ladrões de Gadiânton extremamente endurecidos ‘e pregaram a palavra de Deus aos mais iníquos dentre eles, de modo que esse bando de ladrões ficou inteiramente destruído entre os lamanitas’ (Helamã 6:37). Simplesmente, não sabemos quem, ente os mortos, voltará seu coração para o Senhor e se arrependerá. Não estamos em posição de julgar. Precisamos fazer o trabalho e deixar o assunto nas mãos da pessoa falecida e do Senhor.” (A Lihona JUL/2003 pg.30)
O fato de realizarmos as ordenanças vicariamente nos Templos por nossos antepassados não significa que a pessoa tenha aceitado o que foi feito por ela ou que ela foi forçada a aceitar, eliminando assim o arbítrio da mesma. “Cremos que todos são livres para escolher tanto nesta vida como no Mundo Espiritual. Essa liberdade é essencial para o Plano de nosso Pai Celestial. Ninguém será coagido a aceitar as ordenanças realizadas em seu benefício por outra pessoa. O batismo pelos mortos oferece uma oportunidade, mas não neutraliza o arbítrio da pessoa. Mas, se essa ordenança não for realizada por elas, será roubada das pessoas mortas a escolha de aceitar ou rejeitar o batismo.” (Elder Spencer J. Condie, Dos Setentas – A Lihona JUL/2003 pg.30)
SALVADORES NO MONTE SIÃO
“O Senhor manifestou-nos esse dever e privilégio, e manda que nos batizemos em lugar e a favor de nossos mortos, dando desse modo cumprimento às palavras de Obadias, que, ao referir-se à glória dos últimos dias, disse: “E levantar-se-ão salvadores no monte Sião’”. [Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, pag. 217–218.]
O Pres. Brigham Young começou bem o tema: ”Nosso pai Celestial, Jesus, nosso Irmão mais velho e Salvador do mundo, e a totalidade dos céus, estão convocando este povo a que se prepare para salvar as nações da terra, e também os milhões de nossos ancestrais que dormiram sem receber o evangelho.” (Discursos de Brigham Young pg. 319)
Temos o dever de buscar salvar nossos antepassados e de fazer por eles o que não podem fazer por si mesmos. É importante “que todos os membros da Igreja sejam dignos de ter uma recomendação para o Templo, recebam a própria investidura e os selamentos, identifiquem seus antepassados e realizem as ordenanças do Templo por aqueles que esperam além do Véu. Essas responsabilidades aplicam-se a todos os membros da Igreja.” (A Primeira Presidência – Church News 08/07/1995)
O Élder Henry B. Eyring, deixa a seguinte exortação aos membros da Igreja: ”Quando foram batizados, seus antepassados colocaram suas esperanças em vocês. Talvez, depois de séculos, tenham-se alegrado por ver um de seus descendentes fazer o convênio de encontrá-los e oferecer-lhes a liberdade. Quando voltarem a se encontrar, verão a gratidão ou a terrível decepção nos olhos deles. O coração deles está ligado a vocês. Vocês têm as esperanças deles nas mãos.” (Conferência Geral ABR/2005)
Desta maneira “tornamo-nos literalmente Salvadores no Monte Sião (Obadias 1:21). O que isso significa? Assim como o Redentor deu Sua vida em sacrifício vicário por todos os homens e, ao fazê-lo, tornou-se nosso salvador, nós também, numa ínfima proporção, quando nos envolvemos com o Trabalho Vicário no Templo, nos tornamos salvadores para os que estão do outro lado e não têm meios de progredir, a não ser que algo seja feito, em seu benefício, pelos que estão na Terra.” (Pres. Gordon B. Hinckley, Conf. Geral NOV/2004)
O Profeta assim conclui: “Mas como se tornarão salvadores em Monte Sião? Edificando seus templos, erigindo suas pias batismais e indo receber todas as ordenanças, batismos, confirmações, abluções, unções, ordenações e poder de selamento em benefício de todos os seus progenitores mortos, a fim de redimi-los, para que possam levantar-se na primeira ressurreição e ser elevados com eles em tronos de glória, e nisso consiste o elo que unirá os corações dos Pais aos Filhos e dos Filhos aos Pais, e isso cumpre a missão de Elias.” (O Profeta Joseph Smith, Ensinamentos do Profeta Joseph Smith pg. 322)
“Desejamos que todos os membros da Igreja sejam dignos de ter uma recomendação para o Templo, recebam a própria investidura e os selamentos,identifiquem seus antepassados e realizem as ordenanças do Templo por aqueles que esperam além do Véu. Essas responsabilidades aplicam-se a todos os membros da Igreja.” (A Primeira Presidência – Church News 08/07/1995)
“Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do SENHOR; E ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição.” (Malaquias 4:5-6) “A palavra Converter que se lê aqui deveria ser traduzida por Ligar ou Selar.” (O Profeta Joseph Smith, Ensinamentos do Profeta Joseph Smith pg. 321-322)
O ESPÍRITO DE ELIAS
Na citação do profeta acima, é mencionado o “espírito de Elias”, onde com certeza, merece algumas observações, no intuito de ajudar-nos a ter uma melhor compreensão do tema.
O Profeta Joseph Smith declarou: “A maior responsabilidade do mundo que Deus colocou sobre nós é a de buscar nossos mortos. (…) Porque é necessário que o poder selador esteja em nossas mãos para selar nossos filhos e nossos mortos para a plenitude da dispensação dos tempos — uma dispensação para cumprir as promessas feitas por Jesus Cristo antes da fundação do mundo para a salvação do homem. (…) Foi por isso que Deus disse: ‘Eis que eu vos enviarei o profeta Elias’” (Ensinamentos: Joseph Smith, pp. 500–501).
Joseph explicou ainda:
“Mas qual é o objetivo [da vinda de Elias]? Ou como ela deve ser cumprida? As chaves devem ser entregues, o espírito de Elias, o profeta, deve vir, o Evangelho deve ser estabelecido, os santos de Deus devem ser reunidos, Sião deve ser edificada e os santos devem tornar-se salvadores no Monte Sião [ver Obadias 1:21]. Como eles se tornarão salvadores no Monte Sião? Construindo seus templos (…) e recebendo todas as ordenanças (…) em favor de todos os seus antepassados falecidos (…); e essa é a corrente que une o coração dos pais aos filhos e dos filhos aos pais e cumpre a missão de Elias, o profeta” (Ensinamentos: Joseph Smith, pp. 498–499).
O Élder Russell M. Nelson ensinou que o Espírito de Elias “é uma manifestação do Espírito Santo que presta testemunho da natureza divina da família.” (“A New Harvest Time”, Ensign MAI/1998 pag. 34)
“Essa influência característica do Espírito Santo leva as pessoas a identificar, documentar e valorizar seus antepassados e familiares — tanto passados quanto presentes. O Espírito de Elias influencia as pessoas, dentro e fora da Igreja. Contudo, como membros da Igreja restaurada de Cristo, temos a responsabilidade por convênio de buscar nossos antepassados e de prover-lhes as ordenanças de salvação do evangelho. “Para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados” (Hebreus 11:40; Ensinamentos: Joseph Smith, pag. 500). E “nem podemos nós, sem nossos mortos, ser aperfeiçoados” (D&C 128:15). Por esse motivo pesquisamos a história da família, construímos templos e fazemos ordenanças vicárias. Por esse motivo Elias foi enviado para restaurar a autoridade de selamento que liga na Terra e no céu. Somos os agentes do Senhor no trabalho de salvação e exaltação que impedirá “que a Terra toda (…) seja ferida com uma maldição” (D&C 110:15) quando Ele voltar. Esse é nosso dever e nossa grande bênção.” (Elder David A. Bednar – Conf. Geral OUT/2011)
Conforme o Senhor ensinou e prometeu por intermédio dos profetas Malaquias e Morôni, o Profeta Elias voltou a Terra e restaurou este poder selador de unir Pais aos Filhos e Filhos aos Pais. (03/ABR/1836 no Templo de Kirtland, Ohio – D&C 110:13-16)
“Aprendemos por revelação moderna que Elias possuía o poder selador do Sacerdócio de Melquisedeque e foi o último profeta a fazê-lo antes da época de Jesus Cristo” (Dicionário Bíblico [em inglês], “Elijah”).
Esta magnífica mensagem tem tanta importância, que foi repetida em todas as Obras-Padrão ou Canon da Igreja de Cristo:
A Bíblia Sagrada ► Malaquias 4:5-6
O Livro de Mórmon ► 3 Néfi 25:5-6
Doutrina e Convênios ► Doutrina e Convênios 2:1-3
A Pérola de Grande Valor ► Joseph Smith História 1:38-39
O Pres. Gordon B. Hinckley, comentando sobre a Seção 2 de Doutrina e Convênios datada dia 24/SET/1823, expressou: “Para mim é extremamente significativo que essas palavras de Malaquias a respeito do trabalho realizado pelos mortos tenham sido repetidas ao jovem Joseph 4 anos antes de ser- lhe permitido retirar as placas da colina. Elas foram repetidas antes que ele tivesse recebido o Sacerdócio Aarônico ou o de Melquisedeque, antes que fosse batizado e muito antes que a Igreja fosse organizada. O que deixa bem claro a prioridade que esse trabalho tem no plano do Senhor.”
“O conhecimento desta grande verdade fez com que ‘o coração dos filhos’ voltasse a ‘seus pais’, e os filhos de Deus procurassem sua genealogia para que fossem batizados em favor dos parentes mortos. E foi com esse intento que o Senhor enviou Elias, o profeta, de volta à Terra como foi prometido por Malaquias, e como foi anunciado por Morôni a Joseph Smith.” (…) “Milhares e dezenas de milhares de registros genealógicos têm sido compilados. O espírito de converter o coração dos filhos a seus pais varreu toda a Terra depois que Elias veio efetuar sua prometida missão. Conquanto esse espírito não possa ser visto, sua influência tocou o coração dos homens e das mulheres em todo o mundo. Embora eles não saibam por que estão compilando registros genealógicos, essa obra progride rapidamente – na verdade é uma obra maravilhosa e um assombro em si mesma.” (Elder Le Grand Richards, Dos Doze – Uma Obra Maravilhosa e Um Assombro pg. 161 e 179)
O Pres. Boyd K. Packer, falando sobre o espírito de Elias, comentou: “Quando um membro da Igreja fica sob sua influência, uma força poderosa o impele à obra genealógica e às ordenanças do Templo. Essa força o deixa ansioso quanto ao bem-estar de seus antepassados. Quando temos este espírito, desejamos de algum modo descobrir mais coisas a respeito desses antepassados – queremos conhecê-los.” (Folheto O Templo Sagrado pg. 38)
Fica claro nossa imensa responsabilidade quanto ao assunto, bem como necessidade, pois faz parte de nossa jornada visando a exaltação, ou seja, ao buscar salvar o próximo estamos contribuindo com nossa própria salvação exaltação. ”A grande obra de prover as ordenanças salvadoras para nossos predecessores é uma parte vital da missão tríplice da Igreja. Temos um propósito ao realizarmos este trabalho, que é redimir os nossos antepassados. O trabalho do templo é essencial para nós e para nossos parentes falecidos que estão esperando que essas ordenanças salvadoras sejam realizadas por eles. É essencial por que nós, sem eles, não podemos ser aperfeiçoados; nem podem eles, sem nós, ser aperfeiçoados.(D&C 128:18) Eles precisam das ordenanças salvadoras e nós precisamos ser selados a eles. Por essa razão é importante que tracemos nossa linhagem familiar para que ninguém seja esquecido.” (Pres. James E. Faust, A Liahona NOV/2003)
“É URGENTE a realização dessa obra, e incentivamos os membros a que aceitem a responsabilidade, (…) prosseguindo na pesquisa familiar, a fim de redimir seus ancestrais falecidos.” (Pres. Spencer W. Kimball, A Lihona OUT/1980)
O Presidente Spencer W. kimball declarou: “Alguns de nós já tivemos oportunidade de esperar alguém, ou alguma coisa por um minuto, uma hora, um dia, uma semana, ou mesmo um ano. Podem você imaginar como se sentem nossos ancestrais, os quais esperam, alguns por décadas e séculos, para que a obra do Templo seja feita?” (A Lihona MAI/1977)
Somos responsáveis por realizar uma obra grandiosa, nossos antepassados convertidos aguardam ansiosa e desesperadamente que as ordenanças sejam por eles realizadas, ao mesmo tempo em que o ‘Inimigo de toda Retidão’ apressa-se em nos desencorajar e nos desviar do caminho. “O que supõem que nossos antepassados diriam se pudessem falar dentre os mortos? Não diriam: ‘Estamos aqui a milhares de anos, nesta prisão, esperando a chegada desta dispensação’? (…) O que sussurrariam em nossos ouvidos? Ora, se tivessem o poder para isso, fariam soar os próprios trovões do céu em nossos ouvidos, para que pudéssemos ter uma idéia da importância do trabalho que estamos realizando. Todos os anjos do céu estão observando este pequeno grupo de pessoas, incentivando-as a trabalhar pela salvação da família humana. Também os diabos no inferno fazem o mesmo, tentando derrubar-nos; e as pessoas ainda dão as mãos para os servos do diabo, em vez de santificarem-se, clamarem ao Senhor e realizem o trabalho que Ele nos ordenou e comissionou a fazer.” (Pres. Brigham Young – Presidentes da Igreja, Brigham Young pg. 309)
COMO COOPERAR NESTE GRANDE E NOBRE TRABALHO?
“As pessoas não serão capazes de olhar para a posteridade, se não tiverem em consideração a experiência dos seus antepassados.” (Edmund Burke – Político Inglês)
1º) Fazendo a História da Família e a Genealogia: A palavra GENEALOGIA vem das palavras gregas: ‘GENEA’ = Geração e ‘LOGIA’= Discurso. A genealogia é, dentre os ramos do saber, o que se refere às famílias, estudando-lhes as origens, mostrando a sua evolução, descrevendo as gerações e traçando, embora resumidamente, a biografia das pessoas que as compõem. Antigamente tinha a genealogia não somente a finalidade de registrar as gerações, mas igualmente a de servir às habilitações de “genere” dos que pretendiam entrar nas ordens religiosas e militares, na magistratura, nos cargos do Tribunal do Santo Oficio, e em quaisquer posições para as quais se exigisse a chamada “limpeza de sangue”. Hoje, destina-se a reconstituir o passado de cada grupo familiar, retomar laços de parentesco e, sobretudo, revelar o processo de formação social de uma região. Por isso se costuma dizer que a genealogia deixou de ser uma ciência auxiliar da História para tornar-se uma parte dessa própria História, tantos e tais os elementos informativos com que trabalha. Os trabalhos genealógicos feitos com o rigor e método exigidos modernamente são complexos, por que utilizam elementos de variada natureza. Mas você pode fazê-los.
A descendência de um indivíduo é constituída por todos os seus filhos, netos, bisnetos etc. No sentido oposto existe a ascendência, ou seja, todos os ancestrais de uma determinada pessoa: pais, avós, bisavós etc. A genealogia é uma ciência de raiz histórica, que estuda a evolução e disseminação das famílias e respectivos apelidos. É também conhecida como “Ciência da História da Família” pois tem como objetivo desvendar as origens das pessoas e famílias por intermédio do levantamento sistemático de seus antepassados, locais onde nasceram e viveram e seus relacionamentos interfamiliares. Tal levantamento pode ser estendido aos descendentes de uma determinada figura histórica o que também se engloba no âmbito do estudo dessa ciência.
“Nós todos, inclusive os expostos, temos todos as nossas árvores genealógicas do mesmo tamanho. Lá no tamanho das árvores somos todos iguais. Mas é precisamente nas árvores que está a nossa diferença. Vê-se perfeitamente que a cada um aconteceu qualquer coisa que não se passou com mais ninguém. E aconteceu-nos ainda antes de nós termos nascido. É a árvore genealógica. Esse segredo do nosso segredo. Esse mistério do nosso mistério. Nós somos hoje o último fruto dessa árvore secular, secularmente secular!” (Almada Negreiros)
“Fazer uma árvore genealógica é uma tarefa tão complicada quanto apaixonante e, diria até, viciante. Isto acontece por várias razões: somente no século XIX o registro de sobrenome tornou-se prática na Europa; no Brasil, somente a partir de 1916, com a introdução do Código Civil, foram estabelecidas regras para transmissão dos sobrenomes. Na Europa da Idade média não se costumava utilizar um mesmo nome para identificar linhagens familiares. A identificação individual era dada por fatos relevantes da vida de uma pessoa, local de nascimento ou moradia, características ligadas à sua profissão ou mesmo características físicas. São exemplos os seguintes nomes: Machado, Sartre, Monteiro, Schumacher, Fischer, Galicia, Viñas, De Lucca. Quando da mudança da família de um país para outro, costumavam ocorrer muitos problemas de transliteração, que é a reprodução de um nome da língua original para outra língua. Alguns são exemplos são Vetter para Fetter e Avasto para Abasto. Esse fenômeno ocorreu de forma intensa com os italianos e alemães que aportaram no Brasil, no século XIX. Muitos imigrantes adotaram sobrenomes portugueses ou de seres da natureza para evitar problemas com a pronuncia ou grafia, preconceito e perseguições de natureza política ou religiosa. São exemplos algumas linhagens de Pinheiro, Cordeiro, Coelho, Figueira. Por tudo isso a idéia de fazer genealogia pode inibir muita gente. Mas somente até que comece a pesquisa, pois após puxar o “fio da meada”, a paixão se acende e não se consegue mais parar. Aquele fio pode ser uma foto antiga de família, um documento de casamento ou um brasão. Sim, o brasão pode ser um ponto de partida de grande importância para se começar um estudo genealógico, pois através deste símbolo familiar é possível descobrir datas, lugares, características familiares e títulos honoríficos, entre outros. Assim, afirma-se que a genealogia e a heráldica são ciências muito próximas. Um grande número de brasões encontram-se em livros heráldicos, acompanhados de um pequeno histórico. Outros tantos encontram-se desenhados ou apenas descritos em termos heráldicos. Os primeiros podem remeter de imediato o pretenso genealogista da família a lugares, nomes completos ou possessão de títulos que podem ser rastreados. Os demais, mesmo não sendo acompanhados por descrição histórico-genealógica, podem ser estudados para que esclareça fatos da vida de um ancestral. Há brasões que contam, pelos seus símbolos e cores, um feito histórico e até mesmo desagravo que tornou-se sobrenome de família (Machado, Lacerda). Outros contém datas ou lema dentro do corpo do brasão, indicam se o brasão é oriundo de casamento (quartelado), se é de mulher (losango) ou de homem, de filho primogênito, se participou de determinada batalha (exemplo, Navas de Tolosa, em 1212), se o seu portador era ligado à igreja (esmalte púrpura), ou ao reino da frança (flor-de-lis), e outros.” (Heraldista Sandra Wienke Tavares)
COMO FAZER?
“Cada um tem que iniciar esse trabalho por algum lugar e ele pode ser realizado tanto por pessoas mais velhas quanto por jovens.(…) Isso pode ser mais fascinante do que qualquer filme que venham a assistir ou qualquer jogo de computador. Vocês precisarão descobrir quem eram seus avós e bisavós e que tipo de ordenanças foram realizadas por eles. Caso não saibam como obter essas informações, perguntem às pessoas em sua ala que saibam como obtê-las.” (Pres. James E. Faust, A Lihona NOV/2003)
É preciso “identificar” o máximo possível a pessoa pelo qual se faráordenança nos Templos santos por procuração. Será necessário dados diversos Nomes, datas de eventos [Nascimentos, Casamentos e Óbitos] e as localidades dos mesmos [Cidade, Estado e País]).
Isto com certeza exigirá uma paulatina pesquisa, e com paciência e dedicação, conseguir todos os dados que forem possíveis, o que gerará indubitávelmente um sentimento de dever cumprido e “uma paz que excede todo o entendimento”. ”Para começar, vocês não precisam de equipamento. Comecem com um gráfico de linhagem e um registro familiar. Escrevam o nome de quem conhecem. Acrescentem as informações que conseguirem com os parentes vivos. Esse início simples, em casa, irá prepará-los para receber mais ajuda. Depois que tiverem sido batizados em favor de um antepassado falecido, terão um sentimento que confirmará a veracidade dessa obra divina e lhes dará muita alegria.” (Elder Russell M. Nelson, A Liahona JUL/1998)
Precisamos ter o máximo de informação possível, o que miniminiza a possibilidade de ordenanças em duplicidade, no entanto, embora este quesito “burocrático” seja assim tão importante, não deve ser um empecilho tão rigoroso pra que não seja providenciada a ordenança a alguém, ou seja, algumas datas podem ser “aproximadas” (Ex: Considerando que o homem case aos 21 anos e a mulher aos 18 anos, é possível chegar a data aproximada do nascimento de ambos, ou pelo nascimento, chegar a data aproximada do casamento; também pode se considerar que o 1º filho do casal tenha nascido no ano seguinte ao do casamento, e os demais filho de dois em dois anos; ou que o casamento tenha acontecido um ano antes do nascimento do 1º filho), quanto aos lugares dos eventos, pode se considerar o estado ou país dos evento da vida do procurado, e não necessariamente a cidade. Ressalva-se que o quanto antes se obter dados mais exatos, estes devem ser atualizados o mais breve possível.
Com empenho e no devido tempo, encontraremos muitos de nossos familiares, e caso não desanimarmos nesta árdua e honrada empreitada, contaremos com “auxílio extra”. “A coisa mais importante que precisa é o desejo de providenciar as ordenanças salvadoras do evangelho para aqueles que estão no Mundo Espiritual, esperando para recebê-las. Não se esqueça da vigorosa influência que o Espírito pode ter na identificação de seus antepassados. Ao exercer fé, nomes e informações que pareciam impossíveis de encontrar podem ser conseguidos de modos e em lugares inesperados.” (Guia de Ordenanças e Convênios do Templo e História da Família para os Membros pg. 4)
O Élder John A. Widtsoe disse: “Tenho a sensação (…) de que aqueles que doam de si com toda a força em prol desse trabalho recebem uma ajuda do mundo espiritual, e não apenas para fazer o trabalho genealógico. Quem busca ajudar aqueles que estão do outro lado recebe em troca uma ajuda em todos os aspectos da vida. (…) Recebemos ajuda do mundo espiritual quando damos assistência àqueles que passaram para além do véu.” (Genealogical Activity in Europe, pag. 104)
“(…) Você, que procura zelosamente, o caminho será aberto e poderá reunir os dados além de sua expectativa. Digo-lhes o que acontecerá. Quando tiver chegado o máximo que puder, os nomes dos justos que já faleceram e aceitaram o evangelho no Mundo Espiritual lhe serão revelados, por meio dos próprios mortos. Mas serão somente os nomes daqueles que aceitaram o evangelho.” (Elder Melvin J. Ballard, Dos Doze – Manual do Instituto de Doutrina e Convênios pg. 447)
“Se aqueles que querem encontrar seus antepassados trabalharem nos templos em favor das pessoas cujos nomes obtiveram, o Senhor abrirá o caminho para obterem mais nomes. (…) Testifico-lhes que se abrirá o caminho e encontraremos maneiras de realizar o trabalho que desejamos, e que as coisas que tornam nossos dias sombrios e tristes serão dissipadas diante de nós se formos à Casa do Senhor para lá realizar a obra sagrada”. (Élder John A. Widtsoe – The Utah Genealogical and Historical Magazine – JUL/1922 , pag. 135)
Daí, usando o NewFamilySearch, podemos organizar nosso gráfico de linhagem, e providenciarmos as ordenanças pra aqueles que ainda não as tiverem recebido, selando todos até onde for possível, na verdade, a meta de excelência é chegarmos até Adão! ”Queremos que os Santos dos Últimos Dias, doravante, tracem as suas genealogias até onde puderem alcançar, e sejam selados aos pais e Mães. Que os filhos sejam selados aos pais, traçando esta linhagem ancestral até onde for possível.” (Presidente Wilford Woodruff, The Law of Adoption pg. 543) “(…) os homens serão selados a seus pais, e àqueles que já dormiram até o patriarca Adão.” (Pres. Brigham Young, Discursos de Brigham Young pg. 401) Até que ”finalmente [seja] completada a união das gerações e a família do homem será selada.” (Pres. Boyd K. Packer, Dos Doze – Folheto O Templo Sagrado pg. 38)
CENTRO DE HISTÓRIA DA FAMÍLIA
Pra que aqueles que se debruçarem em uma apaixonante e mais profunda pesquisa familiar, os centros de história da família é uma excelente ferramenta.
Os Centros de História da Família são locais de pesquisa genealógica ligados à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida como Igreja Mórmon. Também conhecidos pela sigla CHF, estes mais de quatro mil centros estão espalhados por todo o mundo, sendo coordenados pela Sociedade Genealógica de Utah, cuja sede localiza-se na Cidade de Salt Lake, nos Estados Unidos da América. Fundada em 13 de novembro de 1894, a Sociedade Genealógica de Utah, através dos Centros de História da Família, disponibiliza um gigantesco banco de dados genealógico, sem dúvida o maior do mundo desta natureza.
“Os 4.164 centros espalhados no mundo são extensões da Biblioteca da História da Família, localizada próximo ao Templo de Salt Lake Utah, a maior biblioteca existente do gênero. Esses Centros de História da Família à distância oferecem acesso a quase todos os microfilmes e microfichas da biblioteca central.” (Patrícia Selman, A Lihona SET/2004)
São mais de dois milhões de microfilmes que reproduzem os seguintes registros:
Assentos de registro civil (registros de nascimento, casamento e óbito);
Assentos de registro paroquial (registros de batismo, casamento religioso e morte);
Censos de população;
Listas de passageiros de navios;
Listas de hospedarias de imigrantes;
Livros sobre temas da genealogia (livros de famílias ilustres, brasonários etc).
Os Centros de História da Família normalmente são geridos por voluntários e são abertos a todos os cidadãos, independentemente de sua religião.
Para encontrar o CHF mais próximo de sua residência CLIQUE AQUI
BENÇÃOS DE SE ENVOLVER NA OBRA VICÁRIA
O Presidente Wilford Woodruff ensinou que “temos de entrar nesses templos e resgatar nossos mortos, não só os mortos de nossa própria família, mas os mortos do mundo espiritual inteiro” (JD 21:192)
Durante o esboço acima, muitas escrituras e citações foram usadas que em si já citaram as muitas alegrias advindas àqueles que trabalham por aqueles que estão “além do véu”, por isto apenas acrescento ensinamentos que completam ainda mais o grande leque de desenvolvimento, crescimento e felicidade ao nos envolvermos nesta obra.O Presidente Gordon B. Hinckley nos ensinou: “As coisas que acontecem na Casa do Senhor (…) aproximam-se mais do espírito de sacrifício do Senhor, do que qualquer outra atividade que eu conheça. Por quê? Porque são realizadas por pessoas que doam seu tempo e seus meios livremente, sem nenhuma expectativa de reconhecimento ou recompensa, para fazer por outros, o que não podem fazer por si mesmos.” (Conf. Geral ABR/1983)“(…) ao servirmos nossos irmãos e irmãs [do outro lado do véu], entendemos e apreciamos melhor o significado da Expiação em nossa própria vida.” (Guia de Ordenanças e Convênios do Templo e História da Família para os Membros pg.4)”Quando as famílias se envolvem no trabalho (pelos mortos), os Pais e os filhos ganham um testemunho mais forte do Salvador e Seu Sacrifício Expiatório, desenvolvem um apreço mais profundo pelas ordenanças e convênios do Templo, e aprendem melhor a enfrentar os desafios da vida e a resistir às tentações.” (Manual de Instruções de Liderança do Templo e História da Família pg. 5)
“Recebemos muitas bençãos ao providenciarmos as ordenanças para as pessoas que vivem no Mundo Espiritual. Podemos nos tornar mais como o Salvador, colocá-Lo e Seus ensinamentos no centro de nossas vidas, e ganhar testemunhos mais fortes do Seu evangelho.” (Manual de Instruções de Liderança do Templo e História da Família pg. 3)
“Identificar nossos ancestrais e realizar as ordenanças por eles aumenta nossa fé em Jesus Cristo e aprofunda nossa compreensão de seu amor.” (Manual de Instruções de Liderança do Templo e História da Família pg. 1)
O Élder Boyd K. Packer explicou: “O trabalho genealógico tem o poder de fazer algo pelos mortos. Tem igualmente o poder de fazer algo pelos vivos. A obra genealógica dos membros da Igreja tem uma influência refinadora e espiritualizadora sobre aqueles que nela se engajam. Eles compreendem que estão unindo os laços de sua família, a família que vive aqui com aqueles que já se foram”. (The Holy Temple, pag. 239)
O Presidente Joseph Fielding Smith declarou que o trabalho em favor dos mortos é “um trabalho que engrandece a alma do homem, amplia sua visão quanto a bem-estar de seu próximo, e planta em seu coração, amor a todos os filhos de nosso Pai Celestial. Não existe trabalho igual ao realizado no Templo pelos mortos para ensinar o homem a amar seu próximo como a si mesmo.” (Church News, 24/OUT/1970)
“Com a crescente freqüência ao Templo de nosso Deus, recebereis acrescida revelação pessoal para abençoar vossa vida assim como abençoais aqueles que morreram.” (Pres. Ezra Taft Benson, A Lihona JUL/1987)
“Se aceitarmos as revelações referentes às ordenanças do Templo, se assumirmos nossos convênios sem reservas ou desculpas, o Senhor nos protegerá. Recebemos inspiração suficiente para enfrentar os desafios da vida.” (Pres. Boyd K. Packer, Dos Doze – Folheto O Templo Sagrado pg. 39)
“Às vezes, nossa mente está tão assediada por problemas, e tantas coisas requerendo nossa atenção ao mesmo tempo, que simplesmente não conseguimos pensar e ver com clareza. No Templo, a poeira da distração parece assentar, a neblina e a névoa parecem desaparecer, e podemos ‘ver’ as coisas que não conseguíamos ver antes, encontrando um caminho, em meio às nossas preocupações, que não conseguiríamos vislumbrar antes.” (Preparação para entrar no Templo Sagrado, pg. 36)
“Fazer o trabalho de história da família pode abençoar-nos e as nossas famílias, converter as pessoas ao evangelho, ativar os menos ativos, e colocar nos corações daqueles que ainda não receberam as bençãos do Templo o desejo de fazê-lo.” (Manual de Instruções de Liderança do Templo e História da Família pg. 1)
“Tenho certeza de que se nosso povo frequentasse o templo com mais assiduidade, haveria bem menos egoísmo em sua vida. Haveria menos ausência de amor em seu relacionamento. Haveria mais fidelidade entre marido e esposa. Haveria mais amor, paz e felicidade no lar de nosso povo. Cresceria na mente dos santos dos últimos dias a consciência de seu relacionamento com Deus, nosso Pai Eterno, e da necessidade de trabalharmos mais arduamente para vivermos como filhos e filhas de Deus.” (Pres. Gordon B. Hinckley – Ensign MAI/1984)
Que façamos da obra vicária, tanto quanto da obra missionária, um trabalho de amor pra enquanto procuramos abençoar as vidas daqueles que amamos e nos cercam, também acrescentemos uma centelha a mais de probabilidade de nós mesmos desfrutarmos a glória eterna tão almejada e difícil, mas possível.
AMÉM
*NOTAS INTERESSANTES Prevendo que talvez alguns tenham possíveis dúvidas escriturísticas a respeito de se fazer a genealogia, segue algumas notas explicativas:
Pergunta: “Uma crença interessante dos Santos dos Últimos Dias é a concernente aos seus mortos. Tito 3:9 Diz: ‘Mas não entres em questões loucas, genealogias e contendas, e nos debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs.’ O mesmo conselho foi dado a Timóteo, em 1 Timóteo 1:4, porém, essa crença no trabalho genealógico é uma parte importante da doutrina Mórmon. (Por quê?) Resposta: (Talvez tenha passado despercebido em) Mateus 1 ou Lucas 3:23 onde, em detalhe, a genealogia de Cristo é dada. Isso foi para provar que ELE ERA O MESSIAS. A genealogia era considerada como uma maneira vital de reconhecer o Messias prometido porque ele viria através da semente de Davi, e da casa de Judá. A Sociedade Bíblica de Cambridge deu uma resposta excelente a essas duas escrituras. Eles escreveram no seu Dicionário Bíblico: ‘I Timóteo 1:4 e Tito 3:9 referem-se a fábulas e genealogias intermináveis, e referem-se a histórias legendárias dos heróis e patriarcas da antiga história hebraica. Tais histórias eram muito populares entre os Judeus, mas estranhas ao evangelho, e possivelmente poderiam chamar a atenção para fora das doutrinas essenciais da fé Cristã.’ Em outras palavras, estas linhas de genealogia e heróis legendários estavam causando às nações judaicas e Gentias a se afastarem dos ensinamentos simples de Jesus Cristo por causa de grandes fábulas e mentiras que vinham delas. (…) A genealogia com propósitos tolos é vã, mas não o é aquela que tem seu alvo nos propósitos de Cristo e no Plano de Salvação.” (Livro: O Dia da Defesa)
Compreensão de Escritura (I Timóteo 1:4 e 4:7)
“Os judeus haviam escrupulosamente preservado as suas genealogias até o advento de Cristo… mas, segundo consta, Herodes mandou destruir os registros públicos, pois, sendo Idumeu, tinha inveja da origem nobre dos judeus. Para que ninguém pudesse recriminá-lo por sua descendência, ele ordenou que as tábuas genealógicas, que eram conservadas no Templo, fossem queimadas. Dessa época em diante, os judeus só podiam referir-se aos dados genealógicos que lembravam, ou que se achavam nas tábuas genealógicas preservadas nas mãos de particulares. Traçar qualquer linhagem normal através delas devia ser um processo interminável e incerto. Provavelmente é a isso que o Apóstolo se refere: ao trabalho inútil que a tentativa de levantar tais genealogias devia produzir, já que as tábuas originais haviam sido destruídas. O que podemos concluir pelas declarações de Paulo, é que sua acusação era contra as genealogias duvidosas e inverídicas que eram feitas com propósitos excusos.” (Pres. Joseph Fielding Smith, Answers to Gospel Questions, Vol. 2 pg. 214-215)
“Paulo também podia estar-se referindo à tendência tão comum entre os judeus, de jactarem-se de sua linhagem, e ao fato de julgarem que a sua descendência era prova de predileção divina (João 8:37-45), o que, segundo Paulo, é uma fábula. A predileção divina é baseada na retidão pessoal, não em nossos ancestrais.” (Manual do Instituto do Novo Testamento pg. 398)
O que é um profeta? O que torna alguém um profeta ou profetisa?
A seguinte citação de Parley P. Pratt, feita na sala celestial do templo de Nauvoo extrapola a ideia de um profeta ser um membro da hierarquia da Igreja de Cristo.
Um homem pode ser um profeta e vidente e não estar na igreja ou mesmo ser batizado; e o próprio Joseph era um profeta, vidente e revelador antes mesmo de ser batizado ou ter qualquer Sacerdócio.¹
Parley P. Pratt menciona Joseph Smith como um profeta antes de qualquer ordenação ou ordenança, sugerindo a possibilidade de existir à época em que falava outros profetas fora da Igreja sud.
O que você entende sobre essa afirmação de Pratt? Será que ele tinha em mente a afirmação em Apocalipse 19:10: “o testemunho de Jesus é o espírito de profecia”?
¹Seventies Record Book B, 25 de janeiro de 1846. Citado por Devery S. Anderson (editor). The Nauvoo endowment companies, p. 491.
Nesta semana (dia 27) comemoramos o aniversário de 45 anos de quando o Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque devolveu para A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias os papiros originais usados por Joseph Smith, jr., para produzir o Livro de Abraão.
Esse evento foi comemorado com grande antecipação e efusivos sentimentos de antecipação, esperança, e até uma sensação de validação. Por mais de um século, estes antigos documentos haviam sido dados como perdidos, e subitamente em 1967 não apenas haviam sido re-encontrados, mas haviam sido retornados à Igreja!
Contudo, tão logo passou a euforia e o regozijo inicial, recaiu sobre a Igreja o que apenas pode ser descrito como “desconforto” sobre o documento, levando a quase silêncio da instituição oficial, e a décadas de esforços intensos (e inúteis) de dúzias de apologistas.
Como houve bastante interesse em comentários passados, em outros posts, sobre discutir a importância desse achado arqueológico, eu acho que essa data importante é a perfeita oportunidade (desculpa) para abrirmos espaço para essa discussão. Segue abaixo apenas uma breve introdução ao tema.
Entre 1798 e 1801, o Primeiro Cônsul Francês Napoleão Bonaparte embarcou na Campanha do Mediterrâneo para estabelecer controle de interesses franceses em rotas de comércio. Durante essa campanha, as forças francesas invadiram (e destruíram) o império Mameluco que controlava o Egito, apenas para serem rechaçados subsequentemente pelos ingleses.
Apesar do enorme fracasso militar e comercial, a expedição teve a boa-aventura de um grande sucesso: Napoleão incluiu na campanha militar um gigantesco grupo de cientistas e acadêmicos (167 intelectuais) com o explícito mandato de espalhar princípios do Iluminismo (i.e., as sementes do que hoje chamamos de Ciência e Racionalismo) e para realizar investigações e experimentos.
O contato súbito e inicial com as ruínas do passado egípcio imediatamente fascinaram muitos destes intelectuais que, por sua vez, trouxeram esse fascínio para a Europa Continental (e, depois, para a Grã-Bretanha) e estudos, investigações, pilhagens, e comércio de relíquias floresceram durante quase todo o século XIX.
Esse fervor cultural alastrou-se para os Estados Unidos, e um período chamado de “Egitomania” espalhou-se como fogo por toda a cultura Norteamericana durante todo o século XIX, afetando todos os aspectos culturais: literatura, arquitetura, arte, e até a academia.
Entre 1818 e 1822, um dos centenas de escavadores e pilhadores no Egito chamado Antonio Lebolo encontrou várias múmias e papiros, entre outras relíquias, em Tebes, e consequentemente foram removidas para a Europa para comercialização. Onze destas múmias, com vários “livros” de papiro (em rolos), foram parar nas mãos de Michael Chandler na Cidade de Nova Iorque no começo dos anos 1830. Conhecedor do lucrativo mercado gerado pela “Egitomania” nos EUA, Chandler passou a viajar pelo país, expondo e vendendo as relíquias egípcias.
Durante o verão de 1835, Chandler transitou pelo estado de Ohio. Ouvindo rumores dos feitos de Joseph Smith, que teria aprendido a decifrar e traduzir os caracteres da escrita egípcia (até então, feito impossível fora de um restrito círculo de acadêmicos franceses, e largamente desconhecido pelo público em geral). Curioso para averiguar as habilidades de Smith, ou espertamente pronto para lucrar com a óbvia fascinação de Smith com o Egito Antigo, Chandler foi até Kirtland encontrar-se com o Profeta Mórmon.
O encontro foi frutífero para ambas partes. Smith imediatamente anunciou que os papiros eram documentos originalmente escritos, de próprio punho, por Abraão, além de José (bisneto de Abraão), e o terceiro era um conto sobre a Princesa Katumin. Considerando os achados arqueológicos como sagrados, Smith iniciou negociações com Chandler para compra-los deste, e angariando uma pequena fortuna entre amigos e membros (estimados entre 50 e 100 mil dólares atuais), a Igreja adquiriu 4 múmias e 4 papiros (3 rolos ou livros, e 1 hipocéfalo).
Joseph Smith passou a expor as múmias como fazia Chandler, cobrando modestos preços de admissão de curiosos e viajantes, porém mais importantemente, começou o processo de tradução pelo Livro de Abraão, usando Oliver Cowdery e William Phelps como escrivões. Smith montou um caderno de traduções, com decifração dos hieróglifos egípcios e anotações sobre as regras gramaticais e pronuncias, e durante vários meses, produziu o que hoje chamamos de Livro de Abraão. Nem o rolo de José, nem o rolo da Princesa Katumin, foram agraciados com tentativas ou esboços de tradução.
A Igreja publicou o Livro de Abraão em 1842, em forma seriada, no jornal oficial Times and Seasons, incluindo cópias das ilustrações (com explicações por Smith) e do Hipocéfalo (também com explicações de Smith), e subsequentemente no jornal oficial da Igreja na Europa Millennial Star 5 e 6 meses depois. Em 1878, a Igreja publicou o Livro de Abraão completo numa coletânea chamada ‘A Pérola de Grande Valor’, que dois anos depois foi canonizada como Escritura Sagrada no jubileu de 50 anos.
Enquanto isso, os papiros originais (junto com as múmias) haviam permanecido em posse da família Smith, que optou por permanecer em Nauvoo, Illinois, durante a migração para o Oeste. Em 1856, Emma Smith decidiu vender os artefatos egípcios para Abel Combs, que os vendeu para o Museu de Saint Louis. Este museu faliu, e vendeu o grosso de sua coleção para o Museu de Chicago, e este, havendo multiplicidade de peças egípcias, vendeu a coleção Smith para o Museu Wood, também localizado em Chicago.
Em Outubro de 1871, uma conflagração desconhecida iniciou um incêndio que destruiu uma enorme parte da cidade, matando 300 pessoas e deixando mais de 100 mil desabrigados (um terço da população total de Chicago). Entre os prédios afetados, o Museu Wood e, presumidamente com ele, a coleção Smith e os livros de Abraão e José.
Aparentemente, em 1878 Apóstolos Orson Pratt e Joseph F. Smith viajaram por Chicago na tentativa de averiguar a sobrevivência dos papiros após a destruição do Museu Wood, e caso positivo compra-los de volta, mas sem sucesso.
Papiros destruídos pelo fogo. Fim de história.
Fim?
Em 1966, um professor da Universidade de Utah Aziz Atiya estava no Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque fazendo pesquisa para um livro quando, fortuitamente, bateu os olhos num papiro comum com uma ilustração comum. Porém, esta ilustração continha uma alteração nada comum: o papiro estava colado numa folha de papel moderna, e faltando-lhe alguns pedaços no papiro original com falhas na ilustração, desenhos haviam sido completados no papel moderno! Atiya, que não era Mórmon mas que havia morado em Utah por décadas, chocou-se com uma percepção súbita: este era o papiro que Joseph Smith havia usado (e desenhado) para o seu Livro de Abraão!
Angustiado e surpreso com sua descoberta, Atiya vasculhou a pilha de documentos onde este papiro havia sido arquivado e a sorte lhe continuou a sorrir: não só encontrou mais fragmentos de papiros que haviam sido posse de Smith (incluindo as demais ilustrações usadas no Livro de Abraão), Atiya encontrou a carta escrita e assinada por Emma Smith para certificar que estes seriam os papiros usados por Joseph Smith!
Como os papiros foram parar no Museu de Nova Iorque foi, tanto quanto o achado em si, uma história interessante a se destrinchar. Para encurtar uma longa estória, parece que Abel Combs não vendeu *esses* documentos e *estas* múmias para o Museu de Saint Louis (mas outros papiros e outras múmias), e reteve os papiros de Joseph Smith consigo, deixando-os para a enfermeira que cuidou dele em seus últimos meses de vida. A filha (e neto) desse enfermeira venderam os artefatos ao museu em Nova Iorque após anos (décadas) de negociações.
As negociações e comunicações entre Atiya, a Primeira Presidência da Igreja, e os curadores do Museu, também tardaram, mas não duraram pouco mais de um ano, até que no dia 27 de Novembro de 1967 os papiros foram devolvidos para a Igreja.
Durante um pouco mais de um ano de negociações e conversas secretas confidenciais, algumas das Autoridades Gerais expressaram sentimentos de esperança e antecipação. Por exemplo, durante as negociações, N. Eldon Tanner da Primeira Presidência afirmou que a Igreja tinha enorme interesse nos papiros e que pagaria “qualquer preço” por eles.
A própria Primeira Presidência (David McKay, Hugh Brown, Eldon Tanner) escreveu:
Essa coleção é muito significante porque ela cria um elo distinto com a história inicial da Igreja e apoia completamente a asserção feita pelo Profeta Joseph Smith. Esses documentos importantes… serão valorizados e bem cuidados e ajudarão em pesquisas futuras e adicionar evidências à autenticidade da Pérola de Grande Valor.
Milton Hunter cita, ainda, N. Eldon Tanner regozijando que:
…o fato importante é que agora temos parte do manuscrito original do Livro de Abraão e que certamente comprova o fato de que Joseph Smith escreveu o Livro de Abraão de manuscritos em papiros antigos…
Contudo, não foi isso que ocorreu. Tão logo a Igreja recebeu os papiros, convocou acadêmicos e estudiosos (principalmente da BYU) para analisa-los, e o que se percebeu imediatamente e inequivocadamente foi que os documentos de onde Smith “traduziu” o Livro de Abraão simplesmente não dizem nada sobre Abraão, mas sim são textos funerários comuns. Ademais, as ilustrações foram reconstruídas de maneira equivocadas, completamente sem sentido, e os textos das ilustrações não correspondem em nada às descrições oferecidas por Smith.
Junte-se a isso o fato de que por um século críticos haviam previsto as lacunas nas ilustrações (corretamente) e que o alfabeto e o dicionário de Smith não correspondiam ao que acadêmicos haviam aprendido sobre egípcio antigo desde então (corretamente), e a Igreja viu-se na posição desconfortável de um achado histórico que desconfirma, ao invés de confirmar, afirmações históricas sobre o passado fundacional da Igreja. Inclusive, é muito possível que, movidos ainda pelo desdobramento negativo desse evento, as Autoridades Gerais tenham se esforçado tanto para comprar e esconder documentos históricos sensíveis de modo a se exporem excessivamente ao engodo de Mark Hoffman 15 anos depois.
No frigir dos ovos, a recuperação dos papiros não é hoje celebrada oficialmente. Talvez porque os papiros não apoiam a asserção de que Joseph Smith tenha encontrado, fortuitamente, escritos do profeta Abraão e corretamente traduzido-os no livro que hoje se encontra no cânone SUD oficial. Pelo contrário, os papiros demonstram que Smith “traduziu” o Livro de Abraão de um texto funerário 3000 anos mais novo que Abraão, sem quaisquer conhecimentos da língua ou cultura egípcias antiga.
Como lidar com essa constatação segue sendo um desafio para Mórmons modernos, e claramente, para a Igreja SUD. De qualquer modo, 45 anos atrás esta semana foi um marco importante na história, e para o futuro, da Igreja Mórmon.
Bibliografia
Larson, Stan. Quest for the Gold Plates: Thomas Stuart Ferguson’s Archaeological Search for The Book of Mormon. Freethinker Press, 2004.
Peterson, Donl. The Story of the Book of Abraham. Mummies, Manuscripts, and Mormonism. Deseret Book, 1995.
Peterson, Donl. Antonio Lebolo: Excavator of the Book of Abraham, em BYU Studies, 1991.
Rhodes, Michael. The Hor Book of Breathings: A Translation and Commentary, Studies in the Book of Abraham. FARMS, 2002.
Ritner, Robert. The Joseph Smith Egyptian Papyri: A Complete Edition. Signature Books, 2012.
Em 1827, David Cade Miller publicou um livro escrito por Willian Morgan que profundamente impactou o Mormonismo para sempre, e que documentou uma das grandes influências na formação Mórmon para toda posteridade.
William Morgan nasceu no estado da Virginia, em 1774. Através de uma série de revézes da vida, Morgan acabou mudando-se em 1821 para Batavia, no estado de Nova Iorque, a menos de 100 km de Palmyra, junto com sua esposa de 18 anos Lucinda Pendleton Morgan.
Por causa de conflitos pessoais mal documentados, Morgan anunciou no começo de 1826 que havia escrito, e estava prestes a publicar, um livro expositório sobre os rituais Maçônicos iniciais, incluindo os secretos sinais, palavras-chaves, e apertos-de-mão da Maçonaria.
No dia 11 de Setembro de 1826, Morgan foi preso por dívidas em haver, embora discuta-se até hoje se a prisão havia sido legal e/ou justificada. No dia seguinte, um amigo foi até onde estava preso em Canandaigua (a meros 20 km de Palmyra) pagar sua fiança, e tomando uma carruagem, viajaram até o Forte Niagara, a 100 km ao norte de Batavia, onde o rio Niagara desemboca no Lago Ontario, chegando lá no próximo dia. Depois disso, não se tem nenhuma outra notícia confiável sobre o paradeiro de Wiliam Morgan.[1][2][3]
Rápidamente, boatos espalharam-se por todo o estado, e depois para todo o país, que Morgan havia sido sequestrado e assassinado pelos Maçons por causa de seu livro ainda não publicado. Alguns meses depois de seu desaparecimento, David Miller publicou o livro de Morgan com o título ‘Ilustrações da Maçonaria por Membro da Fraternidade que Dedicou Trinto Anos Ao Assunto’. [4][5]
A publicação do livro, explorando a Maçonaria com um tom conspiratório e secretivo, aliado aos rumores de que Morgan havia sido assassinado por Maçons justamente para proteger os segredos maçônicos, rapidamente espalhou notoriedade e infâmia para a Fraternidade, tanto por Nova Iorque, como por todos os EUA. Editoriais em jornais e livros denunciavam a Ordem, e leis e/ou projetos-de-lei anti-maçônicas proliferaram. O livro em si tornou-se um bestseller! E, ainda neste furor, criou-se um movimento formal anti-maçônico, influenciando a política americana pelas próximas décadas, inclusive levando até a formação oficial de um partido político anti-maçônico que conseguiu alguns sucessos nas eleições presidenciais de 1828 e 1832. [6][7][7b]
Joseph Smith iniciou sua carreira religiosa nesse contexto.
Smith encerrou sua carreira de vidente e caçador de tesouros justamente em 1826, e iniciou o projeto do Livro de Mórmon em 1827. Publicado em 1830, ainda no meio do fervor regional e nacional contra a Maçonaria, o Livro de Mórmon apresentou temas anti-maçônicos tão fortes e evidentes que era assim descrito por leitores independentes (i.e., como a Bíblia Anti-Maçônica). [8]
Smith tanto internalizou esse sentimento de repulsa à tradição maçônica que, apesar de seu pai e seus irmãos mais velhos todos pertencerem à Ordem, Smith jamais cogitara juntar-se à ela. Inclusive, dado a proximidade geográfica e a restrições demográficas da Fraternidade, é muito provável que os próprios Smiths conhecessem Morgan, ao menos por reputação. [9]
Não obstante, mais de uma década se passaria até que o legado de Morgan cruzasse eternamente com o de Smith.
Em 1830, a viúva de William Morgan, Lucinda, casou-se com um ourives de Batavia, George Harris, e ambos se converteram ao Mormonismo logo após. Em alguns anos os Harris mudaram-se para a colônia Mórmon no Missouri e em 1838, enquanto Joseph Smith fugia de credores em Ohio, acolheram Smith em seu lar. Neste ano, Lucinda Pendleton Morgan Harris tornou-se a segunda esposa plural de Joseph Smith (para a qual há documentação, e enquanto ainda casada com George Harris), vindo a ser inclusive a primeira mulher a velar o seu corpo após o assassinato de 1844, antes mesmo da própria Emma. [10]
Mas Morgan e Smith não compartilharam apenas da mesma esposa.
Em 1841 Hyrum Smith conseguiu convencer Joseph a se tornar um Maçom, e ele foi iniciado em Março de 1842. Em seguida, em Maio de 1842, Smith estabeleceu as ordenanças do templo que ele chamou coletivamente de “investidura”. Esta “investidura” incluía sinais, rituais, roupas, e apertos-de-mão idênticos — ou quase idênticos — aos que Smith aprendeu na Maçonaria e as semelhanças eram tão marcantes e óbvias que os próprios iniciados (de ambas) notaram-nas imediatamente. [11][12][13]
Neste quesito, William Morgan figura importantemente, não como originador das ordenanças templárias Mórmons pois Smith as recebeu de seus novos irmãos nas lojas de Illinois 16 anos após a suposta morte de Morgan, mas como documentador desta influência. Nenhum SUD que tenha recebido suas ordenanças templárias, especialmente antes das mudanças instituídas em 1990, poderia ler as ilustrações (abaixo) ou as descrições de William Morgan sem reconhece-las dentro dos próprios Templos SUD.
Primeiro Aperto de Mão
P: O que é isto?
R: Um aperto de mão.
P: Qual aperto de mão?
R: O aperto de mão de um Aprendiz Maçom.
P: Tem um nome?
R: Tem sim.
P: Queres da-lo a mim?
Segundo Aperto de Mão
Quarto Aperto de Mão, Aperto de Mão do Mestre, ou Sinal Seguro da Pata de Leão.
Primeiro Sinal e sua Penalidade
Segundo Sinal
Segunda Penalidade
Terceiro Sinal e sua Penalidade
Quarto Sinal
Naturalmente, há muito mais na teologia e mitologia SUD que se pode rastrear da Maçonaria do que apenas as ordenanças do Templo. E certamente há muito nestas ordenanças que são originais a Smith. O que impressiona, contudo, é a clareza com que Morgan documenta a extensão da forte influência maçônica sobre os rituais mais sagrados para o Mormonismo de maneira clara e inequívoca. [14][15]
Notas e Links
[1]
[2]
[3]
[4]
[5]
[6]
[7] Homer, Michael. Similarity of Priesthood in Masonry: The Relationship Between Freemasonry and Mormonism, em ‘Dialogue: A Journal of Mormon Thought’. Vol 27, No 3, 1994.
[8] Bushman, Richard. Joseph Smith and the Beginnings of Mormonism. 1988. University of Illinois Press, pp. 119-125.
[9] Bushman, Richard. Joseph Smith: Rough Stone Rolling. 2005. Alfred A. Knopf, pp. 4494-451.
[10] Compton, Todd. In Sacred Loneliness: The Plural Wives of Joseph Smith. 1997. Signature Books, pp. 43-53.
[11] Kimball, Heber Chase, em carta para Pratt, Parley Parker. 17 Jun 1842. Arquivos SUD.
[12] Johnson, Benjamin. My Life’s Review. 1947. Zion’s Printing and Publishing Co., p. 96.
[13] Journal of Discourses 11:327-28; 18:303
[14]
[15]
Observação importante:
Mórmons consideram seus rituais templários secretos sagrados, e por respeito a esta sensibilidade, abstém-se aqui de publicar fotos comparativas dos sinais, apertos-de-mão, e penalidades (abolidas com as mudanças de 1990), embora eles sejam fartamente disponíveispela internet. Maçons também tratam de seus rituais com sigilo, mas aqui trata-se de um documento histórico e não dos rituais e sinais atuais e utilizados presentemente. Por respeito a esta sensibilidade, tampouco se publica fotos comparativas com rituais atualizados ou presentes nas correntes e escolas mais comuns no Brasil.
Anotem a data: 16 de Dezembro de 2012 é dia das mulheres da Igreja SUD irem às reuniões dominicais vestindo calças!
A campanha ‘Vista Calças Para Sacramental’ foi organizada por um grupo de mulheres SUD ativas que, apesar de valorizar a Igreja em suas vidas, sente-se discriminadas dentro de uma cultura religiosa patriarcal:
Cremos que muito da inigualdade cultural, estrutural, e mesmo doutrinária que persiste na Igreja SUD hoje em dia advém da dependência de — e persistência em — modelos de genêro rígidos que não tem qualquer relação com a realidade.
A opção de vestuária pode parecer uma questão absolutamente trivial e inconsequente, mas infelizmente ela é uma pequena amostra — a proverbial ponta do iceberg — do que é um assunto muito não-trivial e importante.
A Igreja SUD e a cultura Mórmon são, fundamentalmente, machistas.
Dizem que o primeiro passo para se mudar um problema é admitir sua existência.
Algum tempo atrás, num fórum de discussão online para Mórmons, eu mencionei o assunto de poligamia e como essa instituição social impacta negativamente mulheres, quando eu recebi um email com a acusação mais estúpida ridícula que eu já li contra sobre mim: eu sou machista por me opor à poligamia! O raciocínio e a lógica deste jovem SUD chega a ser tão distorcida pela cultura patriarcal onde se insere que, pra ele, é machismo esperar que mulheres tenham os mesmos direitos sociais e culturais que os homens!
Eu imagino que seja muito difícil para a maioria dos Mórmons, especialmente para os homens, compreender o quão machista a cultura Mórmon é, e portanto, gostaria de demonstrar com alguns casos específicos. Eu já sei que alguns reclamarão que os exemplos são apenas anedotas pontuais, como que as exceções à regra. Fosse esse o caso, jamais me ocorreria de acusar (ou de me queixar) dessa atitude machista endêmica, compreendendo que qualquer agremiação de pessoas trará consigo alguns indivíduos que resistem as características básicas do grupo.
Não. Esses exemplos que seguem servem apenas para ilustrar um contexto maior, e ao meu ver, negativo. Ademais, gostaria de levantar uma breve introdução ao contexto histórico e cultural Mórmon para demonstrar, ou ao menos sugerir, que a raíz do problema é, de verdade, institucional e que, possívelmente, só pode ser resolvido institucionalmente.
Nos “Padrões”
Em Fevereiro de 2012, uma aluna da BYU (universidade oficial da Igreja SUD) estudava na biblioteca da faculdade quando recebeu um bilhete de um colega estudante desconhecido. O bilhete continha uma forte reprimenda para a aluna, queixando-se que “[as roupas] que [ela] vestia tinham um efeito negativo nos homens… ao seu redor” e exortava-a a pensar no bem estar emocional e espiritual dos demais alunos Mórmons da BYU. [1]
A jovem aluna Mórmon, além de postar uma foto do bilhete, publicou uma foto de si mesma com as roupas que tanto escandalizaram o jovem estudante Mórmon:
Assim ela não deixa nada para a imaginação!
Vamos ignorar aqui a completa falta de educação de uma pessoa se julgar na “autoridade” de comentar, gratuitamente, sobre a espiritualidade de outra. Ou de um homem criticar a roupa de uma mulher desconhecida. Duas coisas chamam a atenção imediata nesse episódio: 1) O jovem estudante acredita que é responsabilidade da jovem aluna, baseado em como se veste, os sentimentos que afloram nele — e em demais homens; 2) O jovem estudante acredita que a qualidade pessoal (espiritual, emocional, etc.) da jovem aluna esta intrinsicamente ligada às roupas que ela veste.
Goste ou não do rótulo, o jovem SUD exibiu uma atitude indubitavelmente machista. À mulher não cabe a responsabilidade sobre os sentimentos ou pensamentos de um homem; à ele recai tal responsabilidade, e imputa-la às mulheres é impor-lhes um fardo absurdo e injusto. Igualmente, o caráter de uma mulher não depende de suas roupas, assim como a qualidade de um livro não depende de sua capa.
Contudo, o mais preocupante nessa postura é a objetificação da mulher, que leva a modular como se trata uma pessoa baseado em seus atributos físicos, sua aparência, seu corpo.
Certamente, essa atitude problemática não é exclusividade Mórmon. Há algum tempo atrás, a Secretária de Estado Hillary Clinton — a segunda pessoa com maior autoridade no alto escalão da diplomacia Norte-Americana, atrás apenas do Presidente dos Estados Unidos — se irritou durante uma entrevista no Quirguistão, quando questionada sobre suas preferências de roupas, e retrucou:
Você teria me feito essa mesma pergunta se eu fosse um homem? [2]
E essa é justamente a melhor ferramenta para se determinar se uma atitude é machista ou não: ela teria sido tomada da mesma maneira caso a outra pessoa fosse um homem, ao invés de uma mulher?
Em Maio de 2012, uma mãe de Tooele, Utah, recebeu uma ligação da administração da escola avisando-a para vir buscar sua filha de 14 anos, que havia sido suspensa por “estar vestida de maneira inapropriada para um ambiente escolar”. Ela havia sido suspensa pelo diretor da escola por estar “indecente”. [3]
Contudo, a mãe coincidentemente portava uma câmera digital e registrou o vestuário da filha ainda na escola:
Se lá em casa as roupas fossem todas assim, acabariam-se todos os dramas!
Novamente, um diretor escolar (supostamente Mórmon) enxergou uma jovem (neste caso, uma aluna menor de idade) apenas por seus atributos físicos — um metafórico pedaço de carne — e esta lente simplesmente deturpou sua visão dela como Ser Humano de tal maneira a lhe “autorizar” a humilha-la publicamente de maneira completamente desproporcional, desmedida, e irracional.
Contudo, a objetificação da Mulher não é restrito apenas a homens, da mesma maneira que machismo não é domínio exclusivo deles.
Há alguns meses atrás, circularam-se fotos pela internet de “dicas” para bonecas Barbie® que, para incentivar modéstia e decência em meninas, estariam pintadas para “cobrir sua nudez” com marcações curiosamente similares aos da Investidura (i.e., Garments)! [4]
Será que vão lançar essa versão da boneca nas lojas da Deseret?
A sexualização precoce de crianças é, sem sombras de dúvida, um problema, tanto cultural para a sociedade em geral, como psicológica para cada menina individualmente. Danças com passinhos eróticos ou programas de novela e televisão com temas sexuais ou adultos podem causar distorções de comportamento e problemas para uma vida inteira quando gravadas em mentes jovens e permeáveis. Não obstante, a obsessão com o tema de sexualidade para crianças e pré-adolescentes, mesmo que para “indoutrina-las” para o oposto, é igualmente danoso e pelos mesmos motivos: encurta-se um período infantil de desenvolvimento neuro-psico-cognitivo para saltar para outro período, sem as ferramentas psico-emocionais adequadas.
A objetificação da Mulher, focando acima de tudo na sua aparência física, seja por homens colegas, homens líderes, ou mesmo mulheres adultas em posição de liderança (i.e., mães, professoras, etc.) despersonaliza a Mulher, e a expõe e relega a situação inferiorizada na sociedade. Mulheres são muito mais que apenas as roupas que vestem ou como as vestem, e devem ser valorizadas baseado no conjunto agregado de suas personalidades, seus valores pessoais, suas inteligências e habilidades, e nas suas capacidades como seres humanos.
Nos “Padrões” Institucionais
O problema da objetificação da Mulher não é nem recente, nem incomum, e ele é reforçado e incentivado pela complacência institucional.
No ano passado, um docente da BYU começou a proibir alunas de fazer provas se estivessem vestindo jeans de um corte específico (o tipo skinny). No mesmo ano, uma estória infantil inteiramente bizarra publicada na revista oficial da Igreja ‘Friend’, e ainda disponível do site oficial da Igreja, lauda uma mãe que ensina a uma menina de 4 anos que um vestidinho sem mangas é “imoral”. Recentemente, uma colunista para o jornal oficial da Igreja ‘Deseret News’ opinou que o ideal para mulheres é casar-se cedo e entupir sua casa de filhos com o argumento absurdo de que o mundo “apresenta escolhas demais” e, ao casar-se e ter filhos, a mulher “limita suas escolhas” de vida e isso é bom porque, com menos opções, ela terá menos “ansiedade… altas expectativas… e depressão”. E, não contente em indoutrinar as jovens e as mulheres de que elas sejam culpadas e responsáveis pelos impulsos sexuais dos homens, a revista oficial da Igreja ‘Ensign’ chega a extremos de dessacrar pinturas clássicas para reforçar esta mentalidade.
Ao menos a Dona Cecília Gimenez fez sucesso mundial e aumentou a arrecadação financeira da igreja dela!
Mas nada se compara às expressões proferidas dos púlpitos máximos do Mormonismo. Em plena Conferência Geral, a Presidente Geral da Sociedade de Socorro Julie Beck deu um discurso tão machista (reforçando esteriótipos de que uma boa mulher é aquela que casa-se, limpa a casa, e tem muitos filhos) que desencadeou uma onda de protestos de várias mulheres (e homens) SUD. Na década de 1970, um dos Bispos Presidentes Vaughn Featherstone defendeu em Conferência Geral um Bispo que, como conselho espiritual para uma adolescente cheia de problemas psicológicos e de auto-estima (lembrando: tratava-se de uma adolescente!), ofereceu esta pérola: “você esta gorda demais, e precisa perder peso!” [5][6][7][8][9][10]
Para mim, pessoalmente, a atitude se ilustra perfeitamente em um evento específico da minha vida. Em 14 de Novembro de 1996, eu tomei um ônibus junto com toda a minha Ala e viajamos 2 horas para ouvir o Presidente da Igreja Gordon Hinckley no Estádio Cícero Pompeu de Toledo. Com uma audiência de dezenas de milhares de membros, muitos dos quais viajaram horas, como nós, para vê-lo, Hinckley admoestou os Brasileiros sobre como viver uma vida Cristã plena. Entre os seus conselhos, uma mensagem clara para as mulheres: casem-se cedo, tenham filhos cedo, abandonem quaisquer carreiras profissionais e dediquem-se à carreira de dona-de-casa.
Na viagem de volta, tive uma conversa longa com uma de minhas melhores amigas na época sobre justamente isso. Ironicamente, ela não se dava conta do quanto ela era o exemplo de vida real perfeito de que Hinckley estava errado. Jovem e com dois filhos pequenos, ela era muito mais inteligente, capaz, e determinada que seu marido, mas viviam sempre com problemas financeiros porque ela não “podia” ter uma carreira e “devia” ter mais filhos, mais cedo do que eram financeiramente capazes de suportar.
Contexto Histórico
A história do Mormonismo é, inteiramente, escrita sobre um patriarcado machista. Com raras exceções, os grandes eventos, as grande decisões, e os grandes personagens do Mormonismo involvem exclusivamente homens.
Pode-se dizer o mesmo da história do mundo. Até o século XX, a humanidade havia sido, via de regra, dominada por homens que subjulgavam as mulheres. De modo geral, a tradição judaica tratava mulheres como propriedade e pessoas de valor secundário (ver Bíblia Hebraica ou “Velho Testamento” inteira), e a tradição Cristã tratava mulheres como subordinadas e menos relevantes (I Co 11:3-5, Ef 5:22, I Tm 2:5-14, II Tm 2:8-15). O mundo Ocidental do século XIX, onde o Mormonismo nasceu, havia progredido pouco, e portanto ele encaixava-se dentro de seu contexto cultural fiel e normalmente (resquícios misóginos persistem no Cristianismo até hoje). [11]
Não obstante, a Igreja passou a distanciar-se do resto da sociedade autóctona. Joseph Smith introduziu poligamia, visto como uma prática barbárica por quase todo o mundo Cristão e, junto com poligamia, vieram todos os problemas sócio-culturais comuns para comunidades poligâmicas: pobreza, isolacionismo, solidão, violência, dependência, e abusos. [12]
Alguns apologistas ignorantemente apontam o pioneirismo do sufrágio feminino (i.e., legalizar o direito a votar para mulheres) em Utah como sinal do quanto a Igreja era “progressista” e não machista. Nada poderia estar mais longe da verdade. Nesta época de intensas batalhas legais para criminalizar a poligamia, Anti-Mórmons pressionavam pelo sufrágio feminino em Utah na esperança de que as mulheres, oprimidas, passariam a se defender eleitoralmente do julgo patriarcal. A Igreja (ou melhor, os líderes homens da Igreja), por sua vez, desesperada para conseguir a legalização — ou impedir a criminalização — da poligamia, enxergou no sufrágio feminino uma oportunidade para passar uma imagem nacional diferente daquela retrógrada e bárbarie enraízada no inconsciente público. [13]
Abandonando a poligamia em 1904, a Igreja passou a gozar novamente de uma posição “normal” relativo a sociedade em geral no que diz respeito ao tratamento de mulheres, especialmente com os sucessos dos movimentos para sufrágio feminino no início do século XX. Contudo, essa harmonia começou a erodir com a migração das mulheres para o mercado de trabalho com os adventos da II Guerra Mundial (1939-1945) e a Segunda Onda Feminista (1960-1980) e a insistência da Igreja em proibir o uso de contraceptivos e desencorajar a profissionalização das mulheres. Novamente, a Igreja encontrava-se na posição desconfortável de se ver tratando suas mulheres de maneira menos justa, menos equânime, e menos iluminada que a sociedade autóctona.
A situação piorou muito, antes de melhorar! Em 1972, no meio do furor da Segunda Onda Feminista, o Congresso Americano passou uma Emenda Constitucional simples, mas poderosa:
Igualdade de Direitos, sob a Lei, jamais será negada ou limitada pelos Estados Unidos, ou por qualquer Estado, por base do sexo.
Uma frase que poderia, deveria, para sempre proibir a discriminação contra mulheres. Para ratificar uma emenda constitucional nos EUA, necessita-se aprovação por 38 dos 50 estados, e até 1979, data-limite, apenas 35 haviam ratificado. O Congresso Federal mobilizou-se e extendeu a data limite para 1982, e eis que a Igreja entra em ação, e mobilizando centenas (milhares?) de membros-voluntários e dezenas (centenas) de milhares de dólares para derrotar a emenda constitucional que proibiria a discriminação de mulheres. [14][15][16][17][18]
Durante as décadas de 1980 e 1990, a Igreja entrincheirou-se mais ainda contra o que ela (novamente, falamos da liderança masculina) percebia como “os males do avanço do mundo moderno” e a “desintegração da família”. Após enorme pressão, tanto externa como interna, a Igreja mudou na década de 1970 sua política sobre o uso de contraceptivos, e até alterou o desenho dos Garments sagrados para um corte mais “feminino”. Mas esta concessões apenas reforçam a intensidade quanto ao foco redobrado na insistência da não profissionalização das mulheres (com aumento nos temas “donas de casa” e “rainhas do lar”), na obsessão quase maníaca em “padrões” de vestuário e rídiculas regras sobre até quantos brincos se pode ter. [19][20][21][22]
A Igreja passou, então, a vigiar e excomungar acadêmicos que exploravam temas feministas e teológicos, em especial discussões sobre a Mãe Celestial, chegando um Apóstolo a enumerar Feministas como um dos três grandes adversários da Igreja. [23][24][25][26][27]
Desde sua fundação, a Igreja SUD é controlada e gerida por uma liderança exclusivamente masculina, diferentemente do movimento Cristão no primeiro século EC (i.e., “igreja primitiva”) que contava com Apóstolas e Diáconas e Profetisas. Até hoje, nenhuma mulher exerce função de liderança na Igreja, e as parsas posições administrativas (i.e., nas auxiliares) não gozam de independência gerencial ou financeira. [28][29][30]
Para o Futuro
Não obstante todos os problemas, há (discretos) sinais de melhoras. Há pouco mais de três décadas, mulheres voltaram a discursar em Conferências Gerais e a poder orar e discursar em reuniões sacramentais. Como mencionado acima, houve mudanças na liberação do uso de contraceptivos e no corte das roupas íntimas obrigatórias para mulheres. Talvez mais importantemente, em 1990 o ritual do Templo — sacramento máximo da Igreja SUD — foi alterado e o juramento de “ser submissa ao seu marido em todas as coisas” foi substituído por um juramento mais suave, brando, e menos imperial (embora ainda machista). [31][32][33]
Enquanto isso, o mundo avança também e, felizmente, mais rápido e mais progressista que a Igreja.
Outra igreja Mórmon, a Comunidade de Cristo, passou a ordenar mulheres ao Sacerdócio em 1984, contando com Apóstolas e até uma Conselheira na Primeira Presidência. [34]
Felizmente, campanhas mundiais demandando respeito a mulheres vem se proliferando no nosso mundo interconectado pela internet. No Canada, por exemplo, campanhas de conscientização contra estupro voltadas para homens, ao invés de focar no comportamento das mulheres, demonstra avanço no pensamento de que a responsabilidade repouso sobre o estuprador, e não a vítima! No Brasil, o movimento ainda é nascente, mas promete crescimento — e conscientização. Nos Estados Unidos, apesar da morte da Emenda Constitucional, a Lei Lilly Ledbetter assinada pelo Presidente Barack Obama (com oposição do mentiroso profissionalcandidato Mórmon Mitt Romney) proíbe discriminação financeira contra mulheres. No Brasil, lei similar é discutida no Congresso Nacional. [35][36][37][38][39]
De modo geral, a sociedade Ocidental caminha avante (a passos lentos) para maior igualdade entre os gêneros, e a Igreja também caminha (a passos muito mais lentos), embora sempre dependendo de pressão externa, e mais importantemente, interna. Nenhuma das mudanças mencionadas acima ocorreu sem forte persistência e pressão das mulheres SUD sobre os líderes homens, e talvez parte da letargia entre os homens venha da falta de pressão (interesse? foco? conhecimento?) por parte das mulheres Mórmons.
Vestindo Calças
A campanha ‘Vista Calças Para Sacramental’ já esta causando comoção e controvérsia, o que é excelente para iniciar-se um diálogo sobre um problema que, usualmente, passa desapercebido por muita gente, especialmente por homens. [40][41][42]
A campanha não é sobre que roupas mulheres podem vestir aos Domingos, mas sim sobre o fato de que essa decisão deve ser exclusividade delas, e de cada uma delas. A campanha também é sobre o quanto o corpo delas é de propriedade exclusiva delas, e de como nós homens pensamos nelas é de responsabilidade exclusiva nossa. E, finalmente, a campanha é sobre quão importante as mulheres são para a Igreja, e não apenas como mães e esposas, mas como suas opiniões, suas habilidades, e sua liderança podem e devem ser valorizadas — inclusive com Sacerdócio e lideranças (OK, essa última interpretação é minha, e não das organizadoras da campanha).
Homens também podem participar da campanha desse próximo Domingo:
… vestindo uma camisa, ou gratava, ou meias, ou mesmo um laço, na cor roxa, sendo roxo a cor históricamente associado com o movimento para o sufrágio [de mulheres].
Pessoalmente, eu recomendaria manter posições públicas clara a favor da ordenação da mulheres ao Sacerdócio e o fim da objetificação do corpo feminino, e afins, mas por enquanto, roupas roxas seriam um bom começo.
Henry Eyring tenta ler o extrato bancário de Thomas Monson. Ele também quer saber…
Quanto Ganha um Apóstolo Mórmon?
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Santos dos Últimos Dias se orgulha de depender de um clero exclusivamente voluntário, não profissional e não remunerado.
Embora isso seja verdade em âmbito local e regional, onde as funções eclesiásticas são preenchidas por líderes voluntários, a estrutura administrativa da Igreja depende de um exército de profissionais e a liderança máxima da Igreja constitui claramente um clero remunerado.
Pergunte a qualquer Mórmon (i.e., SUD ou membro da Igreja), e ele invariavelmente rechaçará a afirmação de que o clero máximo da Igreja seja profissional e remunerado porque eles recebem apenas uma “ajuda de custo” para manter-se (afinal, ninguém se mantém com apenas 5 pães e 2 peixes por um ano inteiro). E este Mórmon não estaria errado, visto que essa é a posição oficial da Igreja, que afirma não pagar salários a seus líderes religiosos mas apenas “ajudas de custo”.
Será, contudo, essa afirmação uma explicação realmente adequada? Em realidade, quanto recebe da Igreja o Presidente da Igreja? Os Conselheiros da Primeira Presidência? Os Apóstolos? Os Setenta nas Presidência dos Setenta? Os Setenta do Primeiro Quórum?
Por enquanto, eu acredito que seja impossível de responder essas perguntas porque a Igreja não divulga essa informação, nem nenhuma informação da qual se poderia estimar os salários as ajudas de custo. Estes dados financeiros são secretos sagrados!
Não obstante, eu recebi recentemente uma peça de informação que pode ajudar a oferecer um insight, ou uma percepção, mais apropriada de como a Igreja aborda essas questões.
Vazou recentemente para o público um manual oficial da Igreja que é secreto sagrado: o Manual Para Presidentes de Missão (edição 2006)! [1]
Neste manual, o apêndice B lida com questões financeiras, e elucida como a Igreja cuida dos vários presidentes de missão espalhados pelo mundo.
Missionários Mórmons voluntários são sustentados pelas próprias famílias ou congregações. Já seus presidentes…
Para quem não esta familiarizado, a Igreja mantém um sistema voluntário de missionários jovens que viajam para diferentes partes do mundo e realizam proselitismo por 2 anos. Estes jovens não recebem salários e devem pagar do próprio bolso pelos custos de seu serviço missionário, embora as comunidades locais podem ajudar a financiar os jovens que não possuem tais recursos.
Para cada grupo de 180-240 jovens, um adulto é convocado para lidera-los por 3 anos, chamado de Presidente de Missão. Teoricamente, este também é um serviço voluntário e não assalariado.
Contudo, o manual oficial da Igreja para esses presidentes de Missão estabelece que, apesar da Igreja não lhes pagar salários, e de esperar que eles se mantenham com seus próprios fundos, ela oferece algumas “ajudas de custo”.
Por exemplo, a Igreja oferece reembolso total para as seguintes despesas familiares do Presidente de Missão, enquanto serve voluntariamente sem salários por 3 anos:
Convênio Médico e Odontológico para toda a família, além da quaisquer custos médicos adicionais necessários (exceto cirurgia cosmética);
Aluguel;
Contas de luz, telefone, internet, gás, lavanderia e supermercado;
Um carro oficial para o Presidente, com combustível e manutenção;
Um carro extra-oficial para a esposa do Presidente, com combustível e manutenção;
Roupas para a família;
“Atividades familiares” (não especificado o que possa excluir dessa categoria);
Contas de telefone de longa distância (para familiares que não vieram para a missão);
Passagens de ida e volta para filhos com menos de 26 anos, que não vieram para missão mas desejam visitar seus pais;
Presentes “modestos” de Natal e aniversários para familiares;
Custos para filhos servindo missão de tempo integral;
Escola para filhos em idade escolar (5-18 anos) incluindo materiais escolares, uniformes, transporte escolar, matrículas, etc.;
Atividades extra-curriculares para filhos em idade escolar, como aulas de música, esportes, balé, etc.;
Faculdade para filhos em cursos de graduação, com o limite determinado pelos preços (maiores?) da BYU, com opção de bolsa integral para a BYU;
Empregada doméstica (20 horas/semana);
Jardineiro, se necessário;
Isenção de impostos e isenção de Dízimo.
Será que a Igreja reembolsa calças para as mulheres, ou apenas saias?
Técnicamente, nada disso constitui um salário. Nenhum dinheiro excedente resulta dessa “ajuda de custo”, nada disso é contribuível para um fundo de aposentadoria, nada disso é tributável como imposto de renda, e nenhum valor pode ser economizado para o futuro ou investido para ganhos.
Não obstante, tampouco se pode afirmar que os custos da Igreja não sejam consideráveis, ou que isso representa muito mais do que qualquer salário ganho pela maioria dos membros da Igreja. Posto d’outra maneira, eu conheço poucos membros da Igreja que não trocariam seus salários por essas “ajudas de custos”.
Outro dado interessante do manual é a preocupação com evitar impostos e evitar divulgação das finanças da Igreja:
Para evitar que se levantem questões desnecessárias sobre impostos, por favor siga estas instruções cuidadosamente: 1) Nunca compartilhe informações sobre os fundos que você recebe da Igreja com seus contadores ou brokers… 2) Nunca sugira, de qualquer modo, que você é remunerado por seus serviços [à Igreja], 3) Caso seja obrigado a preencher informações de Imposto de Renda, jamais mencione quaisquer valores recebidos da Igreja…
Além disso, a natureza secreta sagrada destes fundos é reforçada de maneira inequivoca:
Os valores dos reembolsos devem ser mantidos em confidência estrita, e nunca discutidos com missionários, outros presidentes de missão, amigos ou familiares.
Autoridades Gerais
Tal e qual os Presidentes de Missão, as Autoridades Gerais tampouco recebem salários propriamente ditos. Porém, diferentemente daqueles, estes tem um chamado vitalício e continuam recebendo tais “ajudas de custos” pro resto da vida.
Além disso, sabemos que os Apóstolos recebem remunerações por servir em Conselhos Diretores das inúmeras empresas de fins lucrativos da Igreja, como a Deseret Management Corp. (receitas anuais de USD 1,2 bilhões), a AgReserves, a Hawaii Reserves, a Polynesian Cultural Center (receita de USD 59 milhões para 2010, e cujo presidente recebe salário de USD 300.000 anuais), a Ensign Peak Advisors (empresa de fundo de investimentos que movimenta bilhões de dólares ao ano), a Beneficial Life Insurance (empresa de seguros de vida com mais de USD 3 bilhões em fundos), a Intellectual Reserve, a Deseret Trust Co., etc. [2][3]
Estrutura Organizacional da Corporação do Presidente da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Fonte: Businessweek)
Todas estas empresas multi-bilionárias ficam sob o controle imediato da Corporação do Presidente da Igreja, que por sua parte distribui controle destas para os demais Apóstolos e Bispos Presidentes, e ações e participações destas para as demais Autoridades Gerais. Grande parte, se não quase totalidade, das finanças, lucros, solvências, investimentos, e pagamentos destas empresas não estão abertas ao escrutínio público por decisão deliberada da Igreja (i.e., do Presidente da Igreja), então conhecimento preciso destes dados financeiros é praticamente impossível. Estimativas baseadas em alguns poucos fatores conhecidos (propriedade e localização de terras, imobiliário, volume de transações e vendas/acquisições, etc.) podem ser comparados com empresas similares cujas finanças são transparentes, e suposições lógicas são calculadas.
Milionário Mitt Romney usa a Igreja para burlar o Fisco e acaba pagando mais em Dízimo para a Igreja do que em impostos de renda ao Governo…
Pelas leis Americanas, de acordo com o Antropólogo SUD e ex-funcionário corporativo da Igreja Daymon Smith, a Igreja pode investir os recursos religiosos (i.e., Dízimos e ofertas) em suas empresas de fins lucrativos, girar o dinheiro entre eles e outros porfólios com grandes lucros, e retorna-lo aos fundos da Igreja, que por si são isentos de impostos por tratar-se de fundos religiosos. Além disso, a Igreja recebe como doações ações de empresas como oferendas (i.e., Dízimos e ofertas) que podem ser vendidas e assim tanto ela como os doadores evitam impostos. (Mitt Romney famosamente montou um esquema desses para evitar impostos!) [4][5]
Assim sendo, a Igreja pode pagar “apenas ajudas de custos” a seus líderes religiosos, que, por não se tratar de salários, são isentos de impostos, mas paga-los através de bonus para Conselheiros Diretores e ações de corporações privadas da Igreja, e ainda longe do escrutínio público por se tratar de empresas fechadas. A própria Igreja não abre seus livros de contabilidade ao público há quase 50 anos, o que dificulta uma análise precisa, e ademais, o historiador Mórmon Michael Quinn estima que a compartimentalização de corporações e unidades admnistrativas da Igreja seja tão enorme e tão burocrática, que é possível que ninguém saiba exatamente quanto cada um (além de si mesmo) recebe das múltiplas organizações da Igreja. [6][7][8][9][10][11]
Em 2009, a Igreja SUD no Canada declarou ao governo Canadense 184 funcionários de tempo integral, cujos salários médios era de $83 mil anuais, sendo 2 deles entre 80 e 120 mil, 6 deles entre 120 e 160 mil, e 2 deles entre 160 e 200 mil. Considerando tais salários muito acima da média nacional ($50 mil para administradores), além da “ajuda de custos” generosa oferecida para presidentes de missão (como vimos acima), estas remunerações podem girar entre USD 300 e 800 mil ao ano, talvez muito mais nos escalões mais altos (i.e., Primeira Presidência). [12][13][14][15]
Contudo, devido a extrema importância dada ao sigilo sobre finanças na Igreja, estas estimativas só podem ser, por natureza, especulativas. Os poucos dados que temos nos oferecem uma noção geral, mas não são dados concretos. Alguém possui dados concretos para compartilhar conosco e para ajudar-nos a elucidar esta questão?
O que teria Joseph Smith a dizer a respeito de supersticão?
E bebedeiras? E pecados? E como levar uma vida santificada?
O que teria Joseph Smith a dizer sobre caridade e salvação dos pecados?
Não é incomum Mórmons na atualidade, seja em qual igreja que for, atribuir a Joseph Smith os ideais filosóficos que eles mantém hoje em dia. Isso, é claro, anacronístico e pode não correlacionar exatamente com o que ele disse e acreditava.
Leiamos, então, uma breve citação, tirada de seu própria diário, sobre esses temas e ponderemos não o que acreditam os Mórmons hoje sobre eles, mas o que estava dizendo o próprio Joseph Smith, no que acreditava ele, no que ele estava tentando passar adiante.
Joseph Smith (História da Igreja, Vol. 4, p.445-446):
O Élder William O. Clark pregou quase duas horas, reprovando os Santos por sua falta de santidade, por suas falhas no viver santificado, [por falta] de solenidade e temperância extrema, e [por falta] de um estilo sectário rígido. Eu o reprovei como Fariseu e hipócrita e por não edificar o povo; eu mostrei aos Santos o que temperância, fé, virtude, caridade, e verdade são. Eu ordenei aos Santos não seguir o exemplo do adversário em acusar os irmãos, e disse: “Se vocês não se acusarem uns aos outros, Deus não lhes acusará. Se você não tiver um acusador, você entrará no Céu, e seu você seguir as revelações e as instruções que Deus lhes deu através de mim, eu lhes carregarei ao Céu como meu fardo pessoal. Se vocês não me acusarem, eu não acusarei vocês. Se vocês jogarem uma capa de caridade sobre mim, eu o farei por vocês — pois caridade cobre uma multidão de pecados. O que muitas pessoas chamam de pecado não é pecado; eu faço muitas coisas para quebrar tais superstições, e eu as quebrarei;” e ainda fiz referência à maldição de Caim por zombar de Noé, enquanto bêbado mas sem fazer nenhum mal. Noé fora um homem justo, mas ele bebeu do vinho e ficou bêbado; o Senhor não o condenou por isso, pois manteve todo o seu poder no Sacerdócio, e quando foi acusado por Canãa, ele o amaldiçoou pelo Sacerdócio que possuía, e o Senhor respeitou a sua palavra e o seu Sacerdócio, mesmo que estivera bêbado, e essa maldição permanece sobre a posteridade de Canãa até os dias de hoje.
Para os que não moram em São Paulo e/ou não poderão comparecer pessoalmente à nossa quarta conferência anual de estudos Mórmons, neste sábado, estamos transmitindo ao vivo aqui:
A doutrina mórmon fala da existência de diversas terras. É Cristo o salvador de todas elas? Muitos líderes sud atuais dirão que sim. Como veremos na citação a seguir, de Brigham Young, o rico debate metafísico entre os mórmons do séc. XIX suportava a ideia de que cada terra tinha seu próprio Ungido.
Conseqüentemente, cada terra tem seu redentor; e cada terra tem seu tentador; e em cada terra seu povo, por sua vez, recebe tudo o que recebemos e passa por todas as provas pelas quais estamos passando. (Journal of Discourses 14:71-72, 10 de julho de 1870)
Como essa opinião seria interpretada hoje na moderna Igreja sud? Seria uma opinião aceitável? Ou seria considerada uma “apostasia”?
(Templo Mórmon, ressalte-se, com batismos pelos mortos e ordenanças de investiduras, e unção, e ablação, etc. Não imagino que ele estivesse comentando as obras de renovação do Maracanã!)
Quando eu era criança (e adolescente), era comum na minha ala (e estaca) ouvir estórias (e testemunhos) de que Spencer Kimball havia dito que o Rio de Janeiro era uma cidade tão iníqua que jamais teria um templo (como o recém construído Templo de São Paulo).
Aparentemente, a cidade esta bem melhor hoje que há 30 anos atrás!
Dizia-se, também, que Kimball havia profetizado que, na Segunda Vinda, a cidade seria submergida pelo oceano até a topo da cabeça da estátua do Cristo Redentor. Bom, do jeito que estamos agindo responsávelmente para com o Meio Ambiente, e levando o Aquecimento Global, bem podemos chegar nisso…
Será que o novo templo no Rio de Janeiro estará pronto para as Olimpíadas em 2016?
Será que o novo templo será oficialmente chamado Marvelous City Brazil Temple?
E, por favor, alguém do Rio de Janeiro tem alguma idéia de onde será construído???
UPDATE: Baseado na dica fornecida pelo David, descobrimos o endereço do novo Templo Cidade Maravilhosa Brasil! Ele ficará situado meros minutos da Cidade do Rock (Rock in Rio) e do Projac (Hollywood Brasileira):
Há uma nova peça de informação, ainda de uma fonte anônima (porém muito boa), que dá uma nova dimensão à pergunta recém discutida neste fórum: quanto ganha financeiramente um Apóstolo de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Santos dos Últimos Dias?
Apesar da Igreja se orgulhar de depender de um clero exclusivamente voluntário, não profissional e não remunerado em âmbito local e regional, onde as funções eclesiásticas são preenchidas por líderes voluntários, a estrutura administrativa da Igreja depende de um exército de profissionais e a liderança máxima da Igreja constitui claramente um clero remunerado.
No ano passado, um membro do Primeiro Quórum de Setenta havia confidencializado ao historiador e ex-diretor do Sistema Educacional da Igreja Grant Palmer que, entre outras coisas, um Apóstolo recebe, ao ser chamado para o Quórum dos Doze, uma soma de USD 1 milhão para quitar quaisquer dívidas ou pendências em sua vida pessoal, sem amarras.
Rumores dessas confidências começaram a correr à boca pequena e, por sorte, eu tenho 3 amigos pessoais com quem converso semanalmente, que são também amigos pessoais de Palmer. Consegui, através deles, não apenas confirmar a maioria dos rumores (incluindo esse valor), mas também descobrir a identidade desta Autoridade Geral. Não obstante, Palmer insistiu (e ainda insiste) em respeitar a anonimidade oficial deste líder eclesiástico, bem como de suas confissões pessoais, e portanto senti-me constrangido de publicar tais informações neste site.
Contudo, os rumores persistiram, e alguns ganharam novas (e fictícias) dimensões, como ocorrem frequentemente com rumores, chegando a ponto tal que o próprio Palmer decidiu estabelecer os parâmetros reais das conversas publicamente. Uma vez estabelecida publicamente, e determinado diretamente que se tratava de informação originada nele, sinto-me livre para divulgar aqui esta informação.
Existe ainda, obviamente, um caveat lector: esta informação lhe foi passada por este Setenta sob condição de anonimidade, e ocorreu numa situação informal sem apresentação de documentos financeiros ou legais. Há vários aspectos desta história, tanto publicadas como as que me foram passadas em privado, que sugerem que a fonte é real e bem informada, além de confiável. Palmer, nos holofotes do escrutínio público há quase uma década, sempre demonstrou-se honesto e comedido, qualificando e embasando suas colocações honesta e abertamente.
O Setenta em questão apresenta, como qualquer pessoa, seu viés pessoal e eu não pretendo discutir aqui as suas especulações e impressões pessoais. Basta-me, no presente, discorrer sobre o valor monetário oferecido como bonus para o chamado apostólico.
A natureza do reino ao qual estamos associados é disseminar conhecimento através de todas as fileiras do povo, e fazer de cada homem um profeta e cada mulher uma profetisa, para que possam compreender os planos e propósitos de Deus. (George Q. Cannon, Journal of Discourses 12:46)
Eliza R. Snow (1804-1887), chamada por Joseph Smith de “a poetisa de Sião”, é uma das mulheres mais reverenciadas da história mórmon. Eliza foi autora de diversos poemas e hinos, além de escrever também textos sobre questões doutrinárias e o papel da mulher na sociedade.
Um dos hinos mais conhecidos de sua autoria, Ó Meu Pai, constitui a única referência explícita à doutrina da Mãe Celestial amplamente difundida pela Igreja
Com a organização da Sociedade Feminina de Socorro em março de 1842, Eliza foi convidada a redigir os estatutos da nova Sociedade e assumiu a função de secretária. Em junho daquele ano, ela foi selada a Joseph Smith como sua esposa plural, vivendo durante seis meses na casa dos Smith.
Após a migração ao oeste, Eliza sucedeu Emma Smith na presidência da Sociedade de Socorro. Sua posição na Sociedade de Socorro, seu vasto conhecimento e sensibilidade fizeram com que Eliza fosse não só reconhecida como uma poetisa, mas também como profetisa. Um periódico feminino da Igreja afirmou que Eliza era a presidente ”de toda a porção feminina da raça humana” e “principal sacerdotisa desta dispensação”.[1]
Dotada de grandes talentos literários, Eliza trabalhou com Edward Tullidge na preparação do livroWomen of Mormondom, hoje um clássico. É desse livro que tiramos a seguinte citação sobre a relação da mulher com o sacerdócio:
As irmãs era também apostólicas num sentido sacerdotal. Elas partilhavam do sacerdócio em igualdade com os homens. Elas também “possuíam as chaves da ministração de anjos” (…) A mulher também em breve se torna sumo-sacerdotisa e Profetisa. Ela o era oficialmente. ( …) O espírito de um sacerdócio patriarcal naturalmente fez dela uma adjuntora apostólica para o homem.Se não a víssemos no púlpito ensinando a congregação, ela estava no templo, administrando para vivos e mortos! Mesmo nos santos dos santos ela era encontrada. Como uma sumo-sacerdotisa, ela abençoava com a imposição de mãos! Como uma profetiza, ela era um oráculo em lugares santos! Como uma administradora da investidura, ele era uma maçom, da ordem hebraica, cujo Grão-Mestre é o Deus de Israel e aquele que a unge é o Espírito Santo. Ela possuía as chaves da ministração de anjos e dos “selamentos”pertencentes aos “céus e à terra. (p. 22-23)
Nota
1. Woman’s Exponent 9, 01 de abril de 1881, p. 165.